Durmeval Bartolomeu Trigueiro Mendes nasceu em 9 de
fevereiro de 1927 em Cuiabá, para onde fora transferido seu pai, funcionário do
Banco do Brasil. Mas não chegou a conhecer essa cidade: quando tinha dois meses
de idade, a família retornou à Paraíba. Durmeval às
vezes referia-se ao capricho da sorte que fez com que, durante sua vida
pública, viajasse conhecendo todos os Estados do Brasil, com exceção de Mato
Grosso. Por duas vezes esteve para ir lá, a convite de sua Universidade, mas ambas
as viagens foram canceladas por motivos alheios à sua vontade. Na Paraíba
passou toda a infância e adolescência e iniciou sua carreira no magistério e na
administração educacional.
Aos 12 anos entrou para o Seminário Arquidiocesano de João Pessoa, aí
realizando o curso secundário e o curso de Filosofia. Para poder lecionar no
nível médio, ao deixar o Seminário fez o curso de Letras Clássicas na
Universidade Católica de Pernambuco.
Em 1951, quando tinha 24 anos, foi nomeado Secretário da Prefeitura de
Campina Grande; em 1952 exerceu o cargo de Diretor do Departamento de Educação
do Estado da Paraíba e começou a lecionar no magistério superior como professor titular de
Sociologia da Educação. Paralelamente, matriculou-se na Faculdade de Direito do
Recife, onde colou grau de bacharel em 1954. Neste mesmo ano o governador José
Américo de Almeida o nomeou como titular da Secretaria de Estado de Educação e Cultura, cargo
que continuou exercendo na administração seguinte, do governador Flávio Ribeiro
Coutinho.
Ainda em 1954, mediante concurso público, foi admitido na função de
Inspetor de Ensino do MEC e encarregado, pelo governador José Américo, de
organizar a Universidade Estadual da Paraíba. Com a criação da
Universidade, em 2 de dezembro de 1955, foi escolhido pelo Conselho
Universitário como seu primeiro Reitor, cargo que exerceu juntamente com o de
Secretário de Estado de Educação até dezembro de 1956.
A convite dos governos da França e da Alemanha, realizou em 1957
viagem de um ano à Europa, onde observou os sistemas educacionais desses dois
países, visitando também diversas universidades inglesas. Durante sua estada em
Paris recebeu carta de Anísio Teixeira, Diretor do Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), convidando-o para o cargo de
Supervisor da Campanha de Educação Complementar. Foi no Rio de Janeiro, a
partir de 1958, que centrou suas atividades profissionais como educador,
pesquisador, conferencista, administrador e consultor junto a empresas de
planejamento educacional. Desde o primeiro ano na capital federal reintegrou-se
no magistério superior, lecionando Filosofia da Educação no Curso de Pedagogia
da PUC/RJ. Em 1960 foi designado para integrar o Conselho Consultivo da CAPES -
Campanha Nacional de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior.
Por indicação de Anísio Teixeira ao Ministro Antônio Oliveira Britto,
em 1961, foi nomeado Diretor do Ensino Superior do MEC, cargo que exerceu
até 1964, num período bastante conturbado, como demonstra o fato de, durante
sua gestão, terem passado pelo Ministério da Educação oito Ministros de Estado.
Ainda em 1961 terminava a longa discussão da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional e era criado o Conselho Federal de Educação. Por convocação
do Ministro Oliveira Britto, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Durmeval Trigueiro selecionaram os nomes que comporiam o
Conselho recém-instituído, que se caracterizaria pelas posições doutrinárias
diferentes, e até antagônicas, de seus membros. Começava a explosão desordenada
do ensino superior brasileiro, a criação de faculdades muitas vezes atendendo a
interesses políticos locais ou a um incipiente empresariado escolar mais atento
aos lucros que à mobilização cultural, ao ensino e à pesquisa. À frente da
Diretoria do Ensino Superior e da COSUPI
- Comissão Supervisora do Plano de Institutos, que acabava de
ser reestruturada e vinculada à Diretoria, Durmeval
procurava, com a análise cuidadosa de cada proposta de surgimento de novas
escolas, conter as influências clientelistas e
colocar um mínimo de racionalidade na expansão do ensino superior.
Integrando a delegação brasileira, proferiu em 1962 a conferência de
abertura do Congresso Internacional de Universidades Populares, realizado em Buenos Aires. No ano seguinte, também em Buenos Aires, representou o MEC na elaboração do Acordo
Cultural que seria celebrado entre o Brasil e a Argentina.
Em 1964, pouco antes do golpe militar, foi designado para o Conselho Federal de Educação. Continuou a sustentar
idéias contrárias às posições oficiais, quando as percebia eivadas de falácias
ou de distorções da problemática educacional brasileira. Difundiu essas idéias
em pareceres normativos e doutrinários, comunicações e seminários
do Conselho; em conferências e aulas inaugurais que proferiu por
todo o País; em artigos e ensaios publicados principalmente na Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos e na Revista de Cultura Vozes; nas cadeiras
de História do Pensamento Econômico e de Sociologia, que assumiu na
Universidade do Estado da Guanabara desde 1965, e como professor titular de
Fundamentos Sociológicos da Educação, a partir de sua transferência da
Universidade Federal da Paraíba, em 1968, para a Faculdade de Educação da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Casou-se em 1965 com Maria Márcia de Barros Lima. Tiveram dois filhos:
André, nascido em 1966, e Daniel, nascido em 1968.
Foi Coordenador da Comissão INEP / UNESCO, instituída em 1966 no
âmbito do Ministério da Educação com o nome de CEOSE - Colóquios Estaduais
sobre a Organização dos Sistemas Educacionais, que, durante três anos, prestou
cooperação técnica em matéria de planejamento, organização e reestruturação dos
sistemas educacionais de 14 Estados brasileiros. Ainda neste ano, foi eleito
membro do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação.
Em 1967 integrou a Comissão de Especialistas que, sob os auspícios da
UFRJ, elaborou o plano de estruturação da Faculdade de Educação, concluído em
1969.
Novamente a convite dos governos da França e da Alemanha, em 1968
voltou a visitar diversas universidades nos dois países. Designado perito da
UNESCO, retornou logo depois à Europa para participar, como representante da
América Latina num grupo de dez especialistas, da reunião promovida pela UNESCO
em Moscou com a finalidade de discutir a comparabilidade e equivalência
internacional dos estudos secundários e dos diplomas e graus universitários.
Foi também indicado Presidente do Instituto Brasileiro de Filosofia, seção
Guanabara, no biênio 1968/69.
Em 1969, integrou a Equipe de Levantamentos e Diagósticos
do Serviço de Assistência Técnica do INEP. Coordenou o Curso de Planejamento
Educacional realizado pela Universidade do Estado da Guanabara em nível de
pós-graduação e participou do Grupo de Trabalho encarregado de elaborar um
plano de reestruturação desta Universidade. Foi Relator-Geral da IV Conferência
Nacional de Educação, realizada em São Paulo. No Conselho Federal de Educação,
continuava a ser, com freqüência, voto vencido, mas considerava que uma de suas
funções era exatamente analisar, propor, resistir. Em 28 de agosto, foi
informado pela televisão de sua aposentadoria
imposta pelo AI-5.
Foi na PUC / RJ que retomou, em 1970, suas atividades de magistério,
como professor adjunto do Departamento de Educação e coordenador da área de
Planejamento Educacional no Curso de Mestrado em Educação. No ano seguinte foi
designado assessor técnico da Fundação Getúlio Vargas e incumbido de elaborar o
arcabouço do Instituto de Estudos Avançados em Educação - IESAE, inaugurado em
1971. Neste mesmo ano, elaborou o projeto de estruturação dos cursos de
pós-graduação do Departamento de Ciências Sociais da PUC/RJ e integrou a equipe
da Enciclopédia Mirador Internacional, na parte de
Filosofia.
No início de 1972, aos 45 anos, sofreu derrame cerebral seguido de
afasia, cujas seqüelas o obrigaram a uma batalha cotidiana para continuar
produzindo, lutando, vivendo.
Dois anos depois, voltou a lecionar na PUC / RJ, foi designado
professor titular de Filosofia da Educação e Filosofia da Educação Brasileira
no Curso de Mestrado em Educação do IESAE e trabalhou como consultor do INEP na
organização do Thesaurus Brasileiro de Educação. As dificuldades que encontrava
para dirigir-se aos alunos, para acompanhar um debate, para escrever suas
idéias, iam sendo contornadas pelo persistente trabalho de terapia da palavra,
pela constante e carinhosa assistência de amigos e colegas e pela designação de
professores assistentes, providências que o auxiliaram a cumprir seus
compromissos profissionais. A partir de 1974 integrou o Conselho Coordenador do
IESAE e, desde 1977, o Conselho Editorial da Revista Fórum Educacional. Em 1977
coordenou o projeto de pesquisa "Filosofia da Educação Brasileira",
com apoio do INEP e a participação de professores do IESAE, da PUC / SP e da
USP. O relatório final da pesquisa, concluída em 1979, foi publicado em 1983
pela Editora Civilização Brasileira e teve em 1998 a sua 6ª edição.
Em conseqüência da Lei da Anistia, reassumiu, em 1980, as funções de
professor titular da UFRJ, na Faculdade de Educação, e de Técnico em Assuntos
Educacionais do MEC. Em 1985 presidiu a comissão julgadora do Prêmio Grandes
Educadores Brasileiros, instituído pelo INEP. No ano seguinte foi designado
assessor da Sub-Reitoria de Ensino de Graduação e Corpo Discente da UFRJ.
Em 1987, trabalhava no Doutorado em Educação da UFRJ na elaboração de
um projeto de pesquisa sobre "O saber e o poder na cultura e na
educação", e continuava seu trabalho docente no IESAE e na PUC / RJ.
Faleceu no dia 9 de dezembro, vitimado por um acidente de tráfego na Praia de
Botafogo, Rio de Janeiro.
Durmeval Trigueiro Mendes recebeu, em homenagem póstuma, os títulos de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba, em junho
de 1988, e de Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em
novembro do mesmo ano.
Fonte:
"O Autor". In: Durmeval Trigueiro Mendes - filosofia política da
educação brasileira. Rio de Janeiro: Fundação Universitária José Bonifácio
/ Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1990, p. 193-199.
http://www.durmevaltrigueiro.pro.br/biografia1.htm