Jean Le
Rond D'Alembert — matemático, físico e filósofo
francês, nasceu na cidade de Paris em novembro de 1717. Filho natural do
general Destouches e de Mme.
de Tencin da aristocracia parisiense e amante de Philippe d'Orléans e de La Fresnais. Abandonado pelos
pais nas proximidades da igreja de Saint-Jean-Le-Rond,
perto da Notre-Dame de Paris, foi criado pela mulher
de um vidraceiro que após alguns anos batizou-o com o nome da igreja o qual
representa um santo a que ela se dedica. Iniciou seus estudos no Collége des Quatre
Nations, sob a direção dos jansenistas.
Estes estudos foram custeados pela Madame de Tencin,
que tentou reclamá-lo quando notou que seu filho era um gênio. Ao tomar
conhecimento da reivindicação de sua mãe, D'Alembert, respondeu-lhe diretamente
com a seguinte frase: " Minha mãe é a mulher do vidraceiro ". Aos
dezoito anos, substitui o sobrenome de Daremberg, até
então adotado, por D'Alembert.
Precoce, autodidata, dotado para
a filosofia, as ciências e as línguas mortas, tentou o direito e a medicina
antes de descobrir que a sua vocação estava voltada para as matemáticas.
Em 1738, formou-se em Direito e
iniciou, no mesmo ano, seus estudos de medicina, renunciando, em seguida, aos
referidos cursos pelo fato de que como já foi dito, sua vocação era mesmo as
matemáticas.
Em 1739, aos 22 anos, publica
" Mémoire sur le calcul intégral
" (Memória sobre o cálculo integral) a qual lhe valeu, um ano após, seu
ingresso na Académie des Sciences em Paris.
Em 1740, enunciou e demonstrou o
Teorema Fundamental da Álgebra, também conhecido como teorema de d'Alembert, e
apresentou-o à Academia de Ciências de Berlim com o seguinte enunciado: "
Toda e qualquer equação algébrica que representa uma função racional inteira,
admite sempre uma raiz ".
Em 1741, apresentou pela
primeira vez, em sua publicação " Mémoire sur la
réfraction des corps solides " ( Memória sobre a refração dos corpos sólidos
), uma bela exposição teórica, explicando por que um corpo passa de um fluido
para outro mais denso, seguindo uma direção oblíqua em relação à superfície que
separa os dois fluidos.
Até o século XVIII os cientistas
não percebiam que a diferença entre energia cinética e momento linear é a
relação entre estes conceitos e o de força. Eles indagavam qual das duas
grandezas, energia cinética ou momento linear, representaria a ' verdadeira '
medida do efeito de uma força sobre um corpo. Descartes argumentava que, quando
os corpos interagem, tudo o que pode acontecer é apenas transferência de
momento de um corpo para outro, pois o momento linear total do universo
permanece constante; então, a ' verdadeira ' medida de uma força é a variação
do momento linear que ela produz em um dado intervalo de tempo. Leibniz atacava
este ponto de vista e dizia que a ' verdadeira ' medida de uma força é a
variação que ela produz na energia cinética ( chamada por ele de vis viva ou '
força viva ', tomada como sendo o dobro daquilo que chamamos de energia
cinética ).
Em 1743, d'Alembert publicou
o " Traité
de dynamique " ( Tratado de dinâmica ) expondo o
princípio fundamental que levou o seu nome, consolidando a mecânica em três
conceitos básicos que são a inércia, o movimento composto e o equilíbrio entre
dois corpos. Com esta publicação, d'Alembert encerrou a discussão, considerando-a
sem sentido, uma vez que provinha de uma confusão de terminologia. O efeito
cumulativo de uma força pode ser medido por seu efeito integrado no tempo que
produz a variação no momento linear, ou por seu efeito integrado no espaço que
cria variação de energia cinética. Ambos os conceitos são úteis e válidos,
embora diferentes.
D'Alembert combinou o conceito
de movimento composto e o de equilíbrio entre dois corpos e estabeleceu o
princípio que assim enunciou: " Num sistema as forças internas de inércia
são iguais e opostas às forças que produzem a aceleração ". Este
princípio, baseou-se numa observação bastante elementar de que a equação
fundamental do movimento , ou seja , a força é igual ao produto da massa pela
aceleração, expressa pela fórmula F = m.a
ou F – m.a = 0; substituindo o
produto ( –m.a ) por F*, a expressão assume a nova forma F + F* = 0 . Essa nova forma, que, para a
dinâmica de um ponto livre, é de notória evidência, foi brilhantemente
generalizada por d'Alembert para todo e qualquer sistema mecânico. Com isso,
ele notabilizou-se pelo enunciado de um princípio
básico de mecânica, conhecido como " Princípio de d'Alembert ".
Em 1744, publicou " Traité de l'équilibre et du
mouvement des fluides " ( Tratado do equilíbrio e do movimento dos
fluidos ) aplicando o seu princípio à solução de vários problemas relacionados
com o movimento e o equilíbrio dos fluidos.
Em 1747, D'Alembert publicou
" Réflexions sur la cause générale des vents " ( Reflexões
sobre a causa geral dos ventos ) tendo sido conduzido, pelo fato de usar
aplicações nesta e na obra supracitada princípios fundamentais estudados em
1742, ao estudo das derivadas parciais de segunda ordem, do tipo hiperbólico,
as quais regem as pequenas oscilações transversais de uma corda homogênea,
uniformemente distendida. A equação que rege tais oscilações é a seguinte:
Coube a ele estabelecer um métodode
integração das derivadas que conduz à solução do tipo:
y = f( x + ct ) + g( x -
ct )
Estudou as equações diferenciais ordinárias, definiu a
noção de limite e inventou um critério de convergência das séries. Em 1748,
iniciou seus trabalhos com respeito a moderna e ampla teoria dos sistemas de
equações diferenciais lineares.
Em 1749, elabora trabalho sobre
mecânica celeste sob o título " Recherches sur la précession
des équinoxes et sur la
mulation de l'arxe de la terre dans
le système newtonien " ( Pesquisas sobre a precessão dos
equinócios e sobre a nulação do eixo da terra no
sistema newtoriano ) e as " Recherches sur différents points importants du système du
monde " ( 1754 - 1756; Pesquisas sobre diferentes pontos importantes do
sistema do mundo ), nos quais aplicou o seu princípio de dinâmica ao estudo do
movimento da Terra em torno do Sol.
Em 1751 os livreiros Briasson, David, Le Breton e Durand publicam o primeiro tomo da " Encyclopédie
ou Dictionnaire raisonné des sciences, des
arts et des
métiers " ( 1751 - 1780; Enciclopédia ou
Dicionário racional das ciências, das artes e dos ofícios ), elaborado por
d'Alembert e Diderot, tendo como parte inicial da referida enciclopédia o
famoso " Discours préliminaire
" da autoria de d'Alembert, uma peça magistral de grande conteúdo
filosófico-literário, despertando o mundo científico para novos campos do
conhecimento.
D'Alembert foi membro e
secretário perpétuo da Academia Francesa. Recusou a presidência da Academia de
Berlim e o lugar de preceptor do czarevich Paulo que
Catarina II desejou confiar-lhe. Passou uma temporada em Genebra, na casa de
Voltaire; visitou duas vezes Frederico II, o Grande, sendo que uma das vezes
aconselha Euler a colocar o seu cargo à disposição, o
qual foi assumido por Joseph-Louis Lagrange como
matemático da corte, havendo, em seguida, o seguinte pronunciamento do rei:
" Devo aos seus cuidados e recomendações por ter substituído um matemático
meio cego por outro com ambos os olhos, o que vai satisfazer especialmente aos
membros anatômicos da minha Academia ". D'Alembert, escreveu, também,
verbetes sobre ciências e matemática para a Grande Enciclopédia, sendo o
principal incentivador, com Diderot, da referida enciclopédia da qual redigiu e
editou, em 1751, o Discurso preliminar.
D'Alembert, até 1765, viveu
modestamente na casa de sua mãe de criação, morando, posteriormente, com Julie de Lespinasse, o grande
amor de sua vida. Faleceu no dia 29 de outubro de 1783 em Louvre - Paris, para
onde se transferira em 1776.
Maria Isabel Moura Nascimento. GT: Campos Gerais-PR-Universidade
Estadual de Ponta Grossa-UEPG