Augusto Comte (1798-1857)[1]
Foi estudante da
Politécnica aos 16 anos. Em 1832 é
nomeado explicador de análise e de mecânica nessa mesma escola. A obra
de Comte guarda estreitas relações com os acontecimentos de sua vida. Dois
encontros capitais presidem as duas grandes etapas desta obra. Em 1817, ele
conhece H. de Saint-Simon: O Organizador, o Sistema
Industrial, e concebe, a partir daí, a criação de uma ciência
social e de uma política científica. Já de posse, desde 1826, das grandes
linhas de seu sistema, Comte abre em sua casa, rua do Faubourg Montmartre, um Curso de filosofia positiva -
rapidamente interrompido por uma depressão nervosa - (que lhe vale ser
internado durante algum tempo no serviço de Esquirol). Retoma o ensino em 1829.
A publicação do Curso inicia-se em 1830 e se distribui em 6 volumes até 1842.
Em 1844 publica o prefácio do curso sob o título: Discurso dobre o espírito positivo. É em outubro de 1844
que se situa o segundo encontro capital que vai marcar uma reviravolta na
filosofia de Augusto Comte. Trata-se da irmã de um de seus alunos, Clotilde de
Vaux, esposa abandonada de um cobrador de impostos (que fugira para a Bélgica
após algumas irregularidades financeiras). Na primavera de 1845, nosso filósofo
de 47 anos declara a esta mulher de 30 seu amor fervoroso. "Eu a considero
como minha única e verdadeira esposa não apenas futura, mas atual e
eterna". Clotilde oferece-lhe sua amizade. É o "ano sem par" que
termina com a morte de Clotilde a 6 de abril de 1846. Comte sente então sua
razão vacilar, mas entrega-se corajosamente ao trabalho. Entre 1851 e 1854
aparecem os enormes volumes do Sistema de
política positiva ou Tratado
de sociologia que intitui a religião da humanidade. O último volume
sobre o Futuro humano prevê
uma reformulação total da obra sob o título de Síntese Subjetiva. Desde 1847 Comte proclamou-se grande
sacerdote da Religião da Humanidade. Institui o "Calendário
positivista" (cujos santos são os grandes pensadores da história), forja
divisas "Ordem e Progresso",
"Viver para o próximo";
"O amor por princípio, a ordem por
base, o progresso por fim", funda numerosas igrejas
positivistas (ainda existem algumas como exemplo no Brasil).Morre em 1857 após
ter anunciado que "antes do ano de 1860" pregaria "o positivismo
em Notre-Dame como a única religião real e completa". Comte partiu de uma
crítica científica da teologia para terminar como profeta. Compreende-se que
alguns tenham contestado a unidade de sua doutrina, notadamente seu discípulo
Littré, que em 1851 abandona a sociedade positivista. Littré - autor do célebre
Dicionário, divulgador do positivismo nos artigos do Nacional - aceita o que
ele chama a primeira filosofia de Augusto Comte e vê na segunda uma espécie de
delírio político-religioso, inspirado pelo amor platônico do filósofo por
Clotilde. Todavia, mesmo se o encontro com Clotilde deu à obra do filósofo um
novo tom, é certo que Comte, já antes do Curso de filosofia positiva (e
principalmente em seu "opúsculo fundamental" de 1822), sempre pensou
que a filosofia positivista deveria terminar finalmente em aplicações políticas
e na fundação de uma nova religião. Littré podia sem dúvida, em nome de suas
próprias concepções, "separar Comte dele mesmo". Mas o historiador,
que não deve considerar a obra com um julgamento pessoal, pode considerar-se
autorizado a afirmar a unidade essencial e profunda da doutrina de Comte.
Para leitura mais
completa indicamos: Os Pensadores.
Augusto Comte. Consultoria José Arthur Gianotti. 2000. São Paulo. BASTIDE, Paul Arbousse. Auguste Comte. São Paulo. Edições 70. sd.