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FERRER Y GUARDIA, FRANCISCO[1]

 

Nasceu em Alella, uma pequena cidade próxima de Barcelona, a 11 de janeiro de 1849, filho de uma família católica de camponeses. Junto com sua mãe freqüentou a Igreja, participando do coro de crianças e recebendo uma educação religiosa. Aos 14 anos foi trabalhar em uma loja em Barcelona onde seu patrão, um livre pensador, sofrera com o clericalismo. Este contato foi fundamental para tornar Ferrer um livre pensador anticlerical. Até os 20 anos dedicou-se ao trabalho a aos estudos. Conseguiu trabalho na Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Espanha e casou-se com Teresina Sanmarti. Em 1884, aos 35 anos, Ferrer entrou para a Maçonaria, iniciando-se na Loja La Verdad de Barcelona. Sua primeira filha foi batizada a pedido da sua esposa, recebendo o nome católico de Trinidad. Suas outras filhas receberam os nomes de Pax, Luz e Sol. Em 1886, a tentativa revolucionária em implantar a república na Espanha fracassou. Ferrer, envolvido no movimento, escapou das investigações policiais, mas foi considerado suspeito. Sentindo-se ameaçado, fugiu para Paris com a sua família, vindo tornar-se secretário de Ruiz Zorrilla, chefe do partido republicano espanhol. Em Paris, filiou-se a Loja Maçônica Francesa, manteve contato com exilados espanhóis – socialistas, republicanos e anarquistas. Também produziu e traduziu obras que criticavam a influência do clero espanhol, enviando-as para distribuição na Espanha. Ainda na França morreram dois dos seus filhos. Em 1893, seu casamento chega ao fim. O Tribunal de Sena proferiu a separação, e as filhas ficam com a mãe. Posteriormente, Ferrer voltou a cuidar das meninas, até que uma delas volta para junto da mãe em S. Petersburgo. Então o educador encarrega-se da educação da outra filha, levando-a para a Austrália. De volta a Paris em 1894, ganha a vida dando aulas de espanhol, primeiro de forma autônoma, depois junto a Associação Politécnica, a convite do seu diretor. Do ano seguinte até 1898 leciona também no Liceu Condorcet. Durante estes anos foi amadurecendo a idéia da criação da Escola Moderna. A concretização da escola foi possível pela herança deixada por uma ex-aluna, admiradora do seu pensamento, Srta. Ernestina Meunier. Conheceu Léopoldine Bonnard, jovem que era companheira e amiga da Sra. Meunier. Com ela teve um filho, Riego, nome de um revolucionário que Ferrer admirava. Inicia a escolha de professores e mestres para a Escola Moderna. Posteriormente separa-se de Léopoldine, que vai para Londres com o filho Riego. Conheceu Soledad Villafranca, jovem professora da Escola Moderna, que se tornou sua última companheira. Criou uma casa editorial para produzir os livros que seriam destinados às escolas, além de uma revista intitulada A Escola Renovada. Finalmente, em Barcelona, foi fundada em agosto de 1901 a primeira Escola Moderna, totalizando trinta alunos, doze meninas e dezoito meninos. Logo no final do primeiro ano de funcionamento, o número de alunos chegava a setenta, organizados em quatro sessões, segundo a idade: a primeira para crianças menores, a segunda elementar, a terceira elementar superior e a quarta normal para os adultos. Aos domingo funcionava uma universidade popular acessível a todos. A procura de alunos de cidades vizinhas fez com que fossem criadas novas escolas. Em 1906, ocorreu um atentado à bomba no casamento do rei Afonso XIII da Espanha com a princesa Victoria, vitimando 15 pessoas. O autor do atentado trabalhou por um pequeno período na livraria da Escola Moderna, motivo que foi usado para prender Ferrer e todos os professores, além de cerrar as portas da escola. Ferrer foi vítima de calúnia promovida pela Igreja católica, sendo acusado de cúmplice no atentado. Mesmo tratamento foi dado à sua escola e ao sistema de ensino, acusado de ser “sem Deus” e de contar com revistas e livros indecentes. Foi libertado depois de treze meses. Em 13 de junho de 1908 foi absolvido e o governo obrigado a lhe restituir todos os bens que havia confiscado. Voltou novamente a Paris, e ainda em 1908 fundou a Liga Internacional para a educação racional da infância. Neste momento, Ferrer publicava em Bruxelas a revista Ecole Renovée. Em 1909, a revista passar a ser editada e publicada em Paris, e torna-se semanal. Neste período, sua Casa Editorial na Espanha continuou a editar e publicar o Boletin de la Escuela Moderna, além de manuais de ensino e livros científicos educacionais. Em julho de 1909, vários protestos eclodiram contra a guerra da Espanha com o Marrocos. Estes acontecimentos ficaram conhecidos como Semana Trágica e foram marcados pela revolta da população de Barcelona que queimou igrejas e conventos, obrigando as autoridades a abandonar a cidade. No período da revolta, Ferrer encontrava-se visitando um irmão que morava nas proximidades. A repressão que se seguiu à Semana Trágica prendeu e condenou dezenas de pessoas, entre elas Ferrer, preso em 1º de setembro. O Tribunal de Guerra reunido para os julgamentos aplicou penas que variavam de prisão perpétua à execução. A favor de Ferrer levantaram-se vozes em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. A normalidade voltava à Espanha, menos à Catalunha, pois era imperioso que se julgasse Ferrer no Tribunal de Guerra, sem testemunhas de defesa. Seu defensor procurou levantar a necessidade de provas e de arrolamento de testemunhas, pedido que foi indeferido. No dia 09 de outubro, o Conselho de Guerra abriu a sessão e ouviu as contraditórias testemunhas que acusavam Ferrer. A acusação que pesava cobre Ferrer foi de ser o líder intelectual da Semana Trágica.  No mesmo dia foi dado o veredicto final: a pena de morte. A execução ocorreu em 13 de outubro de 1909, na Fortaleza de Montjuich. As últimas palavras de Ferrer foram: Hijos mios apuntad bien! No teneis culpa. Soy inocente. Viva la Escuela Moderna! Seu ideal pedagógico ficou registrado principalmente no livro La Escuela Moderna publicado após sua morte. A proposta do racionalismo de Ferrer caminhou em conjunto com o ideal anarquista, recebendo apoio e cooperação de militantes no desenvolvimento da Escola Moderna. Em suas cartas percebe-se a sua preocupação com a sociedade futura sem classes, baseada na igualdade e na liberdade. . As principais obras historiográficas que abordam o pensamento teórico e as iniciativas práticas do fundador do racionalismo foram produzidas por: Francisco FERRER Y GUARDIA, (s. d.),  Sol FERRER (1960?), Edgar RODRIGUES (1972, 1979, 1984), Maurice DOMMANGET (1972), Pere SOLÀ (1978), Tina TOMASSI (1978), Flávio V. LUIZETTO (1984), Paulo GHIRALDELLI JÚNIOR (1987), Regina JOMINI, (1990), Paulo BORGES (1996), José Damiro de MORAES (1999), Ramón SAFÓN (2003), Silvio GALLO; José Damiro de MORAES (2005). (Ver Referências Historiográficas).

 



[1] Verbete elaborado por José Damiro de Moraes

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