JOSEPH LANCASTER
[1]
(1778-1838)
Inglês, defensor confesso da nobreza e membro da seita dos
Quaker. Em 1798 estabeleceu, sem financiamento público, em um subúrbio
londrino o Borough Road, uma escola para filhos da classe trabalhadora.
Muito provavelmente, ao ensinar por apenas quatro pences por semana, atraiu
inúmeros discípulos. Com muitos alunos e pouco dinheiro, Lancaster se viu
diante de uma situação em que não queria perder os discípulos conquistados mas
também não tinha recursos para mantê-los, como ele mesmo afirma: “[...] estava
ansioso para encontrar uma maneira que me permitisse aumentar a utilidade da
instituição sem aumentar minhas próprias despesas”.
De
início, uma das saídas que encontrou para manter sua escola repleta de crianças
foi a de adotar algumas das práticas pedagógicas de Bell, como ele mesmo afirma
em diferentes passagens de seu texto, e que foram, aos poucos, aperfeiçoadas em
seus procedimentos e em seus princípios, adquirindo a forma lancasteriana de ser.
É
necessário ressaltar que, apesar de Lancaster ter assumido publicamente que por
diversas vezes fez uso de “dicas” úteis do método do pastor, eles divergiam em
questões fundamentais sobre a instrução pública e sua generalização. Andrew
Bell não era partidário da disseminação indiscriminada da instrução, e suas
escolas se destinavam a atender somente aos fiéis da Igreja Anglicana, enquanto
as escolas de Lancaster não apresentavam restrição, muito menos a religiosa,
para serem freqüentadas. No que tangia às matérias e aos conteúdos que deveriam
ser ensinados, a proposta pedagógica de Lancaster também diferia da proposta de
Bell. Para o primeiro a instrução deveria promover não só a leitura, mas também
a escrita, a numeração e as contas, para as classes menos favorecidas.
A partir
de 1803, este começou a divulgar suas idéias e os resultados de seu trabalho em
diversas brochuras, sempre com o título Improvements in Education.
Entretanto, só em 1805, após quatro anos da existência da sua instituição
escolar é que Improvements, já em terceira edição, aparece sob a forma
de livro. Neste novo formato manteve, com algumas pequenas alterações, o
conteúdo pedagógico do método das edições anteriores, mas promoveu inserções
consideráveis na proposta do plano de melhorias na educação elementar para a
classe trabalhadora. O livro de 1805 saiu com uma tiragem de 3.500 exemplares,
e o destino deles não era as livrarias do Reino Unido, mas as pessoas que
tinham realizado “assinaturas” ou tinham encomendado a obra, conhecidos como
subscritores
O
objetivo de Lancaster, ao lançar essa edição diferente, parecia estar
relacionado a uma estratégia de propaganda que pretendia demonstrar a
viabilidade para transformar seu projeto pedagógico em um plano nacional para
instruir os mais desfavorecidos da nação inglesa, fazendo da escola-sede, em Borough
Road, um centro de promoção de novos professores. Prova disso foi o fato
de ele inserir na edição de 1805 os documentos da contabilidade dos anos de
funcionamento da escola; as listas de patrocinadores; a carta de apoio de John
Foster, Chanceler (secretário) da Fazenda da Irlanda; um estudo sobre a
educação feminina e o emprego nas indústrias de palha trançada para uso em
chapéus, com balanços contábeis, relatórios e cartas recomendatórias dos
presidentes responsáveis por essas empresas e atividades; as considerações
acerca do ensino religioso e do uso do catecismo; a organização das escolas de
iniciação aos ofícios mecânicos; e, ainda, as “dicas” sobre a Reforma do
sistema de educação de caridade e de outras escolas. Lancaster defendia que seu
método podia ser aplicado não só em grandes distritos manufatureiros, mas
também podia ser adaptado “[...] e adotado em escolas de qualquer vilarejo
pobre do país.”
As
pessoas da lista de subscritores ou financiadores do livro de Lancaster
encomendaram-no por serem solidárias aos objetivos e ajudaram-no a fundar a Royal Lancasterian Society, em 1808. Com
o apoio desse grupo, Lancaster e seu novo
método adquiriram grande reputação e muita notoriedade. Ao poucos, essa
sociedade não só passou a administrar as escolas, que em 1811 já contavam com
mais de 30 mil alunos distribuídos em 15 escolas (no território inglês), como
também ampliou o raio de sua influência, investindo na área industrial, abrindo
uma oficina de impressão e uma fábrica de fazer lousas.
Na
realidade, Lancaster (1805) pretendia associar a indústria ao aprendizado,
elevando o sistema de educação. Por isso a edição de 1805 diferia das outras, e
daí sua importância no rol dos textos de Lancaster!
A partir
de 1814, os intentos de Lancaster ganharam novo fôlego, com a criação da Lancaterian
British and Foreign School Society (Sociedade Lancasteriana de Escolas
Britânicas e Estrangeiras). Atribui-se a esse grupo a façanha de promover o
método inglês de ensino para além dos limites da Inglaterra.
Sob a
gerência dessa sociedade/empresa, Lancaster deixou a Inglaterra, em 1818,
partindo para New York (EUA), onde, em 1838, veio a falecer. Tinha o objetivo
de divulgar, ele mesmo, o método inglês. Com o mesmo objetivo permaneceu em Caracas
de 1824 a 1827.
Antes que a primeira década do
século XIX findasse, o método de Lancaster apresentou uma grande expansão para
além dos domínios da Inglaterra e dos Estados Unidos. Espalhou-se em direção a
França, Portugal, Itália, Alemanha, Grécia, Bulgária, Dinamarca e Suécia.
Atingiu também a Rússia, o território africano (Serra Leoa, Senegal), a Índia,
a Austrália, o Canadá, o México, o Peru, e alguns países da América do Sul,
como a Argentina e o Brasil.
Sugestão de leitura: NEVES, Fátima Maria. O
Método Lancasteriano e o Projeto de Formação disciplinar do povo (São Paulo,
1808-1889). 2003, 293f. Tese (Doutorado em História) – UNESP, Assis, 2003.