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LIMA BARRETO[1]

 

LIMA BARRETO, Afonso Henriques de - viveu de 1881 a 1922, na cidade do Rio de Janeiro. Era filho de um tipógrafo e de uma professora primária, ambos descendentes diretos de escravos. Quando se casaram, o pai trabalhava como tipógrafo na Imprensa Nacional, emprego obtido graças a proteção de Afonso Celso, Visconde de Ouro Preto. O casal montou uma escola para meninas, chamada Santa Rosa, onde a mãe trabalhava como diretora. Tiveram quatro filhos, sendo Lima Barreto o primogênito. A família começou a passar por dificuldades financeiras devido a problemas de saúde da mãe, que morreu em 1887, quando Lima Barreto tinha sete anos. O pai, viúvo com quatro filhos pequenos, teve que se dedicar a muitos empregos para poder sustentá-los. Nessa época, também publicou a tradução do Manual do Aprendiz Compositor, de Jules Claye. Com a proclamação da República, o pai, monarquista e correligionário do Visconde de Ouro Preto, perdeu o seu emprego na Imprensa Nacional. Foi nomeado, então, escriturário das Colônias de Alienados da Ilha do Governador, tendo permanecido nesse emprego até a sua aposentadoria por problemas mentais. Sendo custeado pelo Visconde de Ouro Preto, padrinho seu, Lima Barreto passou a estudar, como interno, no Liceu Popular Niteroiense, até completar o ensino secundário. Aos quatorze anos, prestou os primeiros exames preparatórios no Ginásio Nacional, e no ano seguinte matriculou-se, como interno, no Colégio Paula Freitas, um curso anexo que preparava para a Escola Politécnica. Durante o tempo em que estudou nesse colégio, entrou em contato com o Apostolado Positivista, que freqüentou por cerca de um ano. Em 1897, após concluir os exames preparatórios no Ginásio Nacional, matriculou-se na Escola Politécnica. Lima Barreto, se até então não tinha tido problemas escolares, na Escola Politécnica não conseguiu sequer terminar o ciclo básico, reprovando muitas vezes em algumas disciplinas. Foi também durante esse período que participou, ainda que de forma tímida, do movimento estudantil, fazendo parte da Federação de Estudantes e colaborando com o jornal A Lanterna. Em 1902, o pai começou a sofrer de problemas mentais, sendo afastado do emprego e posteriormente aposentado, mantendo-se no mesmo estado até a sua morte, em 1922. Lima Barreto teve que assumir a responsabilidade por sua família, composta de oito pessoas. As dificuldades financeiras agravaram-se, a família mudou-se para o subúrbio do Rio de Janeiro e ele deixou de freqüentar a Escola Politécnica. Datam dessa época os primeiros indícios do alcoolismo que se manifestaria posteriormente. Lima Barreto ingressou como amanuense na Secretaria da Guerra em 1903, com 22 anos. Trabalhava de 10 às 15 h, redigindo e copiando avisos e portarias ministeriais e permaneceu nesse emprego até 1919, sendo aposentado após inúmeros afastamentos do trabalho, resultados do alcoolismo e de duas internações psiquiátricas. Durante sua vida como amanuense, entre a Secretaria e as rodas de amigos nos bares e cafés do centro da cidade, escreveu a maioria dos seus romances, passando, após a aposentadoria, a se dedicar mais intensamente à atividade jornalística. Seu livro de estréia foi Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909), consagrado pela crítica literária como um romance à-clef, em que retrata e satiriza a organização e o pessoal de um grande jornal da época. Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), publicado inicialmente em folhetins, retrata a vida de um funcionário público nacionalista. Numa e a Ninfa (1915) é uma sátira política retratando tipos e costumes da época, de forma caricatural; Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), uma crônica aos doutores e burocratas do início do século; e Clara dos Anjos (1923), publicado em folhetins da Revista Sousa Cruz, romance inacabado e publicado postumamente, que retrata o drama do preconceito racial. Lima Barreto escreveu artigos para jornais menos prestigiados e para alguns de maior penetração. Tão mordaz nas suas críticas à grande imprensa, fazia sempre referências cordiais aos pequenos periódicos. Chegou a editar a Revista Floreal, nos fins de 1907. Após o fechamento dessa revista, foi colaborador, por três meses, da revista Fon-Fon. Em 1914, passou a colaborar no órgão da Confederação Operária Brasileira, A Voz do Trabalhador. A maior parte dos artigos e crônicas de jornal escrita por Lima Barreto foi publicada entre os anos 1918 e 1922. Nas Obras Completas do autor, essa produção está organizada nos livros Bagatelas, Coisas do Reino do Jambom, Feiras e Mafuás, Marginália e Vida Urbana. No conjunto de suas obras, Lima Barreto tratou dos mais variados assuntos, desde os principais acontecimentos políticos e costumes do seu tempo até, por exemplo, do football, do qual era um crítico mordaz, chegando mesmo a criar uma Liga para combater esse esporte.

 





[1] Verbete elaborado por Silvana Lopes

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