Eurico Gaspar Dutra
Eurico Gaspar Dutra nasceu em Cuiabá, em 1883. Militar, ingressou na Escola Militar da
Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, em 1904. Nesse ano, participou, junto com
companheiros de corporação, da Revolta da Vacina, deflagrada na capital federal
contra o governo do presidente Rodrigues Alves. Por conta disso, foi expulso da
Escola Militar, só retomando seus estudos no ano seguinte, quando foi
anistiado.Em 1906, ingressou na Escola de Guerra de Porto Alegre; em seguida,
cursou a Escola de Artilharia e Engenharia. Durante a década de 10, foi
freqüente colaborador da revista Defesa Nacional, destinada ao meio militar. Em
1922, concluiu o curso da Escola do Estado-Maior.
Durante a década de 20, por várias vezes esteve envolvido na repressão
aos levantes tenentistas então deflagrados contra o governo federal, como em
1922, no Rio de Janeiro, e em 1924, em São Paulo. Convidado a participar da
Revolução de 1930, preferiu manter-se ao lado das forças legalistas.
Aproximou-se do governo Vargas a partir de 1932, quando teve
importante participação no combate ao movimento constitucionlista
desencadeado contra o governo federal, em São Paulo. Pouco tempo depois,
atingiu o generalato e, entre 1933 e 1934, presidiu o Clube Militar. Em 1935,
comandava a 1ª Região Militar, sediada na capital federal, quando chefiou a
repressão ao levante armado deflagrado na cidade por setores vinculados à
Aliança Nacional Libertadora (ANL), frente anti-imperialista e anti-fascista,
integrada por comunistas, socialistas e "tenentes"de es querda.
Em dezembro de 1936, foi nomeado ministro da Guerra. Nesse posto,
cumpriu papel decisivo, junto com Vargas e com o general Góis Monteiro, no
fechamento do regime, que levou à instauração da ditadura do Estado Novo, em
novembro de 1937. Nesse processo, colaborou ativamente na divulgação de uma
suposta ameaça comunista e no afastamento do governador gaúcho Flores da Cunha,
último obstáculo à concretização do golpe.
Durante o Estado Novo, Dutra impôs a coesão na conduta política dos militares
através do expurgo sistemático dos elementos dissidentes, ao mesmo tempo que
promovia a modernização e a ampliação do poderio das Forças Armadas,
consolidando o papel decisivo exercido pela instituição no jogo político do
país. Sua demora em promover o combate ao levante integralista deflagrado em
maio de 1938, no qual a residência de Vargas foi atacada pelos rebeldes, gerou
suposições, jamais confirmadas, sobre sua conivência com a insurreição.
Também durante sua gestão teve lugar o processo de envolvimento do
Brasil na Segunda Guerra Mundial. A princípio, Dutra e Góis Monteiro
constituíam a base principal do setor governista que defendia a aproximação do
Brasil às potências do Eixo, enquanto uma outra facção, capitaneada pelo
ministro da Fazenda Osvaldo Aranha, defendia a aproximação com os Aliados, mais
especificamente com os Estados Unidos. A opção do governo brasileiro pelo
alinhamento com os EUA, finalmente definida em 1942, foi aceito com relutância
por Dutra. Mesmo em 1943, quando as relações diplomáticas do Brasil com os
países do Eixo já haviam sido rompidas, Dutra ainda deixava transparecer suas
inclinações políticas ao colocar obstáculos ao funcionamento da Sociedade
Amigos da América, entidade estimulada por setores liberais e presidida pelo
general Manoel Rabelo. Seus atritos com a facção liberal do regime resultaram,
inclusive, no afastamento de Osvaldo Aranha do Ministério da Fazenda, após a
interdição de uma solenidade em sua homenageado pela Sociedade Amigos da
América. Em que pese tais posicionamentos, porém, coube a Dutra comandar o
processo efetivo de aproximação entre Brasil e Estados Unidos no que dizia
respeito às questões militares, tendo sido o responsável pela organização da
Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada para combater na Itália.
Ainda durante o Estado Novo, Dutra foi sondado por setores
oposicionistas que lhe propuseram liderar um golpe que afastasse Vargas e reestabelecesse a democracia no país. Em 1945, quando o
regime mostrava claros sinais de esgotamento, seu nome foi lançado por setores
governistas, articulados no Partido Social Democrático (PSD), para concorrer à
presidência da República, no pleito previsto para dezembro daquele ano. A
oposição, aglutinada na União Democrática Nacional (UDN), apresentara o nome de
um outro militar que gozava de grande prestígio dentro e fora das Forças
Armadas, o brigadeiro Eduardo Gomes. Em agosto, Dutra afastou-se do Ministério
da Guerra, cumprindo a exigência de desincompatibilização para concorrer no
pleito. Antes que a eleição se realizasse, porém, Vargas foi afastado do
governo por um golpe militar que contou com a participação decisiva do próprio
Dutra, temeroso que Vargas se aproveitasse do sucesso da campanha queremista
para se perpetuar no poder. A presidência foi então ocupada por José Linhares,
presidente do Supremo Tribunal Federal. Foi o próprio Vargas, porém, que acabou
desempenhando o papel decisivo na vitória de Dutra nas eleições de dezembro, ao
recomendar aos seus seguidores o voto em seu ex-ministro da Guerra.
Empossado em janeiro de 1946, Dutra aproximou-se dos setores
conservadores, incluindo aqueles representados pela UDN, através do chamado
Acordo Interpartidário, o que acarretou a marginalização de Vargas e do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB), que acabaram por romper com o presidente. Os
comunistas, que haviam obtido resultados eleitorais expressivos nas eleições de
1945 e 1947, foram vítimas de uma ferrenha perseguição por parte do governo,
que assim se integrava no contexto internacional da Guerra Fria, e tiveram sua
atuação política legal novamente proibida. O governo Dutra foi marcado, ainda,
por uma política econômica conduzida a partir de postulados liberais, pelo
rápido esgotamento das reservas cambiais acumuladas durante a guerra e por uma
severa política de arrocho salarial.
Em 1950, Dutra apoiou o candidato do PSD à sua sucessão, o mineiro
Cristiano Machado. O eleito nesse pleito, porém, foi Getúlio Vargas, ficando
Machado apenas com a terceira colocação. Em janeiro de 1951, Dutra transmitiu o
cargo a Vargas.
Mesmo após sua saída da presidência, manteve grande influência junto à
cúpula militar e lideranças civis. Em 1954, deu apoio discreto às articulações
para afastar Vargas da presidência. Voltou a conspirar dez anos depois, dessa
vez contra o presidente João Goulart. Com o estabelecimento do regime militar,
em 1964, seu nome chegou a ser cogitado para ocupar novamente a presidência.
Prestigiado pelos militares, fez parte do diretório nacional da Aliança
Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime.
Morreu no Rio de Janeiro, em 1974.
Colaboradores Alunos do curso de Pedagogia UEPG
Fonte:Colaboradores Alunos do curso de Pedagogia UEPG
Fonte: : http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm/
Data do Documento: 22/04/2004