BREVE INSTRUCÇAÓ, PARA ENSINAR A
DOUTRINA CHRISTÁA, LER, E ESCREVER AOS MENINOS; E AO MESMO TEMPO OS PRINCIPIOS
DA LINGOA PORTUGUEZA, E SUA ORTHOGRAFIA.
Documento transcrito e analisado
pela Profa. Dra. Maria Helena Flexor[1]
mhflexor@atarde.com.br
A Breve instrucçaó[2],
para ensinar a Doutrina christáa, Ler, e escrever aos Meninos; e ao mesmo tempo
os principios da Lingoa Portugueza, e sua Orthografîa é uma cartilha
simplificada, destinada a facilitar o ensino aos índios, não esquecendo as
instruções da doutrina cristã, misturadas em meio às regras gramaticais.
Obedecendo instruções, adotava-se o "livro de Andrade", isto é, de Manoel de
Andrade Figueiredo (1722, 156p)[3],
escrita em 1718 e publicada, depois das devidas licenças, em
Por ela tem-se idéia de
como era o ensino ministrado aos meninos índios, bem como as noções da doutrina
cristã. Essa cartilha serve, não só para esse conhecimento, quanto é excelente
documento para estudos lingüísticos.
Ao contrário do que se
possa pensar a alfabetização dos índios foi colocada em prática, existindo
vários relatos, especialmente dos Ouvidores, dando notícias das condições em
que se encontravam os meninos e meninas, tanto aqueles que freqüentavam as
aulas, quanto os que trabalhavam como oficiais mecânicos.
Eis a cartilha
(manuscrita):
(fl. 1)[4] Nº 4
Breve
instrucçaó[5],
para ensinar a Doutrina christáa, Ler, e escrever aos Meninos; e ao mesmo tempo
os principios da Lingoa Portugueza, e sua Orthografîa. (fl. 1v - em branco)
(fl.
2) Letras correntes Romanas
A abcdefghijlmnopqrs[6]
Ss[7]
Tt[8]
uvxx[9]yz
ct ae o[10]
K
Letras Capitáes Romanas
A B C D E F G H J I[11]
K L M N O P Q R S T[12]
V X Z Y
As Sinco Letras vogaes
A, e, i, o, u, y
(fl.
2v) Cada huá das Letras vogaes
forma por Si Sô, huá voz, ou huá Silaba. O y Grego naó he mais, que o i vogal,
ou Latino.
Letras abreviadas
(ã)[13]
significa am, (é) em (í) im (õ) om (ú) um
Os tres accentos
Este accento ', se chama agudo. Este, ~[14]
se chama grave. Este ^ Circumflexo
Esta figura (')
se chama apostrophe, e posta entre duas Letras, serve d'hú à, ou d'é L'a, L'e,
L'i, L'o, L'u e &rª[15]
Esta figura (-)
se chama divizaó
Pontuaçoens
Esta figura (,)
se chama virgola. Esta figura (;) se chama ponto, e virgola. Esta figura (:) se
chama dous pontos. Esta figura (.) se chama ponto. Esta figura (!) Se chama
admiraçaó. Esta figura (?) se chama interrogaçaó.
Sabeis, e
Conheceis ja todos os Caracteres (fl. 3)
res, e todas as Letras assim Vogaes, como consoantes, e todas as pontuaçoés de
quese uza na escripta: he percizo agora Saber, e Conhecer as Silabas. Silaba he
huá uniaõ, ou agregado de Letras, que formaó huá voz, ou huá dicçaó complecta.
Todas as desenove Letras consoantes naó formaó nenhúa Voz, sem o Socorro de huá
vogal. Cada huá das Vogaes a, e, i, o, u, y, saó o socorro da outra Letra
consoante para formar hú Sóm, ou huá Silaba
Silabas de duas Letras
Ba be bi bo bu Ca ce ci co cu Da de di do du
Fa fe fi fo
fu Ga ge gi
go gu
Ha he hi ho hu
Ja je ji jo
ju
Na ne ni no nu Pa pe pi po pu Ra re ri ro
ru
Sa se si so
su Ta te ti
to tu
Va ve vi vo vu
Xa xe xi xo
xu Za ze
zi zo zu
Silabas de tres
Letras
Bla, ble , bli, blo,
blu Bra, bre,
bri, bro, bru
Cha, che, chi, cho,
Cra, cre,
cri, cro, cru
Dra, dre, dri, dro, dru
FLa, fle,
fli, flo, flu
Fra, fre, fri, fro, fru
Gla, gle, gli,
glo, glu Gra,
gre, gri, gro, gru
Gua,
gue, gui, guo, guu,
Pha, phe, phi, pho, phu
PLa, ple, pli, plo, plu, Pra, pre, pri, pro,
pru
Qua, que, Qui,
quo, quu, Spa, spe,
spi, spo, spu
(fl. 3v) Sta, sté, Sti, sto, stu Tla, tle, tli,
tlo, tlu
Tra, tre, tri, tro, tru, Vla, vle, vli,
vlo, vlu,
Vra, vre, vri,
vro, vru, Bam,
bem, bim, bom, bum
Cam, cem, cim,
com, cum. Dam dem dim
dom dum
Fam, fem, fim,
fom, fum. Gam, gem,
gim, gom, gum.
Ham,
hem, him, hom, hum. Jam, jem, jim, jom, jum,
Lam, Lem, Lim,
Lom, Lum. Mam, mem, mim, mom,
mum
Nam, nem, nim,
nom, num Pam, pem,
pim, pom, pum
Quam, quem,
quim, quom, quum Ram, Rem, Rim,
Rom, Rum
Sam, sem, sim,
som, sum Tam, tem,
tim, tom, tum
Vam, vem, vim,
vom, vum Xam xem xim
xom xum
Zam, Zem, Zim, Zom, Zum
Estaes ja isntruîdos nas Silabas, he
percizo que entreis com disvello a ajuntalas, e a formar os nomes.
Amaro, Amador,
Agostinho, Affonso, Adriaó, ALexo, ALexandre, Camello, Cacimiro, Cypriano,
Custodio, Carlos, Clemente, Damiaó, Damazo, Domingos, Diogo, Daniel, Dionizio,
David, Eugenio, Euzebio, Francisco, Fernando, Fabiaó, Faustino, Gaspar,
Gregorio Gabriel, Geraldo, Germano, Jacôme, Ildefonço
Nomes de mulheres
Anna,
Anastacia, Antonia, Anacleta, Adriana, Caetana, Catharina, Custodia, Cacimyra,
Dionizia, Dorothea, Domingas Francisca, Faustina Fulgencia
Nomes de Cidades
(fl. 4) Evora, Porto, Coîmbra, Elvas, Lamego, Vizeu, Guarda, Braga, Braga
(sic), Miranda, OLinda, Bahîa, Ryo de Janeyro, Madrid, Salamanca, Toledo,
Cordova Pariz Toloza, Millaó, Napoles, Modena, BerLim, Ferrara, Roma
O dilatar os
meninos nos Nomes, pareceme, que naó he o mais utîl, julgando mais aCertado,
escrever lhe o Padre nosso, e mais Oraçoés, que assim se îraó juntamente fazendo practicos na doutrina
Christaá, e Scientes no ajuntamento das Letras, e boa pronuncia das dicçoés que hé o que nas Escholas seprocura
(fl. 4v em branco)
(fl.
5) Aos Mestres das Escholas
Hé innegavel,
que Os Mestres das Eschólas exercitaó a occupaçaó mais Nobre, e mais util ao
Estado, e a Igreja; porque elles Saó quem nos infundem no espirito as primeyras
imagens, e os primeyros pensamentos, que devemos ter do Santo temor de Deos, da
Obediencia ao Rey, e aos Seus Ministros Respectivos; do amor, e Respeito aos
nossos mayores, do affecto necessario á patria, e aos interesses da Monarquîa.
Saó os
MM[estres][16] nas Eschólas os que nos daó as
primeyras ideas do equilibrio, que devemos guardar nas nossas acçoés, para que
estas naó Sejam abominaveiz ao estado, nem escandalozas a Religiaó Christaá,
que professamos, e os que nos Radicaó os principios desta taó ditoza mente a
alma unidos, que Se fazem della inseparaveis. Saó os mais amantes da
Respublica, e os mais estimados nellas que tanto saó os Discipulos, que
concervaó, quantas as pessoas, que os estimaó, que os amaó, e q[ue] os
Reverenceyaó. Ainda na antiga Roma, aquelles Imperadores, que confundiraó Com a
Crueldade o poder, Respeitaraó a Seus Mestres
como Sevio em Nero com Seneca; com outros muytos mais, que Conserva a memoria
para horror da hu (fl. 5v) manidade,
e os mais amantes porque com osseu[17]
desvêlo nos tiraó das trevas da ignorancia, e nos poém no caminho da aptidam
para chegarmos ao deleytavel Paiz da Sabedoria.
Devem os
MM[estres] ser tractaveis, brandos, e modestos com os
Discipúlos: informa que o medo do Castigo lhes naó faça odiozo o Caminho da
Eschóla, nem a falta de Correcçáo os deyxe esquecer do Respeito, que devem
conservar a q[ue]m os ensina. Devem
porem attender a curta comprehençaó, que he natural aos meninos, p[ar]a a
porporçaó desta lhes passarem as Liçoenz, e taó Sómente uzarem dos golpes das
disciplinas, e palmatoria, quando virem, que a Reprehencivel preguiça he a
culpada nos Seus erros, e naó a rudez das Crianças a cumplice da Sua
ignorancia: e aos que Souberem maiz applaudillos para por este modo Selhes hir
introduzindo huá nobre emulaçaó que os conduza para o bem.
E como o
principio da sciencia hé o temor de Deos: devem os MM[estres] Colocar nas
Eschólas huá imagem de hum Santo Crucifixo em vulto, ou em pintura, e obrigar
aos meninos, quando entraó na Eschóla, que de joelhos devotamente a
Reverenceyem, sepersignem, e Sebenzaó; e ensinallos a persignar, e a benzer,
fasendo lhes Certo, que o signal da Sancta Cruz, hé a arma mais forte para
destruhir as tentaçóes do inimigo Comúm,
Capacitando-os de que ao nosso Creador offendemos por pensamentos palavras, e obras; razaó porque quando nos persignamos fazemos tres
Cruzes, a primeira na testa p[ar]a
que Deos nos Livre de maôs pensamentos, a Segunda (fl. 6) na boca, para que Deos os Livre das mâs palavras, a terceyra
nos peytos para que Deos nos Livre das mâs obras, que nascem do Coraçaó. E
que quando nos benzemos confessamos o Altissimo misterio da Santissima Trindade, Padre, Filho, e
Espirito Santo, tres Pessoas destinctas, e hum Só Deos verdadeiro, ensinando
lhe na forma seguinte = As pessoas da S[antissi]ma Trindade Saó tres (como fica
dito) Padre, Filho, e Espirito Santo Tres Pessoas destinctas, e hum Só Deos
verdadeiro. O Padre hé Deos, o Filho hé Deos, e o Espirito Sancto hé Deoz; e
naó Saó tres Deoses; porque ainda que
He percizo
ensinarlhe o Padre Nosso (fl. 6v)
naó materialmente, mas capacitando aos meninos das Sete petiçoens, que fazemos
a Deos nesta Santa Oraçaó, as quaes Saó as seguintes = Primeira Padrenosso, que
estaes nos Ceoz, Santificado Seja o teu nome. Segunda venha anós o teu Reyno;
Terceira, Seja feita a tua vontade, assim na terra Como no Ceo. Quarta o paó
nosso de cada dia, nos dâ hoje. Quinta perdoanos nossas dividaz: assim como nos
perdoamos aos nossos devedores; Sexta naó nos deixes Cahir em tentaçaó; Setima,
mas Livra nos de todo o mal. Amen JESVS.
Como tambem Ave
Maria explicando lhe, que contem emsy a saûdaçaó angelica, que o Anjo São Gabriel veyo fazer a Senhora. Ave Maria cheya de graça, o Senhor he
comtigo, benta es tu entre as mulherez, bento he o fruto do teu ventre
Jesus. Até aquî a Saûdaçaó: e no Resto,
Santa Maria may de Deos, Roga por nos peccadores, agora, e na hora de nossa
morte. Amen Jezus. A Supplica, que fazemos a Santa, e inmaculada Virgem Senhora
nossa, para que Rogue e enterceda a Deoz por nos.
Passaraó depois
os MM[estres] a ensinar aos meninos o Credo; e para que mais facilmente o
aprendaó, e para que melhor
comprehendaó a sua Sustancia lho ensinaraó em doze artigos Symbolo dos
Apostolos, e da nossa Santa fê na forma seguinte = Primeira; Creyo
Sabeis jâ o
Symbolo dos Apostolos, maz he precizo, que as materias da Religiaó se saybam,
naó materialmente, mas com toda aquella Certeza, e indagaçaó necessaria, e
Comprehencivel a curta esphera humana. Vos diZeis no pr[imeir]o artigo, Creyo
em D[eu]s Padre; haveis de Saber, que o Crêr, he ter por certo, e infalivel,
tudo o que a Santa Madre Igreja Romana nos propoêm de fê, e télo por Mais Certo
do que se Ovissemos com os olhos,
ou tocassemos com as maós.
A palavra
crêdo, ou Creyo, hé o mesmo, que dizer entendo, que estes artigos, que os
Apostolos, e a Igreja nos porpoêm Saó assim na verdade; e atê derramar a ultima
gota de Sangue das Veás, assim o hey de Crêr, e o hey de Confessar. Os actos de Crença, ou de fê, que
professamos Saó tres: o 1º Crêr com o Coraçaó o mesmo que expressamos com a
boca; O 2º Confessar publicamente com a boca sendo necess[a]r[i]o; aquilo, que
Crêmos com o Coraçaó; o 3º padecer, morrer pela fê que professamos, havendo occaziaó de podermos al (fl. 7v) cansar a ditoza Coroa do
martirio. Creyo
Os Symbolos da
fê, sam quatro. O pr[imei]ro he o Crêdo a que aqui chamamos Symbolo dos ApostoLos.
O Segundo he o Niceno feyto pelos PP[adres][21]
do Consilio de Niceya, e he o quesecanta na missa. O quarto hé o de Santo
Athanazio, quese diz no Officio divino.
Estes quatro Symbolos naó Saó diversos entre Sy; mas o dos ApostoLoz, se
explica mais por extenço nos tres Consilios univerSaez. O motivo porque
acreditamos taõ fortemente o Credo, e os artigos da nossa Santa fê; he, porque
Deus (fl. 8) o dice, ou Revellou a sua Igreja: de modo, que a Cauza da
Crença, he Deos Revelante. Digo, que
he Deos Revelante, porque assim o diz a Santa Madre Igreja Catholica Romana,
que he aLumiada pelo Espirito Santo, e naó pode errar nas Couzas que nos
propoêm de fê. Sabeis o que he fe? He
hum dóm de Deos impresso n'alma, com o qual cremos firme, e Catholicamente tudo
o que Deus nos tem Revelado, segundo
a Santa Madre Igreja o ensina. O
credoSe devide em quatro partes: a primeira he a sciencia divina, ou Deos uno
com Seus atributos, que Seexplica nas palavras Seguintes = Creyo
Deveis Saber,
que couza he a essencia divina.
Essencia divina hé hum Ser deSy mesmo; e porsy mesmo sem dependencia de
alguá outra couza; he huma natureza, ou Substancia estavel, immensa, eterna,
incorporéa, Simplissima sem principio, e sem fim. Hé hú espirito, in vezivel, in comprehencivel,
in estimavel, in mutavel, in corruptivel, forte, e Autor de todas as
criaturas. E estas denominaçoéz lhe
damos em Ordem ao que das mesmas Criaturas conhecemos; porque seo quizermos
conciderar Só em Sy, he in nefavel.
Quer dizer Creyo (fl. 8v)
Ainda que a
Omnipotencia he atributo da Essencia, e tanto como Padre, se pode dizer
Omnipotente o Filho, e o Espirito Santo; Comtudo ainda que a Omnipotencia pela Razam da Essencia Seja natural a todas as
trez divinas pessoas; especialmente Se atribuêm ao Padre, porque he fonte de
toda A Origem, e principio Sem principio desta prodigioza commonicaçaó. Dizemos Creador; porque fez todas as couzas de nada; e Só elle deste modo he Creâdor
porque o Demonio, e outros Artifices Creâdos, naó podem crear de nada, mas de
humas couzas fazem Outras.
Dizemos Creador
dos Ceos, e da terra; porque no Ceo,
e na terra Se inclue todo o mais criado.
Dizemos Creyo
Dizemos que
Christo foy concebido por obra do Espirito Santo; porque o Espirito Santo
formou nas entranhaz purissimas da Virgem Senhora Nossa o Corpo de Christo, unindolhe a alma, que no mesmo instante
Crêou, e Suprîo as qualidades formativas, e generativas, pois nesta generaçaó
naó houve Pay; e por isso se diz, que
Christo foi concebido do Espirito Santo Espozo da Virgem. Deos emquanto homem padeceu, foi
Crucificado, morto, e Sepultado, desceu aos Infernos, Subio ao Ceo, estâ
assentado a maó direyta de Deos Padre todo Poderozo; foi Crucificado pela
iniqua Sentença, que deu Poncio Pilatos, que era o Ministro do Imperador
Augusto CeZar no anno de quarenta e dous, e da Criaçaó do mundo 5$199 (sic),
Segundo o Martyrologio Romano.
Do ceyo de
Abraham, que entendemoz por Inferno, ReSurgio ao terceiro dia com as almas dos
Santos PP[adre]s que nelle o estavaó esperando; Subio aos
Ceos, estâ acentado a maó direyta de Deus
Padre todo Poderozo. Explicamo-noz por
este termo de maó direita, naó porque Deos tenha maó direyta, ou esquerda, que
he espirito, e naó tem membros; para
mostramos porem, por hum modo Comprehencivel, que se emquanto Deos he igual ao
Padre, emquanto homem tem o melhor Lugar depois do Padre. Donde ha de vir a julgar os vivos, e os
mortos. Dizemos que há de vir a julgar;
porque no dia de Juizo, havemos todos de Ser julgados assim os vivos pela graça
para hirem gozarem a bem aventurança por toda a eternidade, como os mortos
pelo peccado, para hi (fl. 9v) rem para as penas eternas.
A communicaçaó dos Santoz Se entende as boas Obras, que fazem todos os
justos na terra, saó partecipantes a todos os Catholicos, que vivem na Igreja
Romana. Resurreyçaó da Carne, he que
havemos de Ressucitar na idade de trinta e tres annos, Reunindosse[23]
a nossa alma ao mesmo Corpo de que foi forma; para em corpo, e alma os justos
hirem gozar a Bem aventurança, e os injustos o Inferno para toda a eternidade.
Ensinaraó os
MM[estres] aos meninos o acto de Contricçaó seguinte = Pezame Senhor de todo o
meu Coraçaó, e alma de vos haver offendido por serdes vos quem Sois
infinitamente bom, digno de Ser amado; porponho com vossa graça a emmenda da
vida, espero o perdam das minhaz Culpas nos merecimentos de vosso preciozissimo
Sangue e Sagrada morte Payxaó. Amen Jesus.
Ensinem-lhes
taóbem a confissaó.
Eu pecador, me
confesso a Deos todo poderozo, e a Bem aventurada Sempre Virgem Maria, ao Bem
aventurado Saó Miguel Archánjo, ao
Bem aventurado S[aó] Joam Bautista, aos SS[antos][24]
Apostolos, Saó Pedro, e Saó Paulo, e a todos os Sanctos da Corte do Ceo, e avos
Padre, que pequey muitas vezes, por penSamentos palavras e obraz, digo a Deus minha Culpa, minha Culpa, minha
grande Culpa; portanto pesso e Rogo a Bem aventurada Sempre Virgem Maria ao Bem
aventurado S[aó] Miguel Ar (fl. 10)
chanjo, ao Bem aventurado S[aó] Joam
Bautista os S[an]tos Apostolos S[aó] Pedro, e S[aó] Paulo, e a todos os Santos,
e aVos Padre que Rogueis por Mim a Deos Nosso Senhor. Amen Jesus.
Depois de bem
Saberem a confissaó lhedevem ensinar, e persuadir, que pela confissaó humilde,
Sincera, e verdadeyra, nos Reûnimos a graça com o Sacramento da
penitencia. Tanto que a nossa malicia
nos fez perder pelos peccados commetidos a graça baptismal, que tinhamos
adquerido, assim que na[25]
segunda fonte do baptismo fomos Lavados da Culpa Original.
Devem ensignar
lhes as trez couzas essenciáes para a confissaó ser bem feita, que Saó as
seguintez: Confissaó de boca, Contricçaó do Coraçaó, e Satisfaçaó de
Obras. Confissaó de boca, hé confessar
ao Sacerdote, como Ministro de Christo, humilde, e verdadeiro todas as offensas
contra Deos Cometidaz sem occultar nenhuá por pejo malicia, ou vergonha. Contricçaó de Coraçaó, he ter huá dor
verdadeyra dos peccados cometidos contra Deuz, por ser Deos quem he infinitamente
bom, e digno de Ser amado. Satisfaçaó
de obraz, hé cumprir sem nenhuá dezCrepança, a penitencia imposta pelo
Confessor. Saó estaz tres Couzaz
percizas para a confissaó enforma, que faltando fica a Confissaó nulla, e
invalida, e Ligado o penitente ao terrivel peccado do Sacrilégio.
Depois lhes
devem ensinar os des preceytos do Decálogo, ou mandamentoz da Ley de Deos na
forma seguinte = Os Mandamentos da Ley de Deus,
Saó des, os tres primeiros pertencem a honra de Deoz (fl. 10v) E os outros Sete ao proveito do proximo. O primeiro amaraz a hú Só Deos todo
Poderozo. O Segundo (não)[26]
jurarâs osseu[27]
Santo nome en vaó. O terCeyro
guardarás os Domingos, e dias Santos.
O quarto honraraz ateuPay e atua May.
O quinto naó matarás. O Sexto
naó fornicarâs. O Setimo naó furtarâs.
O oytavo naó Levantarâs falso testemunho.
O nono naó dezejaras a mulher do teu proximo. O decimo naó Cobiçarâs as couzas
alheas. Estes des Mandamentos
Seenserraó em dous; convem a Saber, amar a Deos, e ao proximo como aSy mesmo.
Amen Jesus.
Devem os
MM[estres] ensinar aos DiscîpuLos, que estes preceytos saó de direyto Divino
dados á Moyzês pelo mesmo Deos no Monte Sinay; motivo porque o Papa dellegado
de Deos naó pode nellez dispensar.
Devem agora ensinar os mandamentos da Santa Madre Igreja. Saó sinco. o pr[imeir]o ouvir missa aos
Domingos, e dias Santos. O Segundo
Confessar ao menos huá vez cada anno. O terceyro commungar pela Paschoa da
ReSurreiçaó. O quarto jejuar, quando manda a Santa Madre Igreja. O
quinto pagar Dizimos, e premissas. ExpLicando lhez, que Saó de dereyto
Ecclesiastico: Resaó porque pode nellez dispensar o Summo Pontifice exvi (sic)[28]
do poder que Christo deu a Saó Pedro,
Primeiro Pontifice; e asseus[29]
Sucessores quando lhe dice tudo aquillo que
Ligares na tera Serâ Ligado no Ceo, e tudo aquillo, que dezatares, serâ no Ceo
dezatado.
Depois dos
meninos instruîdos nestes PrinCipios da nossa Sagrada Religiaó, lhes ensinem a
virtudes Theologaes, que Sam trez. Fê, Esperança, e Caridade. Fê hé crêr aquillo que Deos dice, como elle o dice, e ensina a
Santa Madre Igreja. Esperança, he ter
huma es (fl. 11) esperança certa de que Deos nos hade Salvar, fazendo nos da
nossa parte a deligencia preciza para adquerir-mos o beneficio da Sagrada
Gloria. Caridade hé amarmos aos nossos
proximos com o mesmo disvello, e com o mesmo Cuidado Com que nos amamos anos
mesmos. Depois lhes ensinem as obras
de misericordia. As obras de
mizericordia Saó quatorze, Sete espirituaes, e Sete Corporaes: as Sete
Corporaez Saó as Seguntes; a primeira dar de comer a quem tem fome, a seg[un]da
dar de beber a quem tem cede, a terceira vestir aos[30]
nuz, a quarta Vezitar aos infermos incarsarados, a quinta dar pouzada aos
peregrinos; a Sexta Remir aos Captivos.
A Setima interrar aos mortos.
As espirituaes Saó estas: O
primeiro dar bom concelho; a Segunda ensinar aos ignorantes; a terceira
conSoLar aos tristes; a quarta castigar aos que erraó; a quinta perdoar as
injurias; a Sexta Sofrer com paciencia as fraquezas
de nossos proximos; a Setima Rogar a Deos pelos vivos, e defuntos. Estas obras de mizericordia Se devem
excitar com sinco condiçoens; a primeira com segredo, a Segunda Com preca[31],
a terceyra com alegria, a quarta, com pouco exame da pessoa a quem sefaz,
quinta com fim da gloria de Deos.
Devem agora
ensinar os Sacramentos da S[anta] Madre Igreja, que Saó Sete. O Prim[ei]ro he
baptismo, o Segundo confirmaçaó, o terceiro Communhaó, o quarto penitencia, o
quinto extrema unçaó, o Sexto ordem, o Setimo matrimonio.
O baptismo he a
porta dos Sacramentos da Ley da graça; foi instituido por Christo Senhor nosso,
e necessariamente necessitamos deste Sacramento parase nos abrirem as portas do
Ceo. A Confirmaçaó he (fl. 11v) O mesmo, que Chrisma; e este
segundo Sacramento Sechama confirmaçaó, porque he o Seu effeito confirmar o
homem na fê; porque assim como no baptismo o baptizado SeLava Com aquella agoa,
para significar, que a graça de Deoz lhe alimpa a alma da macula de todos os
peccados, assim no Chrisma, seunge a testa para significar, que a graça de Deoz, unge alma, e a
conforta, e fortefica para que possa Combater contra o Demonio, e confessar com
ouzadia a Sancta fê Catholica, sem temor, ou Receyo dos tormentos, nem medo de
perder a vida do corpo. O terceiro
Sacramento hé a Communhaó, ou Eucharestîa, que hé o Sacramento do Corpo e
Sangue de Christo, que verdadeiramente Se contem debaixo das especias de paó, e
vinho. O quarto Sacramento, he a
penitencia, que conSiste em ter huá verdaderia dor dos peccados commetidoz com
prepozito firme de os naó tornar á commeter.
O 5º he a Extrema unçaó; extrema unçaó hé hum Sacramento que Christo
Senhor nosso instituhio para os infermos; e chamasse unçaó, porque conSiste em
ungir com oleo Sancto aos infernos Rezando Sobre elles alguás Oraçoéns: chamaSe
extrema por Ser a ultima entre as unçoés queSedaó noz Sacramentos da Igreja; a
primeira Se dâ no Baptismo; a segunda na Confirmaçaó. A terceira no Sacerdocio; a ultima na
infermidade. Tambem sepode chamar
extrema porque se dâ no fim da vida. O
Sexto Sacramento he Ordem; he hum Sacramento da Ley da graça Com o qual ao
ordenado sedâ poder para algum ministerio aCerca da eucharistia. O Setimo Sacramento he o do matrimonio: o
Sacramento do matrimonio, hé huá
mutua obrigaçaó ou vinculo, com o qual os conjugadoz vivem (fl. 12) Entre Sy mutuamente obrigados
indesoluvelmente permanentes.
Devem os
MM[estres] ensinar os peccados
Mortaes. Os peccados mortaes Saó
Sete. O primeiro he Soberba; o segundo
avareza; o terceiro Luxuria; o quarto îra; o quinto gulla; o Sexto inveja; o
Setimo preguiça.
Contra estes
Sete peccados mortaés, ha sete virtudes oppostas, que devemos exercitar, para
naó cahir-mos nellez. Contra a
Soberba, humildade; contra avareza, Liberalidade; Contra a Luxuria, Castidade;
Contra a îra paciencia; Contra a gula temperança; Contra a inveja, Caridade;
contra a preguiça, deligencia.
Tambem deve
ensinar os Novicimos do homem, que Saó quatro: Morte, Juizo, Inferno, e
Parayzo; e persuadir aos Discipulos tragaó a memoria em todas as Suaz acçoéz os
mesmos Novicimos, que Serâ a melhor Liçaó, para os deregirem sempre para o bem.
Emsinem lhe
ultimamente os Artigos da fê, que Saó quatorze. Sete pertencem a humanidade; e
os outros Sete a Divindade; os Sete que
pertencem a Divindade Saó estes. O
primeiro Crêr, que hé hum Só Deos
todo Poderozo; o Segundo Crêr, que he Padre; o terceiro Crêr, que hé filho; o
quarto Crêr, que hé Espirito Sancto; o quinto Crêr, que he Creador; o Sexto
Crêr, que he Salvador; o Setimo crer, que he Glorificador. Os Sete que pertencem a humanidade Saó
estez, o primeyro crêr, que o mesmo filho (12v)
de Deos foi concebido do Espirito Santo; o Segundo Crêr, que nasceu de Santa
Maria Virgem ficando ella sempre Virgem; O terceyro Crêr, que foi por nos
Crucificado morto e Sepultado; O quarto Crêr, que desCeu aos infernos, e tirou
as almas dos Santos Padres, que Lâ estavam esperando a Sua Santa vinda; O
quinto Crer, que ReSurgio ao terceyro dia;
O Sexto, crêr que Subio aos Ceos, e estâ assentado a maó direyta de Deos
Padre; o Setimo Crêr, que há de vir a julgar os vivos, e os mortos dos beins, e
mallez, q[ue] fizeraó.
Chamaó-se
artigos da fê, porque artigos quer dizer Ligadura, ou nô com quese ataó, e unem
os membros huns com os outros, para fazerem hú corpo perfeito; e assim, estes
quatorze artigos Saó como nós, ou Ligaduras, com as quaes os fieis seunem pela
Crença huns com os outros para fazerem hú corpo mistico, e perfeito.
Naó saó os
artigos da fê diferentes do Crêdo; mas o que contem o Credo em doze artigos; se
devide aquî em quatorze para mayor clareza, e inteligencia das Creaturas. Estes Saó os primeyros alimentos da nossa
Sagrada Religiaó em que os meninoz na Eschola devem Ser peritos, e
inteligentes. E a mais doutrina em que necessitaó de Ser perfeitos lhes hiraó
depois os Mestres ensinando com amor, prudencia, e vigilancia.
Devem ter os
MM[estres] grande Cuidado em persuadir a Seus Discîpulos a veneraçaó, que devem
ter ás Cruzes, por serem figura daquella em q[ue] padeceu morte afrontoza o nosso Redemptor, e nella derramou osseu[32]
preciozissimo Sangue (fl. 13) para
nos Salvar. E quando apanharem algum
menino em mentîra, o Castiguem, afeando lhe a mentîra, assim por ser contra o
Crêador, como contra as Creáturas; mostrando lhe quanto Se faz o Sujeito
mentîrozo indigno do Comercio das Gentes, e inteyramente intractavel de todo o
homem honesto.
He necessario,
que os Mestrez ponhaó indispensavelmente aos Discîpulos no habito
deSeconfessarem todos os mezez; e ao maiz velho, ou mais inteligente,
entregaraó huá Cruz de pau benzida, que estarâ naz Eschólas, para que este a
Leve alSada quando Sahir o Santissimo Sacramento; e para que toda a Eschóla o vâ aCompanhar; e o Mestre lhes hirâ prezidindo
e Cantando os meninos porporcionalmente o Bendito, e Louvado e &rª [etc].
Devem os
Mestres ter cuidado de persuadirem aos meninos, que quando Se deitarem na Cama,
Rezem pr[imeir]o de joelhos devotamente tres PP[adres] .NN[ossos][33].
e tres Ave Marias e tres Glorias em Louvor da maternidade, Conceyçaó, e
virgindade de Maria Santissima, para que lhes alcanse de seu amado filho
auxilios eficazes para a Sua Salvaçaó, e que o mesmo fassa quando Selevantarem
da Cama.
E como seria
couza indigna de hum Cristaó deyxar deSeLembrar de Deos, assim quando Sepoêm a
Meza, como quando Selevanta della.
Teraó os MM[estres] Cuidado delhes ensinaren as Oraçoés Seguintes =
Para quando se assentaó a Meza
Senhor abençoay
este sustento, que nos daiz para nutriçaó (fl.
13v) de nosso Corpo, e fazeinos a graça quenos Sirvamos delle Com
temperança; isto vos pesso, em nome do Padre, do Filho, e do Espirito Sancto.
Amen Jesus.
Para depois de Comer
Senhor, eu vos
rendo as graças pela esmolla que me
fiz este de me dares sustento para a nutriçaó demeu Corpo, e Conservaçaó da
minha vida. Conservay Senhor, a vossa
graça dentro na minha alma, para que vos possa vér, amar, e Louvar por toda a
eternidade. Amen.
Fasse
precizamente necessario; que os M[estr]es adocem a penoza
tarefa da Leytura, aos meninos com alguás breves practicaz com queSevaó
Christianizando, e instruîndo: como V[erbi]
g[ratia]. Ja conheceis as Letras, ja Sabeis as Silabas, e as palavraz, hé
necessario, agora aprender as Letras, e ajuntallas Com perfeiçaó. Trabalhay com disvello para Ser bons
Catholicos, bons Cidadoens, e para ordenadamente poderes manejar as vossas
dependencias. Principiay a usar da
vossa razaó, e Concebey, que Deos vos criou para o Conhecerez, para o amarez,
para o servires, e para Gozardes da Vida eterna.
Hé percizo
passar por esta vida mortal, na qual vêdes, e haveis de vêr o muito que tem de
penoza. He percizo comprehender, que depois do peccado Original Condemnou Deos
a todos os homenz ao trabalho; aq[ue]Le que
ama, e idolatra a ociozidade, naó ama, nem Serve a D[eu]s (fl. 14) porque a preguiça, hé hum dos
Sete peccados mortaes. Nasceu o homem
para o trabalho, assim como nasceraó as Aves para vóarem: aquelle que naó quer
o trabalho porporcionado as Suaz forsas, e as Suas qualidades, hé indigno do
Sustento com queSe nutre aquelle que hé ociozo na mocidade, trabalharâ na Sua
velhice.
Naó sabeis meus
amados Discipulos, Se a vossa vida serâ breve, ou dilatada: trabalhay como quem
ha de viver Longo tempo, e vivey como quem imagina de instantaneamente poder
hir dar contas ao Crêador. Tende
Sempre na memoria o Respeito que deveiz ter a vossos Pays, aos vossos mayorez,
e aos vossos bemfeitorez. Hum homem
Sem obediencia, naó hé homem, he monstro, e Sem agradecimento hé fêra, a ainda
mais que fêra; porque nas historias Sagradas encontramos Leoens agradecidos, e
Respeitozos a Seus bemfeitores; e nas humanaz naó Só em Leoens, mas em outros
muitos animaes menos nobres encontramos o agradecimento.
Lembray vos de
quevossos Pays vos deraó o Ser, e que tem tido grandes fadigas para vos porem
no estado em que exestiz. Reparay no grande
trabalho, que destes a vossas mays emquanto aos peitos vos nutriraó; e no tempo
em que naó podieiz andar, nem vos Sabieis vistir, nem podieis explicar os
vossos Sentimentos. Vossos Pays vos
preveniraó das inclamidades do tempo,
e talvez q[ue] bem apezar das Suas
inpossebelid[ad]es vos vestiaó e Sustentavaó.
Esperaó agora que vos appliqueis com todo o Cuidado a áprender o que vos
he necessario para passarez o Curso de vossa vida. He esta vida cheya de dependencias, e
embaraços, que vos cauzaraó bastantes disvelloz, e mais Cres (fl. 14v) Cidos, Se vos faltar a
cómodidade de bem fallar, bem Ler, e bem escrever.
Tem geral
estimaçaó o homem honesto que falla
com acerto, que Le com desembaraço, escreve Com perfeiçaó; porque dâ Certezas
infaliveiz, que foi bem educado.
Aquelle que carece destas Circunstanciaz he, visto como Sujeito inepto;
servem as Suas vozes de asumpto para o escârnio, para a Zombaria, e para o
desprezo. Aquelle que naó Sabe Lêr,
passa á metade da vida a Sego; e para poucas couzas hé capaz o homem, que naó
Sabe Ler, e escrever.
Escutay com
respeitoza attençaó a quem Vos ensina, naó lhe desafieis a Colera, nem o
chegueiz ao Caminho da inpaciencia, quando Saó obrigados avosCastigar; recebey
o castigo com humildade. Diz o Espirito
santo, que a doudisse estâ atada ao pescosso dos meninos, e que a vara da
Correpçaó lha dezata, e lha desterra.
Olhay a vossos Mestres como enviados de Deos, para vos darem a educaçaó
Soberanamente necessaria, e a mais doce ConSolaçaó para as mizerias, e
amarguras desta vida. Naó vos
entristiçaes por comprehenderes com trabalho o pouco que Sabeiz; porque pela
mesma penuria passaraó esses Padres, que vedes Sacraficando nos Altares
Sagrados, e os que ouvîs nos Pulpîtos explicando o Evangelho.
Foram impressos
os Livros para vossa instrucçaó. Toda essa maquina, que vedes de (fl. 15) Livros hé composta de vinte e
Sinco Letras; destas Sam Seis Letras vogaes: Chamaó-se vogaes, porque cada huá
per sy, só tem hum Som complecto, ou forma huá Silaba. As desenove Saó
consoantes: chamaó-se ConSoantes, porque naó
Significaó nada persy Sôs, sem auxilio de algúas daz Vogaes. Com estas vinte e
Sinco Letras Se formaó todaz as Silabas, e todas as vozes, ou palavras. Formasse[34]
huá Silaba de muitas Letras juntas, que fazem
hú Som Complecto: Como V[erbi] g[ratia] Ba, Ce, di, fo, gu. He percizo quevos costumeis a pornunciar
bem as Silabas p[ar]a bem vos poderes regular na escripta. Huá voz, ou huá
dicçaó, Saó muitas Silabas juntas, que fazem hum sentido destincto e separado:
Como V[erbi] g[ratia] penna, tinta,
papel, obréas. Todos os discursos Saó
compostoz e Ordenados de diferentes termos, que SeReduz a Sua diversidade ao
abreviado numero de nove á que podemoz chamar com propriedade instrumentos da
lingoa que falamos. He certo que naó
há Mestre ou official de qualquer arte nobre, ou officio mecanico que naó
conheçaó os instrumentos percizos para a Sua arte, ou officio! Pois naó Serâ
vergonhozissimo a hú homem ignorar os instrumentos da arte de fallar, que hé a arte
das artes, e a árte mais nobre, mais util, e maiz perciza para o Comercio
humano! Aqui tendes meuz Discipulos as
nove vozes, ou instrumentos com a Sua expLicaçaó. Primeiro, o articulo Significa uniáo; Os
articuloz Saó huáz pequenas dicçoés, que Sepoêm antes dos nomez para a
demonstraçaó do genero, do n[úmero] e do Cazo Como V[erbi] g[ratia] hum homem, huma mulher, hum homem (fl. 15v) de hum homem, para hum homem. Huá molher, de huá Molher,
para huá molher.
Segundo: O nome
Antonio, Joaó, Manoel, Lisboa, Madrid, Pariz; Saó nomes / e nomes proprios / de
que
Terceyro: o pornome, he o que Sepoêm em Lugar do
nome: Como V[erbi] g[ratia] eu mesmo, tu mesmo, elle mesmo, elles mesmo, e
ellas mesmo. Este,
elle, aquelle; estas, ellas, aquellas, saó pornomes.
Quarto O verbo
ser, estar, concever, ensinar, julgar, e empedir, Saó verbos.
Quinto o
partecipio: chamasse partecipio porque partecipa do Verbo, e do nome: como
V[erbi] g[ratia] o que ensina; o que
Lê, o que ama, o que ensinava, o que Lîa, e o que amava, Saó partecipios.
Sexto; o
adverbio: he o adverbio huma Voz, que Se expressa depois do verbo para a
determinaçaó da Couza expressada: como V[erbi] g[ratia] de menhaá, de tarde, de noyte, ao meyo dia, a meyanoite
e&rª[35]
Setimo: a
porpoziçaó; he a porpoziçaó huá Voz, que se poem antes dos nomes, e que os
determina: como V[erbi] g[ratia]. a
Pedro, para Pedro, Com Pedro, a Joam,
p[ar]a (fl. 16) Joam, com
Joam e&rª.
Oytavo;
Conjunçaó: a conjunçaó hé a que Liga as vozez, ou as cepara: como V[erbi] g[ratia]. Francisco, e Antonio; Joaó, e
Manoel, Gaspar, e CLemente; Francisco, ou Antonio; Joaó, ou Manoel; Gaspar, ou
Clemente. Este (e) e aquelle (ou) Saó
conjunçoés. Nono:Intergeiçaó. A
intergeiçaó, he hua voz, que exprime as payxoenz, ou affectos d'ama; como
v[erbi] g[ratia] O' Deos, O' Ceo, O'
Terra, O' Mundo, O' Clamidade. Este
O' he intergeiçaó.
Destas nove
Vozes, ou nove partes do disCurso devemos Saber, que tres Respeitaó ao nome; as
quaes Saó o articulo, ou pornome e o partecipio. O adverbio, a porpoziçaó, e intergeiçaó Saó
indicLinaveis, e tem Sempre a mesma pornuncia, e guardaó a mesma escripta. Resta unicamente o nome, e o Verbo, que
merece huá grande attençaó; porque o Verbo seconjuga, e o nome SedecLina; mas
Sepracticarmos bem o que devemos obServar com os nomez, e Com os verbos,
fallarâ qualquer Sujeito Correptamente, e Carecerâ de necessidade de Livros de
Orthografîa, para escrever com bastante Certeza.
O nome he, que determina a Oraçaó: V[erbi] g[ratia] Deos hé infinito: Deos hé o
nome, ou he Substantivo, ou adjectivo. O nome Substantivo aSina Simplexmente a Couza:
como V[erbi] g[ratia] Deos, Anjo,
homem, mulher; Saó nomes Substantivos.
O nome adjectivo, mostra, e ensina, a qualidade do individuo: como
V[erbi] g[ratia] bello, (fl. 16v) branco, Negro, quente, frio,
morno, Saó nomes adjectivos. Todos os
individuos de que tractamos, ou Saó machos, ou femeas, ou saó masculinos, ou
femininos: se Saó mascuLinos, tem o genero masculino á que pertencem; Se Saó
femeninoz o genero femenino. Para os
nomear hé percizo attender ao genero, para
lhe applicar o Seu articulo Respectivo: como V[erbi] g[ratia] hum Livro, hú
homem, hú Ramilhete, huá mulher, huá Roza, huá bonéca. Quando lhe applicamos o articulo hum, he do
genero masculino; quando lhe applicamos o articulo huá, he do genero femenino.
Temos dous
numeros: a Saber, Singular e pLural: o
numero singular compete a hum Só
individuo; e o numero plural. á muitos: Como V[erbi] g[ratia] hum Jesuîta, he o numero singular, os Jesuîtas, hé
n[umer]o pLural; porque Saó muitos aquelles de que fallamos.
Todo o nome, ou
Seja Substantivo, ou adjectivo tem Seiz cazos, assim no singular, como no
plural, a Saber, Nominativo, Genetivo, Dativo, Accusativo, Vocativo,
AbLativo. Para bem decLinar O nome
lhe deve ajuntar osseu[36]
articulo para Sabermos
Numero
(fl.
17) Numero Singular
Nominativo O Livro
Genitivo do Livro
Dativo O
Livro
Accuzativo O
Livro
Vocativo O' Livro
Ablativo do Livro
Assim em todos
os mais nomes, tanto no Singular, como no plural, nos masculinos como nos
femeninos Sem mais diferença, que applicar lhe os articulos pertencentez aoz
Seuz generos, e aos Seuz numeros.
Os nomes
proprios naó tem plural tem unicamente Singular
N[umer]o
Singular Nom[inativo] Deos, a Deos, de Deos,
Roma a Roma de Roma.
N[umer]o Singular Nom[inativo] Nicolaô a Nicolaô, de
Nicolaô,
Lisboa, a Lisboa, de Lisboa.
Do verbo
O Verbo hé o
que complecta, o que enche, e o que determina a Oraçaó; porque nenhúa Oraçaó
Sem verbo, Sepode chamar Oraçaó, nem expressar nenhuá Couza, nem escrever
periodo, que tenha hum Sentido terminado, e (fl. 17v) Complecto. Com o
verbo se ajunta sempre huá das tres pessoas.
Eu, Tu, Elle, ou ella no singular; e no plural Nos, Vos, ellez, ou
ellas; porque o verbo tambem tem douz numeros, Singular, e plural; tem o verbo tres tempos principais, que Saó o
tempo prezente, o preterito, e o fucturo.
Os outros partecipaó destes tres.
Tem o verbo
Sinco modos: a Saber indicativo, imperativo, optativo, Conjunctivo, e infinito. Conjugar o verbo naó
hé mais, que de verificallo em todos os Seus tempos e pessoas de todas as
Sortes, que elle pode correptamente de vereficarse. Ha verbos de diversas
naturezas. Ha o verbo activo, que asigna huá acçaó meramente activa: Como
V[erbi] g[ratia] Eu amo, eu ensino,
eu Leyo, eu ouço e&rª [etc].
Hâ o verbo
passivo, que manifesta, e aSigna huá Certa payxaó: como V[erbi] g[ratia] Eu Sou amado, eu Sou ensinado,
eu Sou Lido, eu Sou ouvido. O verbo
Neutro mostra huá acçaó indeterminada: como V[erbi] g[ratia] Eu Sou, Eu estou
e&rª. O Verbo Reciproco partecipa da natureza de todos os
verboz; como V[erbi] g[ratia] Lembarse, ou terse Lembrado. Para bem Conjugar todos os verbos, he
percizo conjugar prim[ei]ro o verbo auxiliar, Ser ou estar, que Se conjuga na forma Seguinte.
Indicativo tempo
prez[en]te[37]
Eu sou, ou
Estou
Tu es, ou
estás
Elle he, ou
estâ
Pl[ural] Nos somos, ou Estamos
Vos Sois, ou
estais
Elles Saó, ou
estam.
Pre-
(fl. 18) Pret[erito] Imperf[eito]
Eu era, ou
estava
Tu eras, ou
estavas
Elle era, ou
estava
Pl[ural] Nos eramos, ou estavamos
Vos ereis, ou
estaveiz
Ellez eraó, ou
estavaó.
Pret[erito] Perf[eito]
Eu fui, ou
estive
Tu foste, ou
estiveste
Elle foi, ou
esteve
PL[ural] Nos fomos, ou estivemos
Vos fostes, ou
estivestes
Ellez foraó, ou
estiveraó
Pret[erito] mais que perf[eito].
Eu fora, ou
estivera
Tu foras, ou
estiveras
Elle fora, ou
estivera.
PL[ural] Nos foramos, ou estiveramos
Vos foreis, ou
estivereis
Ellez foraó, ou
estiveraó
Fut[uro] imperf[eito]
Eu serei, ou
estarey
Tu serâs, ou
estarâs
Elle Serâ, ou
estarâ
Pl[ural] Nos Seremos, ou estaremos
Vos Sereis, ou
estareis
Ellez Seraó, ou
estaraó
Fut[uro] Perf[erfeito]
Jâ eu entaó
Serei, ou estarei
Ja tu entaó
Seras, ou estaras
Ja elle entaó
Serâ, ou estarâ
PL[ural] Já nos entaó Seremos, ou estaremoz
Ja vós entaó
Sereis, ou estareis
Ja elles entaó
Seraó, ou estaraó
Temp[o] prez[ente] do Imper[ativo]
Se tu, ou estâ
Seja elle, ou
esteja
PL[ural] Sejamos
nos, ou estejamos
Sede vós, ou
estejaes
Sejam elles, ou
estejam
Fut[uro] do Imper[ativo]
Serás tu, ou
estarás
Serâ elle, ou
estarâ
PL[ural] Seremos
nos, ou estaremos
Sereis vos, ou
estareis
Seram elles, ou
estaraó
Temp[o] pres[ente] e imperf[eito] do Opt[ativo]
Oxalâ fora eu,
ou fosse,
estivera, ou
estivesse
Foraz
(fl. 18v) Foras tu, ou fosses estiveras, ou estivesses
fora elle, ou
fosse, estivera, ou estivesse.
PL[ural] Foramos nos, ou fossemos estiveramos, ou
estivessem
Foreis vos, ou
fosseis estivereis, ou estivesseis
Foraó elles, ou
fossem esti veraó, ou estivessem.
Pret[erito] perf[eito]
Queira Deus; que fosse eu, ou estivesse
Que fosses tu,
ou estivesses
Que fosse elle,
ou estivesse
PL[ural] Que fossemos nos, ou estivessemos
Que fosseis
vos, ou estivesseis
Que fossem
elles, ou estivessem.
Pret[erito] mais que perf[eito]
Provera a Deos
que fora eu, ou estivera
Que foras tu,
ou estiveras
Que fora elle
ou estivera.
PL[ural] Que foramos nos, ou estiveramos
Que foreis vos,
ou estivereis
Que foram elles
ou estiveraó
Fut[uro]
Praza a Deus que Seja eu, ou esteja
Que Sejas tu,
ou estejas,
Que Seja elle,
ou esteja
PL[ural] Que Sejamos nos, ou estejamoz
Que Sejais vos,
ou este
Que Sejaó
elles, ou estejam.
Temp[o] prez[ente] do Conjunt[ivo]
Como eu sou, ou
sendo eu
Como tu es, ou
Sendo tu
Como elle he,
ou Sendo elle
PL[ural] Como nós Somos, ou Sendo nos
Como vos Sois,
ou sendo Vos
Como elles Saó,
ou Sendo elles.
Pret[erito] imperf[eito]
Como eu era, ou
sendo eu
Como tu eras,
ou sendo tu
Como elle era,
ou Sendo elle
PL[ural] Como nos eramos, ou Sendo nos
Como vos ereis,
ou sendo vos
Como elles
eraó, ou Sendo elles
Pret[erito] perf[eito][38]
Como
(fl. 19) Como eu fui, ou sendo eu
Como tu foste,
ou sendo tu
Como ellefoi,
ou sendo elle.
PL[ural] Como
nos fomos, ou Sendo nos
Como vos
fostes, ou Sendo vos
Como eeles
foraó, ou Sendo elles
Pret[erito] mais que perf[eito]
Como eufora, ou
sendo eu
Como tuforas,
ou sendo tu
Como elle fora,
ou sendo elle
PL[ural] Como mos foramos, ou sendo nos
Como vos
foreis, ou sendo vos
Como elles
foraó, ou sendo elle
Fut[uro]
Como eu for, ou
sendo eu
Como tu fores,
ou sendo tu
Como elle for,
ou sendo elle
PL[ural] Como nos formos, ou sendo nos
Como vos
fordes, ou Sendo vos
Como elles
forem, ou sendo elles
Mod[o] Prez[ente] do infin[ito]
Ser, o que sou,
es, he
PL[ural].Somos,
Sois, Sam
Pret[erito] imperf[eito]
Ser o que era,
eras, era
PL[ural] Eramos, ereis, eraó.
Pret[erito] perf[eito]
Que fui,
fostes, foi
PL[ural] Fomos fosteis foram
Pret[erito] mais que perf[eito]
Que fora,
foras, fora
PL[ural] foramos, foreis, foram
Fut[uro]
Que hei, has,
hade Ser, ou
que Serei,
Serâs, Serâ
PL[ural] O que havemos, haveis haóde
Ser, o que
Seremos, Sereis Seraó
Partecip[io] do Fut[uro]
O que ha, ou
houver de Ser
Todos os
Infinitos dos verbos da nossa Língoa Portugueza aCabam em-ár, ou em-ér. Para
conhecer o infinito dos Verbos, basta este exemplo: V[erbi] g[ratia]. Eu devo: a
voz, que Se chegue hadeSer infinitivo do berbo[39]:
como V[erbi] g[ratia] devo advertir, devo imaginar, devo Conhecer, devo amar,
devo Lér, devo estudar e&rª Este advertir, este conhecer, este imaginar,
este Ler, este estudar, este amar, Saó
infinitos, que a voz = devo = e assim Se deve entender nas mais Vozez ou
verboz.
(fl. 19v) Exemplo dos verbos em ár
Mod[o] Indic[ativo] do temp[o] prez[ente]
Eu amo, tú
amas, elle ama,
PL[ural] Nos amamos, vos amais, Elles amaó
Preterito imperfeito
Eu amava, tu
amavas, elle amava
PL[ural] Nos amavamos, Vos amaveiz, elles
amavaó.
Pret[erito] perf[eito]
Eu amey, ou tenho
amado tu
amastes, ou
tens amado, elle
amou, ou tem
amado.
PL[ural]Nos
amamos, ou temos amado,
Vos amasteis,
ou tendes amado
elles amaraó, ou
tem amado.
Pret[erito] mais que perf[eito]
Eu amara, ou
tinha amado
Tu amaras, ou
tinhas amado
Elle amara, ou
tinha amado.
PL[ural]Nos
amaramos, ou tinhamos amado
Vos amareis, ou
tinheiz amado
Ellez amaraó,
ou tinhaó amado
Fut[uro] imperf[eito]
Eu-
Eu amarey, tu
amarás, elle amarâ.
PL[ural]Nos
amaremos, Vos amareiz, elles amaraó
Fut[uro] perf[eito]
Ja eu entaó
terey amado,
ja tu entaó
terâs amado,
ja elle entaó terâ amado
PL[ural]Ja nos
entaó teremos amado
Ja Vos entaó
tereis amado
Ja elles entaó teraó amado.
Temp[o] prez[ente] do Imper[ativo].
Amas tu, ame
elle
PL[ural]Amemos
noz, amay voz amem elles.
Fut[uro] do Imper[ativo]
Amaras tu,
amarâ elle
PL[ural]Amareis
vos, amaraó ellez
Temp[o] prez[ente] do Opt[ativo]
Oxala amara eu,
ou amasse
amaras tu, ou amasses
amara elle, ou
amasse
PL[ural]Amaramos
nos, ou amassemoz
amareis vos, ou
amasseis
Amaraó ellez,
ou amassem.
Preterito
(fl. 20) Pret[erito] perf[eito]
Queira Deus que tenha eu amado, ou
amasse eu
Que tenhas tu
amado, ou amasses tu
Que tenha elle
amado, ou amasse elle
PL[ural]Que
tenhamos nos amado, ou amassemos nos
Que tenhaes vos
amado, ou amasseis vos
Que tenhaó
elles amado, ou amassem elles
Pret[erito] mais que perf[eito]
Provera a Deus que amara eu, ou tivera amado.
Que amaras tu,
ou tiveras amado
Que amara elle,
ou tivera amado
PL[ural]Que
amaramos nos, ou tiveramos amado
Que amareis
vos, ou tivereis amado
Que amaraó
ellez, ou tiveraó amado
Fut[uro]
Praza a Deos que ame eu
Que ames
tu
Que ame elle
PL[ural]Que
amemos nos
Que ameis vos
Que amem elles.
Temp[o] prez[ente] do Conjunct[ivo]
Como eu amo, ou
amando eu
Como tu amas,
ou amando tu
Com elle ama,
ou amando elle.
PL[ural]Como
nos amamos, ou amando nos
Como vos amais[40]
Como elles amaó[41].
Pret[erito] imper[feito]
Como eu amava,
ou amando eu
Como tu amavas
Como elle
amava.
PL[ural] Como
nos amavamos
Como vos
amaveis
Como elles
amavaó
Pret[erito] perf[eito]
Como eu amei,
ou amando eu
Como tu amaste
Como elle amou
PL[ural] Como
nos amamos
Como vos
amastes
Como elles amaraó.
Pret[erito] mais que perf[eito]
Como eu amara,
ou tinha amado
Como tu amaras
Como elle
amara.
PL[ural] Como
nos amaremoz
como
(fl. 20v)Como nos amaramos
Como vos amareis
Como elles
amaraó
Fut[uro]
Como eu amar,
ou tiver amado
Como tu amares
Como elle amar
PL[ural] Como
nos amarmos, ou tivermos amado
Como vos
amardes
Como elles
amarem.
Temp[o] prez[ente] do Infin[ito]
Amar, o que amo, amas, ama.
PL[ural]
Amamos, amais, amaó
Pret[erito] imperf[eito]
Amar, ou que
amavam amavas, amava.
PL[ural]
Amavamos, amaveis, amavaó.
Pret[erito] perf[eito]
Ter amado, ou
que amey, amaste, amou
PL[ural]
Amamos, amastes amaraó
Pret[erito] mais que perf[eito]
Ter amado, ô
que amara amaras amara
PL[ural]
Amaramos, amareis, amaraó
Fut[uro]
Que hey, has,
ha de amar, ou
que amarey,
amaras, amarâ
PL[ural] Que
havemos, haveis, haó de amar,
ou que
amaremos, amareis, amaraó
Gerundio
De amar, em
amar, de amar
amando, e Sendo
amado.
Supin[o]
Amar para amar:
a ser p[ar]a Ser amado.
De ser amado
para se amar
Partecipio
O que ama, e
amava,
O que hâ, ou houver de amar.
Exemplo dos
verbos, que tem o infinito em ér.
Prez[ente] do Indic[ativo]
Eu Leyo, tu Les, elle Lê
PL[ural] Nos
Lemos, vos Ledes, elles Lêm
Em todos os
mais tempos Seguem a Conjugaçaó dos verbos em ár; e só devereficaó[42]
no tempo prezente do modo do Infinito, e em todos os tempos delle[43].
(fl. 21) Modo Infin[ito]
Tempo
prez[ente]
Ler, ou que Leyo, Les, Lê
PL[ural] Lemos,
Ledes Lem
Pret[erito] imperf[eito]
Ler, ou que
Lia, Lias, Lia.
PL[ural]
Liamos, Lieis, Liaó.
E assim Se vay
seguindo até o fim a Conjugaçaó.
E sim sesegue
até o fim a conjugaçaó.
Exemplo dos
verbos em ir no modo infinito, que Só
neste de verseficaó a conjugaçaó.
Temp[o] prez[ente] do Indicat[ivo]
Eu ouço, tu
ouves, elle ouve.
PL[ural] Nos
ouvimos, vos ouvîs, elles ouvem.
Em todos os
mais tempos Seguem a conjugaçaó dos Verbos acima, menos no Prezente do infin[Ito], e em todoz os mais
tempos do mesmo modo infinito
Temp[o] prez[ente] do Infin[ito]
Ouvir, ou que
ouço, ouves, ouve
PL[ural]
Ouvimos, ouvîr, ouvem.
Pret[erito] imperf[eito]
Ouvir, ou que
ouvia, ouvias ouvia
PL[ural]
Ouviamos, ouvieis, ouviaó
EaSsim sesegue
até ofim a conjugação
Nesta forma
seconjugaó todos os verbos pessoaes activos. Chamaó-se pessoaes, porque tem
todas as pessoas assim no SinguLar, como no plural
Há verbos
impeSsoaes activos, e passivos, chamaó-Se impessoaes porque naó tem mais que a terceira pessoa do numero Singular
Exemplo de hú
verbo Impessoal activo
Temp[o] prez[ente] do Indi[cativo]
Pezame a mim,
Pezate a ti, Pezalhe a elle.
PL[ural]
Pezanos anos, pezavos avos Pezaó-lhes aelles
Pret[erito] imperf[eito]
Pezavame amim,
Pezavate ati Pezavalhe a elle.
PL[ural]
Pezavanos anos, Pezavavos avos, Pezavaó lhes aelles
Pret[erito]
(fl. 21v) Pret[erito] perf[eito].
Pezoume amim
e&rª
Pret[erito] mais que perf[eito]
Pezarame amim
e&rª
Fut[uro] imperf[eito]
Pezar-meha
amim.
Fut[uro]
Ja entaó meterâ
pezado
Temp[o] prez[ente] do Imper[artivo]
Pezeme amim
e&rª [etc]
Temp[o] prez[ente] do opt[ativo] e
imperf[eito]
Oxala mepezara
amim ou pezasse e&rª [etc]
Pret[erito] perf[eito].
Queira a Deos
que mepeze amim e&rª [etc]
Pret[erito] mais que perf[eito]
Provera a Deos,
que mepezara, ou metivera pezado e&rª [etc]
Fut[uro]
Praza a Deus que mePeze e&rª
Temp[o] prez[ente] do Conjunct[ivo]
Como amim
mepezara e&rª [etc]
Pret[erito] imperf[eito]
Como amim
mepezava e&rª [etc]
Pret[erito] perf[eito]
Como amim me
pezou e&rª [etc]
Pret[erito] mais que perf[eito]
como
Como amim
mepezava, ou tivera pezado e&rª [etc]
Fut[uro]
Como mepezar,
ou tiver pezado
Temp[o] prez[ente] do Infin[ito]
Que me peze
amim
Pret[erito] imperf[eito]
Que mepezava
amim
Pret[erito] perf[eito]
Que mepezou
Pret[erito] mais que perf[eito]
Que mepezara,
ou tiverapezado
Fut[uro][44]
Que me hadepezar.
Fut[uro][45]
Que mehouvera
depezar.
Gerundio
Depezar,
empezar, pezando e tendo pezado
Sup[ino]
Apezar para
pezar, aSer paraser pezado
Partecipio
O quepeza, e
pezava
Exemplo
(fl. 22) ExempLo de hum verbo impessoal, defectivo, passivo, e da sua
Conjugaçaó
Temp[o] prez[ente] do Indicat[ivo]
Peléjase
Pret[erito] imperf[eito]
Peléjavase
Pret[erito] perf[eito]
Peléjou-se
Pret[erito] mais q[ue] perf[eito]
Peléjara-se
Fut[uro] imperf[eito]
Peléjar-seha
Fut[uro] perf[eito]
Já entaó Se
terâ peléjado
Temp[o] prez[ente] do Imper[ativo]
Peléja tu
Temp[o] prez[ente] do Opt[ativo]
Oxalâ peléjara
eu, ou pelejase
Pret[erito] perf[eito]
Queira Deus, que tenha eupelejado.
Pret[erito] mais q[ue] perf[eito]
Provera a Deus que
pelejara eu, ou tivesse pelejado.
Fut[uro]
Praza a Deus que peléje eu
Temp[o] prez[ente] do Conjunct[ivo]
Como eupeléjo
ou tenho pelejado.
Pret[erito] imperf[eito]
Como eupelejava,
ou peléjando eu
Pret[erito] perf[eito]
Como eupelejei,
ou tenho pelejado
Pret[erito] mais q[ue] perf[eito]
Como
eupelejara, ou tivera pelejado
Fut[uro]
Como eu
pelejar, ou tiver peléjado
Temp[o] prez[ente] do infin[ito], e
imperf[eito]
Ter peléjar, ou
que pelejo
Pret[erito] mais q[ue] perf[eito]
Ter peléjado,
ou que peléjara, peLejaras, pelejara
Fut[uro]
Que hei, has,
hade pelejar
Partecip[io]
Hade sepeléjar
Exemplo do
verbo pessoal passivo, e sua Conjugaçaó do tempo prezente. Eu Sou amado, Tu es
amado, elle[46]
PL[ural] Nos Somos amados, vos Sois
amadoz, Ellez Saó amados
Pret[erito]
fl. 22v) Pret[erito]
imperf[eito]
Eu era amado,
tu eras amado Elle era amado
PL[ural] Nos
eramos amados, vos ereiz amados, elles eraó amados
Pret[erito] perf[eito]
Eu fui amado,
tu foste amado elle foi amado
PL[ural] Nos
fomos amados, vos fostes amados, elles foraó amados.
Pret[erito] mais que perf[eito]
Ja eu entaó
era, ou fora amado
Ja tu entaó
eras, ou foras amado
Ja elle entaó
era, ou fora amado.
PL[ural] Ja nos
entaó eramos, ou foramos amados;
Jâ vos entaó
ereis, ou foreis amados
Jâ ellez entaó
eraó, ou foraó amados
Fut[uro] imperf[eito].
Eu serei
amado
Tu Seras
amado
Elle Serâ
amado
PL[ural] Nos
Seremos amados
Vos Sereis
amados
Ellez Seraó amados.
Fut[uro] perf[eito]
Jâ eu entaó
Serey amado.
Já tu entaó
Seras amado
Ja elle entaó Serâ amado
PL[ural] Ja nos entaó Seremos amados
Jâ vos entaó
Sereis amados
Jâ ellez entaó Seraó amados.
Temp[o] prez[ente] do Imper[ativo]
Sê tu amado,
Seja elle amado
PL[ural]
Sejamos nos amados, Sejais Vos amados, Sejam ellez amados.
Futro] do Imperat[ivo]
Seras tu amado,
Serâ elle amado
PL[ural] Sereis
vos amados, Seraó elles amados.
Temp[o] prez[ente] do Opt[ativo]
Oxala fora eu,
ou fosse amado
foras tu amado
fora elle amado
PL[ural]
Foramos nos, ou fossemoz amados.
foreis vos
amados
foraó elles
amados.
Pret[erito] perf[eito]
Queira Deos que fosse eu amado
Que fosses tu
amado
Que fosse elle
amado
PL[ural] Que
fossemos nos amados
Que fosseis vos
amados
Que fossem
ellez amadoz.
(fl. 23)[47]
(fl. 23v) Pret[erito]. Imperf[eito]
Eu era amado, tu eras amado elle era amado
PL[ural] Nos eramos amados, vos ereiz amados, elles
eraó amados
Pret[erito] perf[eito]
Eu fui amado,
tu foste amado elle foi amado
PL[ural] Nos
fomos amados, vos fostes amados, elles foraó amados
.
Pret[erito] mais que perf[eito]
Ja eu entaó
era, ou fora amado
Ja tu entaó
eras, ou foras amado
Ja elle entaó
era, ou fora amado.
PL[ural] Ja nos
entaó eramos, ou foramos amados
Jâ vos entaó
ereis, ou foreis amados.
Jâ ellez entaó
eraó, ou foraó amados
Fut[uro] imperf[eito]
Eu serei
amado
Tu Seras
amado
Elle Serâ amado
PLural
Nos Seremos amados
Vos Sereis
amados
Ellez Seraó
amados
Fut[uro] perf[eito]
Jâ eu entaó
Serey amado.
Jâ tu entaó
Seras amado.
Ja elle entaó Serâ
amado
PLural
Ja nos entaó Seremos amados
Jâ vos entaó
Sereis amados
Jâ ellez entaó Seraó amados.
Temp[o] prez[ente] do Imper[ativo]
Sê tu amado,
Seja elle ama
PLural Sejamos nos amados, sejais Vos
amados, sejam
ellez amados
Fut[uro] do Imperat[Ivo]
Seras tu amado,
Serâ elle amado
PLural Sereis vos amados, Seraó elles
amados.
Temp[o] prez[ente] do Opt[ativo]
Oxala fora eu,
ou fosse amado
foras tu amado
fora elle amado
PLural Foramos nos, ou fossemoz amados.
foreis vos
amados.
foraó elles amados.
Pret[erito] perf[eito]
Queira Deos q'
fosse eu amado
Que fosses tu
amado
Que fosse elle
amado.
PLural Que fossemos nos amados
Que fosseis vos
amados
Que fossem
ellez amadoz
(fl. 24) Pret[erito] mais que perf[eito]
Provera a Deus que fora eu amado
Que foras tu
amado
Que fora elle
amado
PLural Que foramos nós amados
Que foreis vos
amados.
Que foraó elles
amados
Fut[uro]
Praza a Deus que Seja eu amado
Que Sejas tu
amado
Que Seja elle
amado.
PLural Que Sejamos nos amados
Que Sejais vos
amados
Que Sejam elles
amados
Mod[o] Prez[ente] do Conjunct[ivo]
Como eu sou
amado
Como tu es amado
Como elle he amado
PLural
Como nos Somos amados
Como Vos Sois amados
Como elles Saó amados
Pret[erito]
imperf[eito].
Como eu era amado
Como tu eras amado
Como elle era amado
PLural
Como nos eramos amados
Como vos ereis amados
Como ellez eraó amados
Pret[erito] perf[eito].
Como
Como eu fui
amado
Como tu foste
amado
Como elle foi
amado.
PLural Como nos fomos amados
Como vos fostes
amados
Como elles
foraó amados
Pret[erito] mais que perf[eito]
Como eu Ja era,
ou fora amado
Como tu Ja
eras, ou foras amado
Como elle ja
era ou for amado
PLural Como nos ja eramos, ou foramoz
amados
Como vos já
ereis ou foreis amadoz
Como elles já
eraó, ou foraó amados
Fut[uro]
Como eu for
amado
Como tu fores
amado
Como elle for
amado
Como nos formos
amados
Como vos fordes
amados
Como elles
forem amadoz.
Temp[o]
prez[ente] do Infin[ito]
Ser amado, ou que Sou, es, he, amado
PLural
Somos Sois, Sam amados.
Pret[erito]
imperf[eito]
Ser amado, ou
que era, eras, era amado
PLural Eramos, ereis, eraó amados
Pret[erito] perf[eito]
Que
(fl. 24v) Que fui, foste, foi amado
PLural Que fomos fostes, foraó amados
Pret[erito] mais que perf[eito]
Que era, ou
fora
Que eras, ou
foras
Que era, ou
fora amado
PLural Que eramos, ou foramos
Que ereis, ou
foreis
Que eraó, ou
foram amados
Fut[uro][48]
Que hey, has,
hade ser amado
Ou qie serey,
seras, Serâ amado
PLural Que havemos, haveis, haó deSer,
amados,
ou que Seremos
Sereis, Seraó amados
Fut[uro][49]
Que houvera
houveras, houvera de ser amado
PLural Que houveramos, houvereis, houveraó
de Ser amados.
Partecipio
Couza amada.
Couza
que hâ, ou houver deser amado.
Hé percizo
advertir, que o verbo passivo Sempre se ajunta em todos os modos tempos e
pessoas. O verbo auxiliar Sou, era, Fui,
fora Serey e&rª [etc]. Como V[erbi] g[ratia] no prezente do
Indicat[ivo]. Eu Sou amado. No mais que perfeito fora amado. No Futuro Serey amado e&rª [etc]. Esta Conjugaçaó Seguem todos os mais verbos
pessoaes passivos, q[ue] Saó Verbos integraes: Digo integraês, porque há muitos
verbos defectivos, e Anomalos, q[ue] Com o uzo, e prudente applicaçaó dos
Mestres Se aprendem.
Sam os verbos
deffectivos os Seguintes = Querer, Naó querer, mais querer, hir Lembrar,
conhecer, Aborrecer, e Comessar; Cujos verbos, devemos M[estr]es tambem enSinar
a Conjugar aos Seuz discîpulos, quando lhesforem ensinando a Ler as cartas. Na Certeza que a falta da
decLinaçaó dos Nomes, e da Conjugaçaó dos Verbos, e de naó darem aos meninos
nas Eschólas, ao menos esta Leve tintura de Gramatica Por- (fl. 25) tugueza, he a origem dos
barbarismos, queSenottaó nas Conversaçoés eSedevizam na escripta.
Hé moralmente
impossivel saber bem a Orthografrîa[50]
ignorando os primeiros principios da Lingoa em queSeescreve.
Os primeyros
principios da Lingoa, Saó as deCLinaçoens dos nomes, e as conjugaçoés dos
Verbos e hé couza bem Lamentavel, que para aprendermos a Lingoa Latina, a
lingoa Franceza, ou Italiana, que Saó hoje as mais vulgares, principiemos
decLinando nomes, e Conjugando Verbos; e que os naó Saybam os mais dos
homens fazer na Portugueza; sendo a
materia, que devemos estudar com todo o disvello para a podermos fallar Com
perfeiçaó.
As decLinaçoés
dos nomes Saó faceiz Como Semostra dos exemplos, que dey para norma.
As conjugaçoés
dos Verbos tem maiz dificuldade; mas Saó de huá necessidade abSoLuta. Quando hum Sujeito estâ inteyramente Senhor
da Variedade das Silabas, e da diversidade de todos os tempos doz Verbos; tem
vencido huá grande parte da Orthografîa; porque naó pode escrever com erros nas
dicçoés, que o nam tem na pronuncia das Silabas. Julgo o melhor, e mais facil modo de bem
Saber Lêr, e escrever a nossa Lingoa, vzar deste methodo nas Eschólaz; porque o
primeiro Leyte familiarizasse[51]
com os individuos, e hé muito natural, que Só Leve a Tumba aquiLo que deycha o berço: Rezaó porque em
todas as Nasçoenz Cultas. (fl. 25v)
Seestâ hoje ensinando a Ler, ainda debaicho de preceytos mais asperos que estes, que aConcelho aos Mestres, que
a falta de uzo delles lhos farâ parecer embaraçados, quando naó tem nada de
Confuzos. Devem os Mestres ensinar
como Regra geral aos Seus Discipûlos, que as terceyras pessoas dos verbos no
plural acabaó em - am, ou em -em: como Verbi
gratia. a maó ensinaó, Levam, vzaó, trazem, Lembraó, Lavam, estudam
e&rª. Em -em: como Verbi gratia
Lem, ouvem, querem, dizem, conhecem, aborrecem e&rª [etc]. Que a falta
desta RefLexaó, faz cahir em muitos erros assim na pronûncia, como na escripta.
Tambem lhes
ensinaraó, que a mayor parte dos verbos do modo infinito acabam em -ar, ou em
-er: como Verbi] gratia amar, ensinar, derrotar, Confiscar, bramar, uzar, Começar,
idolatrar e&rª ou em -er: como Verbi
gratia Ler, querer, aborrecer, Conhecer, estremecer e&rª [etc]. Tambem acabam muitos verbos no infinitivo em
-ir: Como V[erbi] g[ratia] Ouvir, esgremir, confundir, inquirir, prezumir
e&rª [etc]. E persuadaó-se os Mestres, que no cuidado de bem conjugar os
verbos, e decLinar os nomes, conSiste a perfeiçaó de bem fallar, e bem
escrever.
Tambem daraó
aos meninos esta Regra Certa para os nomes, assim Substanctivos, como
adjectivos, masculinos, ou femeninos, que todos os nomez do pLural Seformaó do
Singular, sem mais trabalho q[ue] ajuntar
lhe hum S. como V[erbi] g[ratia]. Anjo,
hé Singular, Anjos hé plural. Muza
Singular, acrescentandolhe hum S fica Muzas plural.
(fl. 26) Os adjectivos femininos se
formaó dos masculinoz Sem mais trabalho, que mudar o -o do masculino, em -a,
para o feminino: Como Verbi gratia.unido masculino; unida feminino; e assim nos mais, que com o
uso Se aprenderaó.
PadeceSe hum
grande engano na escripta Com o uzo dos accentos, para o que darey alguás
percauçoenz para os erros naó Serem taó Crassos. Devesse advertir, que os accentos Saó tres, agudo, grave, e Circumflexo. O accento agudo fere, ou faz que firamos a
voz, ou a Silaba em que carrega com huá pronuncia inteyramente Longa: como
V[erbi] g[ratia] Sobéca, e Charnéca e&rª. O accento grave abaixa a voz, fas
que a pronunciemos com hum Som maiz brando, e sepoêm Sobre a propoziçaó à: como
Verbi gratia à Joaó à Pedro, à Lisboa, à Pariz. O accento Circumflexo, naó fere, naó
Levanta, nem abaixa à voz, e Sepoêm Sobre o ê: como verbi gratia Lamêgo.
Tambem devemos
uzar do Apostrofe, que tem osseu[52]
Lugar na prepoziçaó de, e nas adjecçoens Silabicas me, te, Se, e&rª Quando addicçaó, que Se lhes Segue
principia por Vogal: Verbi gratia. d'Almeyda, d'Almada d'Olanda.
e&rª. Na adjecçaó m'obriga,
m'honra, m'afflige e&rª. T'affLige, t'apressa, t'inspira e&rª.
Vzo das Letras Capitaes, ou Letras grandez
Devesse[53]
escrever com Letra Capital Deos, Jesus, Christo. To (fl. 26v)
Todos os nomes
proprîos prîncipiaó por Letra capital: Verbi
gratia. Pedro, Joaó, Manoel,
e&rª Maria, Antonia, Thereza, Raymunda.
Principiaó por
Letras Capitaés os nomes de dignidades: como Verbi gratia Bispo;
Governador, Coronel, Brigadeiro, Sargento Mor Capitam e&rª
Tambem
principiaó por Letra Capital os nomes de Reynos, Cidades, Villas, Portugal,
Castella, França, Napoles Sardenha e&rª [etc]. Lisboa, Coîmbra, Porto,
Braga, Miranda e&rª. Estremoz, Borba, Almada, Mafra, Recife e &rª
[etc].
Tambem os nomes de Artes; Pintor, Ourivez,
Selleyro, Çapateiro e&rª [etc].
Toda a
escripta, e todo o discurso de qualquer qualid[ad]e; queSeja principia sempre
por Letra Capital, depois de ponto sedeve
Seguir Sempre Letra Capital. Todo o
Parrafo[54]
principia por Letra Capital. Todos os
Versos principiaó na mesma forma para SeLer com perfeiçaó e Sentido, Sedeve
guardar as virgulas, os pontos de interrogaçaó, de admiraçaó, observandosse[55]
estas breves advertencias. Faraó os
Mestrez Serviço a Deos, e ao pubLico, que hé aquillo, a que todos devemoz (fl. 27) aspirar, os que quizermos viver
como homens, e Como Catholicos, de que
nos devemoz prezar como Racionaez".
[1] Professora do Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica do Salvador - UCSal, Professora Emérita da Universidade Federal da Bahia.
[2] O til está delineado como apóstrofe.
[3]
Existe um exemplar no IEB - Instituto de Estudos Brasileiros da USP. Calígrafo,
Figueiredo nasceu. Entre 1665 ou 1670, no Espírito Santo. Era filho do
Governador daquela Capitania, Antônio Mendes de Figueiredo e de dona Maria
Coelho. Faleceu em Lisboa a 4 de julho de 1735. Existe um outro exemplar no
Caraça,
[4] Os fólios não estão numerados nos originais.
[5] O til está delineado como apóstrofe.
[6] S minúsculo grafado ao contrário.
[7] S caudado.
[8] Duplo t, um maiúsculo e um minúsculo.
[9] 2 xis.
[10] Provavelmente oe.
[11] Está nessa ordem.
[12] O u foi omitido.
[13] Traço reto sobre as vogais.
[14] O desenho corresponde ao til.
[15] Etc.
[16] Abreviatura com m duplo significando plural.
[17] Grafado com s caudado.
[18] Está entrelinhas.
[19] DD dobrados indicando plural.
[20] A palavra foi reproduzida como no texto porque está grafada com o S caudado que equivale a ss.
[21] Duplo p para indicar plural.
[22] Grafado junto por causa do S caudado que equivale a ss.
[23] Grafado, no original, com s caudado.
[24] Duplo s para indicar plural.
[25] N nas entrelinhas.
[26] Omitido.
[27] Grafado com s caudado.
[28] Expressão que equivale aproximadamente a "além", "a par".
[29] Grafado com S caudado.
[30] Rasurado: o s foi grafado com aparência de g.
[31] Pressa.
[32] Grafado com s caudado.
[33] P e N duplos para indicar plural.
[34] Sufixo em S caudado.
[35] E etc.
[36] Grafado com s caudado equivalente.
[37] Foi utilizada a mesma disposição do manuscrito.
[38] Conjugado no princípio do fólio 19.
[39] Sic.
[40] Sic.
[41] Sic.
[42] Sic.
[43] Muda para a folha seguinte.
[44] Sic.
[45] Sic.
[46] Sic.
[47] Repete as conjugações da fl. 24.
[48] Sic.
[49] Sic.
[50] Sic.
[51] Grafado com s caudado.
[52] Grafado com s caudado.
[53] Grafado com s caudado.
[54] Sic.
[55] Grafado com s caudado.