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TEIXEIRA, Anísio. Carta a Deocleciano Pires Teixeira, Bahia, 18 nov. 1927.
Localização do documento: Fundacão Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATc22.03.06.


A bordo do "Alcântara"
nov. 18, 927

Papai

No Rio recebi o afetuoso telegrama com que me vieram ao encontro apenas cheguei ao Brasil. Hoje estou a bordo do "Alcântara" em caminho da Bahia. Infelizmente esta Bahia não é Caetité e eu não posso identificar a chegada do meu estado, com a chegada à "Casa".
Demorei-me nos Estados Unidos cerca de seis meses. Durante esse tempo estudei, visitei escolas, fiz boas relações e acredito que aprendi um pouco.
A nomeação com que me surpreendeu o Dr. Calmon no princípio de seu governo, marcou a minha carreira. E hoje, por gosto e pela orientação que têm os meus estudos, pretendo não me afastar mais do campo da educação onde comecei a minha vida. São essas as disposições que trago da América e quero crer que o Brasil e a Bahia, apesar de todos os aborrecimentos dos jornais e de todas as flutuações da política, me ajudarão, ou pelo menos não me impedirão esse desejo.
Nenhum trabalho poderia me apaixonar, que fosse mais vasto ou mais necessário do que este. E sobretudo, irredutivelmente idealista como me parece que sou, nenhum outro me será tão querido ao coração e à inteligência.
Dentre as vantagens da minha excursão à América, aponto como uma das principais a renovação desse entusiasmo que me ia gastando no atrito da vida baiana e a segurança com que me vou dedicar ao trabalho que, em circunstâncias tão excepcionais, veio a cair-me sobre os ombros.
Nesse mesmo vapor em que viajo, viaja o futuro governador, Vital, que vai à Bahia, ler a sua plataforma. Ainda não me atrevi a falar com ele a propósito da carta com que Mário vem a surpreender-me tão profundamente. Sei, pelo Homero, que o Vital recebeu mais esse desgosto, com a serenidade que é tanto do seu caráter. Li o telegrama de Papai a Homero e calculei até que ponto lhe feriu o ato de Mário. Entretanto, devemos considerar que a carta de Mário participou de tal forma do exagero das acusações de oposição que se tornou insignificante. Foi Talleyrand que disse que tudo que era exagerado era insignificante. É uma palavra profundamente verdadeira.
Dessa insignificância está a participar hoje toda a campanha contra o Góes Calmon e o nosso Vital. Ninguém lhes dá ouvidos e ninguém lhes dá crédito. Também ninguém deu ouvidos ou crédito à carta do Mário. Só a ele temos que lamentar por ter dado ao público uma tão solene prova de falta de solidariedade com você e com toda a família. Isso é que sinto e isso é que sei você também sente. Mas, que se há de fazer? Nada mais do que pôr mais esse desgosto no rol dos muitos que a vida nos reserva e continuar a trabalhar para que Mário venha ver a justiça de caráter de um homem como Vital e a justiça da nossa atitude. Fora daí tudo será cavar ainda mais os equívocos com que o nosso Mário está se divorciando de um entendimento e de uma orientação que são e devem ser de toda a nossa família.
Ainda não escrevi para Guanambi. Pretendo fazê-lo com mais calma, embora saiba que não é a mim que o Mário vem a atender. Quero entretanto cumprir o meu dever de irmão e amigo para com ele.
Adeus. Não sei quando irei a Caetité. Lembre-me a todos e atenções o filho afetuosíssimo

Anísio  

 

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