Nasceu em 1894, em São Gonçalo do Sapucaí (MG).
Desenvolveu a primeira e vasta pesquisa sobre a situação da educação em São
Paulo. Foi integrante do movimento reformador da educação pública, da década de
20, que ganhou o país e foi impulsionado pela Associação Brasileira de
Educação, fundada em 1924. Entre 1927 e 1930, promoveu ampla reforma
educacional no Rio de Janeiro, capital da República, animada pela proposta de
extensão do ensino a todas as crianças em idade escolar; articulação de todos
os níveis e modalidades de ensino – primário, técnico profissional e normal; e
adaptação da escola ao meio-urbano, rural e marítimo. Fundou a Biblioteca
Pedagógica Brasileira e em 1932, redigiu e lançou, jundo
com outros 25 educadores e intelectuais, o Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova. Como diretor-geral, promulgou o Código de Educação do Estado de São Paulo
(1934) e participou da fundação da Universidade de São Paulo. Visto como um
intelectual de "centro", foi durante sua vida se transformando em um
intelectual extremamente crítico quanto ao papel da escola, entendendo-a em
1954 como instrumento de manutenção do status quo.
Morreu em São Paulo, em 1974.
Fernando Azevedo ajudou a colocar a educação como
prioridade na agenda nacional
Educador, ensaísta, e sociólogo, Fernando de Azevedo
(1894-1974) foi o principal introdutor das concepções do sociólogo francês
Émile Durkheim (1858-1917) no Brasil. Durkheim pretendeu dar um sentido positivo à sociologia e
procurou demonstrar a possibilidade de uma ciência objetiva da sociedade,
semelhante às ciências naturais. Em decorrência de suas idéias a respeito do
homem e da sociedade, o sociólogo francês acreditava que a educação deveria ter
como objetivo integrar os indivíduos, situação em que teriam consciência das
normas de conduta social e do valor da coletividade a que pertencem.
Durkheim achava que o sistema educacional moderno ainda tem
necessidade da disciplina própria da vida em sociedade, mas que essa disciplina
deve deixar espaço para a autonomia, a reflexão crítica e a capacidade de
escolha. Fernando de Azevedo, em Princípios de sociologia, publicado em 1935,
faz a primeira explanação sistematizada e crítica das idéias sociológicas para
professores e estudantes no país. Nesse trabalho, discute, entre outros, temas
como a natureza objetiva dos fatos sociais, a constituição de uma ciência
particular do social, a luta pela autonomia da sociologia como ciência e as
grandes correntes do pensamento sociológico. O mestre Durkheim
é o único a merecer capítulo próprio, além de citações em outros.
Politicamente conturbado com a eclosão da Revolução
Constitucionalista em São Paulo, o ano de 1932 é decisivo na carreira de
Fernando de Azevedo. Neste ano, ele é convidado a redigir e ser o primeiro
signatário do Manifesto dos pioneiros da Educação Nova, dirigido à Nação e ao
governo Vargas, documento que colocou a educação como o problema nacional de
maior importância, acima dos problemas econômicos nos planos de reconstrução do
país.
Pela primeira vez, afirmava-se alto e a bom som que "é impossível
desenvolver as forças econômicas ou de produção, sem o preparo intensivo das
forças culturais e o desenvolvimento das aptidões à invenção e à iniciativa,
que são os fatores fundamentais do acréscimo de riqueza de uma sociedade
Em relação ao Estado, o Manifesto estabelecia a função essencialmente pública
da educação; a garantia de acesso à educação dos cidadãos em condições de
inferioridade econômica; a laicidade, gratuidade e
obrigatoriedade da educação; a proibição de separação de sexo entre os alunos;
a autonomia da função educacional; a proibição de influências religiosas,
políticas e partidárias sobre o processo educacional.
O Manifesto termina com o parágrafo: "Mas, de todos os deveres que
incumbem ao Estado, o que exige maior capacidade de dedicação e justiça e maior
soma de sacrifícios; aquele com que não é possível transigir sem a perda
irreparável de algumas gerações; aquele em cujo cumprimento os erros praticados
se projetam mais longe nas suas conseqüências, agravando-se à medida que recuam
no tempo; o dever mais alto, mais penoso e mais grave é, de certo, o da
educação que, dando ao povo a consciência de si mesmo e de seus destinos e a
força para afirmar-se e realizá-los, entretém, cultiva e perpetua a identidade
da consciência nacional, na sua comunhão íntima com a consciência humana."
Entre os signatários estão educadores e intelectuais como
Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Cecília Meireles, Júlio de Mesquita Filho,
Hermes Lima, Paschoal Leme, Afrânio Peixoto e Heitor Lira.
A partir do Manifesto, o grupo de educadores formado por
Fernando de Azevedo, Anísio Teixeira e Lourenço Filho – já identificados com os
princípios da Educação Nova –, é violentamente atacado por conservadores e
católicos. O crítico Alceu de Amoroso Lima, na época representante do
conservadorismo católico, denunciou "o baluarte vermelho em que vão
transformando os nossos meios pedagógicos superiores" e classificou de
"bolchevismo intelectual" e de "pré-soviética" a pedagogia
preconizada pelos idealizadores da Educação Nova.
Quando redigiu o Manifesto dos pioneiros da Educação Nova,
Fernando de Azevedo, formado em Direito pela Faculdade de Direito do Largo São
Francisco (hoje integrante da USP), já havia sido professor de latim e
psicologia no Ginásio do Estado em Belo Horizonte e na Escola Normal de São
Paulo (futura Escola Normal Caetano de Campos, a "Escola Normal da
Praça", referência à praça da República, onde estava situada, local que
hoje abriga a Secretaria da Educação do Estado) e dirigido o Departamento de
Instrução Pública do então Distrito Federal (RJ), onde orientou a reforma do
ensino de 1926 a 1930.
Antes de ir de São Paulo para o Rio, Fernando de Azevedo
engordava o salário de professor como redator e crítico literário do jornal O
Estado de S.Paulo, no qual colaborou durante toda a vida. Em 1926, organizou e
dirigiu dois inquéritos para O Estado – um sobre arquitetura colonial, outro
abordando a educação pública no Estado. Já neste inquérito, iniciou campanha
por uma nova política de educação, que iria desaguar no Manifesto, e pela
criação de universidades no Brasil. As reformas no ensino paulista iriam ser
concretizadas em 1933, com a elaboração e implantação do Código de educação,
levadas a efeito quando assumiu a Direção Geral da Instrução Pública no Estado.
O convite a Fernando de Azevedo para redigir o Manifesto
deveu-se à notoriedade que adquirira não só pela intensa atividade desenvolvida
nos meios educacionais, mas também pelo papel relevante que vinha exercendo
como um dos dirigentes da Companhia Editora Nacional, à época uma das
principais casas editoriais do país. Na Nacional, como era conhecida, Fernando
de Azevedo criou e dirigiu a Biblioteca Pedagógica Brasileira (BPB), selo
editorial do qual faziam parte a série Iniciação científica, que publicava
textos inéditos na área científica, e a Brasiliana, a primeira coleção de
estudos brasileiros do país, de alto nível.
Anísio Teixeira, também signatário do Manifesto e já
educador respeitado, afirmou que a Brasiliana era destinada a "descobrir o
Brasil aos brasileiros". Fernando de Azevedo permaneceu no comando da
Brasiliana por mais de 15 anos, revelando ao grande público cronistas do século
XVI e XVII; "naturalistas e viajantes estrangeiros cujas obras constituíam
privilégio de iniciados"; historiadores do século XIX, como Adolfo de Varnhagen, e pensadores como Tavares Bastos; mestres da
cultura do século XX, como Capistrano de Abreu, João Ribeiro, Pandiá Calógeras, Manuel Bonfim, Celso Garcia e Afonso Taunay; escritores como
Sílvio Romero e Euclides da Cunha; desbravadores do território nacional como o
Marechal Rondon e muitos outros. Os textos, em grande parte inéditos, eram
acompanhados de ensaios introdutórios assinados por especialistas de renome,
prática editorial ainda desconhecida no Brasil.
Outra grande aventura intelectual de Fernando de Azevedo
foi a participação na criação da USP, em 1934, ao lado de Júlio de Mesquita
Filho, Armando Sales de Oliveira, Almeida Júnior, Vicente Rao,
Rocha Lima e outros. Mais tarde, entre 1941 e 1942, ele seria diretor da então
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
No campo da historiografia, Fernando de Azevedo publica,
em 1943, A cultura brasileira, obra na qual assume uma visão marcadamente
nacionalista dos problemas do Brasil. Nesse trabalho, elogia o "espírito
nacionalista" da Constituição de 1937, que institucionalizou a Estado Novo
no país e deu poderes ditatoriais ao presidente Getúlio Vargas.
A Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas, havia,
de fato, dado impulso à reforma do ensino no Brasil, a começar pela criação do
Ministério da Educação e Saúde. Mas, a despeito dos elogios feitos em seu
livro, Fernando de Azevedo criticou severamente o então ministro da educação,
Gustavo Capanema, por ter dado ao curso secundário um caráter elitista.
Inspirado na reforma educacional realizada na Itália fascista por Benito
Mussolini, Capanema deu nova direção ao curso secundário, agora voltado para a
"formação de personalidades condutoras", ou seja, de elite, e organizou
um currículo baseado em humanidades, repleto de línguas como latim, grego e
francês.
No
Estado de São Paulo, Fernando de Azevedo ocupou a Secretaria da Educação e
Saúde em 1947 e a Secretaria de Educação e Cultura no governo do prefeito
Prestes Maia, em 1961.
Bibliografia:
Autor de obra numerosa, Fernando de Azevedo escreveu, entre outros, Ensaios –
Crítica para o jornal O Estado de S.Paulo (1924-1926); Novos caminhos e novos
fins - A nova política da educação no Brasil (1935); Canaviais e engenhos na
vida política do Brasil (1948); A educação e seus problemas (1952); As ciências
no Brasil (1956); Princípios de sociologia (1958); e Sociologia educacional
(1959).
Fonte: Revista
Educação (nº 37)
Fonte (biografia):
Fontes de Educação: Guia para Jornalistas. Fórum Mídia & Educação, 2001
Coordenação e Edição (biografia): Denise
Carreira
Textos (biografia): Fonte (biografia):
Fontes de Educação: Guia para Jornalistas. Fórum Mídia & Educação, 2001
Coordenação e Edição (biografia): Denise
Carreira
Textos (biografia): Adriano
Quadrado, Denise Carreira e Iracema Nascimento
Maria
Isabel Moura NASCIMENTO. GT : Campos Gerais-PR-
Universidade Estadual de Ponta Grossa