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TEIXEIRA, Anísio. Carta a Alceu de Amoroso Lima,
Rio de Janeiro, 17 maio 1964.
Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC
- Arquivo Anísio Teixeira - ATc
64.05.17.
Rio, 17 de maio, 1964.
Meu caro prof. Amoroso
Lima:
Outro dia custou-me não lhe escrever uma
palavra de agradecimento, quando incluiu o meu nome entre os que estão sofrendo
discriminação e castigo nesta hora tão pouco alta da vida brasileira. Não o fiz
porque poderia parecer dar sentido pessoal ao que fora escrito com puro
espírito público.
Pouco depois, o seu "Deus ao alto", no Jornal do Brasil, de novo
convocou-me a um movimento de solidariedade. Lobato sempre me lembrava que o
escritor precisa da correspondência do leitor. E a sua mensagem sugeria a
altura de onde hoje nos fala. A velha Índia distribuía a vida humana em quatro
períodos: vinte anos para escrever, vinte anos para lutar, vinte anos para
realizar e, depois, a subida à montanha: a meditação, o conselho, o olhar
"desinteressado", melhor "livre" sobre a vida... Sinto-o,
cada vez mais, na montanha. E precisamos, sobretudo na hora que passa, de quem
nos fala de lá...
Estava com esse desejo de comunhão quando hoje, no Diário de Notícias, leio seu
julgamento tão generoso sobre as minhas considerações sobre o "mestre de
amanhã". Já agora cabe o agradecimento pessoal. A vida não me deixou ser
senão um homem de ação, de fato, de administração, escrevendo ao comando da
circunstância, do dever imediato do meu cargo. Mas todos precisamos do conforto
e do estímulo do próximo. E o próximo são todos , mas,
sobretudo, os que lavram a seara comum. E suas palavras, palavras de Amoroso
Lima, deixam-me confortado e estimulado.
Muito e muito agradecido, seu admirador e amigo
Anísio Teixeira