André
Marie Ampère[1] As entidades científicas das nações européias tinham uma
preocupação constante: eleger como membros honorários ou mesmo presidentes,
igualmente honorários, seus respectivos reis e imperadores. A Academia
Francesa de Ciências não escapou à regra, e foi assim que Napoleão Bonaparte
passou a fazer parte da grande instituição. Por uma série de motivos, entre
os quais a pouca disposição do imperador em assistir a longos debates
científicos, sua assiduidade às sessões da Academia não poderia ser das
maiores. Na verdade, consta que ele só compareceu ali uma vez, para agradecer
a honra da eleição. Nesse dia, um dos acadêmicos expunha a seus confrades
algumas conclusões a que chegara em suas experiências. Julgando inoportuna a
presença de um estranho no recinto da assembléia, solicitou sua expulsão
sumária. O "intruso", porém, não se sentiu ofendido diante da
distração do cientista, e convidou-o para almoçar em sua companhia. O
acadêmico agradeceu a Napoleão a honra inusitada e prometeu que estaria nas Tulherias no dia seguinte, à hora marcada. Ao imperador,
porém, estava reservada uma segunda surpresa: o cientista, fazendo jus à sua
fama de distraído, deixou-o esperando em vão, a mesa posta. O autor da desfeita, imperdoável para o comum dos mortais,
foi André Marie Ampère, que, graças a seus estudos
sobre o eletromagnetismo, abriu uma nova trilha para o conhecimento da
eletricidade. (Casa onde Ampère nasceu) Ampère nasceu em 1775,
em Polemieux-Le-Mont-d'Or, uma herdade próxima a
Lyon. Seu pai, abastado comerciante nessa cidade, tinha em mira
proporcionar-lhe uma educação tão completa quanto possível, inclusive uma
sólida formação religiosa. Como não queria que o filho adquirisse, ao lado
dos ensinamentos religiosos, uma carga adicional de preconceitos, resolveu
supervisionar ele próprio essa educação, confiando na ajuda de uma vasta
biblioteca, que Ampère, aos onze anos, já havia
lido inteiramente. Depois da biblioteca paterna, o jovem passou a estudar
matemática, começando pelas obras de Euler e
Bernoulli, tarefa difícil para o principiante, pois requer um conhecimento
prévio sobre ramos bastante complexos da matemática. Além disso, Bernoulli escrevera
suas obras em latim, língua que Ampère desconhecia.
No decurso de poucas semanas aprendeu esse idioma com o pai e, no mesmo
período de tempo, adquiriu rudimentos de análise infinitesimal com o
bibliotecário do colégio de Lyon. Assim, a exemplo de Pascal, aos doze anos
já podia escrever um tratado sobre as seções cônicas. Todavia, o campo de interesses de Ampère
não se limitava à matemática: lia Virgílio no original e começou a estudar
botânica, atividade que nunca abandonou. Aos dezoito anos de idade leu a
recém-editada Mecânica Analítica, de Lagrange,
refazendo, sem qualquer orientação, todos os cálculos constantes do texto. Segundo seu filho Jean-Jacques, Ampère
sofreu três importantes influências, que lhe nortearam constantemente a vida
intelectual. A primeira foi o cartesianismo, que regeu sua atividade
científica e pensamento filosófico. A segunda foi a religião, que sempre
conseguiu conciliar com a Ciência. Finalmente, a terceira foi o advento da
Revolução Francesa em 1789, quando ele tinha catorze anos. Seu pai, guilhotinado quatro anos depois, na época do
Terror, foi uma vítima da Revolução que, apesar disso, continuou alimentando
os sentimentos liberais de Ampère. Em 1799, casou-se, e em 1803 publicou sua primeira obra
matemática: Ensaio sobre a Teoria Matemática do Jogo. Graças a ela,
foi-lhe conferida a cátedra de matemática Apesar de ter lecionado por tantos anos, não se distinguiu
nessa atividade, e tudo indica que sua vocação não era o magistério. Ampère teve uma vida
amorosa conturbada, pois sua primeira mulher, por quem nutria uma grande
paixão e que lhe deu um filho, morreu poucos anos após o casamento. Casou-se
novamente e teve uma filha, porém o segundo matrimônio o empolgou bem menos
do que o primeiro, como se pode deduzir de suas próprias palavras: "É
preciso escolher entre a amizade e o amor; será a amizade para sempre". A 18 de setembro de 1820, Ampère
apresentou à Academia suas primeiras observações sobre a ação magnética das
correntes elétricas. O interesse pelo assunto lhe fora despertado na sessão
anterior da Academia, quando Oersted divulgou seus
primeiros trabalhos referentes ao magnetismo. Em poucas semanas, Ampère demonstrou que as correntes elétricas se atraem ou
se repelem mutuamente, descrevendo também as leis que regem o fenômeno. Essa
descoberta eliminou da Ciência a idéia dos "fluidos magnéticos",
entidades obscuras e misteriosas, que eram responsabilizadas pelas propriedades
magnéticas da matéria. (máquina para
produzir eletricidade estática) Até 1827, continuou fazendo à Academia comunicações
referentes às suas "observações eletrodinâmicas", como ele as
chamava. Sua leitura revela que cada um dos resultados de seus cálculos era
cuidadosamente verificado mediante uma experiência direta, sem deixar margem
a dúvidas ou dar uma idéia obscura dos fenômenos descritos. Desenvolveu um
método de trabalho baseado no uso de aparelhos muito simples, e seus
raciocínios eram fundamentados numa lógica muito rígida, onde se percebe
muito do racionalismo cartesiano que admirava. Para explicar o fato de que um ímã atrai ou repele um fio
no qual passa uma corrente elétrica, Ampère
introduziu a hipótese de que nos ímãs o magnetismo era devido à existência de
correntes elétricas em sua superfície, em torno de seu eixo. Alguns meses
mais tarde, por influência de Fresnel, corrigiu essa concepção, situando
essas correntes não na superfície dos ímãs, mas ao redor de suas moléculas.
São as correntes moleculares, que constituiriam a explicação
unanimemente aceita para os fenômenos magnéticos, até o advento da mecânica
quântica. No ano de 1827, escreveu a Teoria matemática dos
fenômenos eletrodinâmicos, deduzida unicamente da experiência, obra em
que conclui suas pesquisas sobre a eletricidade e o magnetismo. Constitui a
síntese de suas comunicações à Academia, feitas de junho de (Modelo do
galvanômetro usado por Ampère) Na mesma obra, Ampère enunciou
quatro importantes princípios relativos ao eletromagnetismo, extraídos de
suas experiências. Em suas próprias palavras: 1) as ações de uma corrente
ficam invertidas quando se inverte o sentido da corrente; 2) há igualdade nas
ações exercidas sobre um condutor móvel por dois outros, fixos, situados a
igual distância do primeiro; 3) a ação de um circuito fechado, ou de um
conjunto de circuitos fechados sobre um elemento infinitésimo de uma corrente
elétrica, é perpendicular a esse elemento; 4) com intensidades constantes, as
interações de dois elementos de corrente não mudam quando suas dimensões
lineares c suas distâncias são modificadas em uma mesma proporção. Em 1821, portanto no início de suas observações sobre o
magnetismo, Ampère procurou determinar se seria
possível produzir uma corrente elétrica pela influência de outra. Em 1822,
ele e Auguste de A atividade científica de Ampère
não se limitou somente ao magnetismo, pois publicou obras referentes à
mecânica, à análise matemática, à geometria dos poliedros, à refração, à
óptica teórica e à zoologia. Em sua última obra, pouco antes de morrer em 1836, Ampère empreendeu uma classificação analítica de todo o
conhecimento humano. Figurou também entre os partidários da recém-enunciada
teoria atômica da matéria. Em homenagem a Ampère,
que Maxwell apelidou "o Newton da Eletricidade", a unidade de
intensidade da corrente elétrica leva seu nome. FONTE:www.saladefisica.cjb.net Maria Isabel Moura NASCIMENTO GT : Campos Gerais-PR- Universidade
Estadual de Ponta Grossa |
(1775 - 1836)