O estágio de desenvolvimento contemporâneo do capitalismo
caracteriza-se pelo fortalecimento sem precedentes da contra tendência à
tendência fundamental de expansão da produção de mercadorias, o próprio motor
do desenvolvimento capitalista. O estágio contemporâneo, ou simplesmente
capitalismo contemporâneo, se designa frequentemente
também por capitalismo tardio.
Em seu primeiro estágio de
desenvolvimento, o assalariamento da força de
trabalho, primeiro incipiente, foi se estendendo, mediante a paulatina
eliminação das terras comunais ('cercamentos') e sua
transformação em propriedade. Por isso esse estágio é denominado estágio
extensivo.
Quando o estágio de desenvolvimento
extensivo se esgotou, não havendo mais espaço para a extensão da produção de
mercadorias, o capitalismo entrou em seu estágio intensivo. No estágio
intensivo a expansão da produção de mercadorias se restringiu ao aumento da
produtividade do trabalho, que por sua vez dependeu do progresso das técnicas
de produção e da elevação do nível de subsistência da força de trabalho,
necessária para permitir a operação das técnicas de produção crescentemente
complexas.
No estágio intensivo o
antagonismo à base da dialética do Estado e o mercado se desenvolvem com força
e a tendência à generalização da forma-mercadoria é sobrepujada pela contratendência de expansão do Estado (Figura abaixo).
Intervenção do Estado: 1880-1985, paises selecionados- Participação do
Estado na economia: proporção dos gastos governamentais no produto
nacional-PIB (Suécia, França, Grã-Bretanha, Alemanha, EEUU e Japão). |
O encolhimento do âmbito do
mercado tornou-se crítico a partir da exaustão do 'boom' de reconstrução
pós-guerra, pelos meados da década de 1960. A saturação do estágio intensivo
com o desenvolvimento das técnicas de produção (e crescente automação), dando
lugar a uma crise de superprodução. Esse é o estágio contemporâneo, ou
capitalismo tardio.
Na verdade, o estágio tardio é
simplesmente uma denominação que se refere à crise decorrente da saturação da
segunda e mais desenvolvida fase do capitalismo, o estágio intensivo. A
expressão surgiu após a crise de 1929 (como Spätkapitalismus
em livro de Natalia Moskovska, Zürich,
1943), hibernou durante o boom da reconstrução pós-guerra e ressurgiu
adquirindo amplo uso com a exaustão desses (Mandel,
1972).
As manifestações externas da
crise constituem as 'características' do
capitalismo tardio, ou contemporâneo, entre as quais as principais são, além da
continuada expansão da intervenção do
Estado, a tremenda expansão da capacidade produtiva via desenvolvimento
tecnológico resultando ao mesmo tempo em superprodução e em diminuição da força
de trabalho empregada na indústria (que tem sido chamado impropriamente de desindustrialização) e sua realocação
em serviços ('terceirização'), colocando a questão adicional da medida em que a
provisão dos serviços em expansão pode ser produzida enquanto mercadorias.
A crise provoca a reação
neoliberal, que procura sustar o estreitamento do espaço da produção de mercadorias, enquanto procura
apresentar-se como tendências ineluctáveis em vez de
políticas deliberadas. A ideologia neoliberal centra-se numa primeira vertente,
na apresentação histórica do capitalismo contemporâneo, apresentando-o como algo novo, através de um
arsenal de neologismos e pseudo conceitos tais como globalização, privatização,
associado um tanto paradoxalmente ao anúncio do fim da história, augurando a
perpetuação do status quo (a sociedade
burguesa). Numa segunda vertente, o
discurso da desqualificação do Estado enquanto provedor de infra-estrutura
física e institucional ou como representante do interesse coletivo,
legitimando as mais variadas formas e
sub-formas de uma 'sociedade organizada'.
As políticas neoliberais, sem
lograr reconstituir o âmbito do mercado, acabam se resumindo em movimentos de
desmonte do Estado de bem-estar, de concentração de capital e de renda e o
prolongamento insustentável do endividamento para financiar o consumo, enquanto
o centro de gravidade da produção social desloca-se da indústria para os
serviços, dando origem aos fenômenos conhecidos como 'desindustrialização'
e 'terceirização'.
Deák, Csaba (1994) "Globalização, ou crise global?"
várias eds.
Mandel, Ernst (1972) Late capitalism Verso,
Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html
[1]
Elaborado por Maria Isabel Moura Nascimento. GT Campos Gerais-PR-Universidade
Estadual de Ponta Grossa-UEPG