Democracia[1]
Do grego demos=povo + kratos=poder.
Democracia é a forma de organização política usual da sociedade burguesa
capitalista. Ela é construída sobre a ideologia liberal, especialmente suas
proposições de igualdade, liberdade individual e interesse coletivo dos membros
(civis) da sociedade.
A forma
precisa de democracia varia com o estágio de desenvolvimento do capitalismo e
pode variar segundo situações conjunturais, dependendo, em última análise, da
medida em que a hegemonia burguesa assegurada pela ideologia precisa ser
complementada pelo uso da força explícita. Nos primórdios do capitalismo, em
seu estágio extensivo os direitos civis eram severamente restritos a uma exígua
minoria definida por uma renda anual mínima de 30 libras anuais, o que mesmo
após dois séculos, ainda no início do século XIX, restringia o direito de voto
a 260.000 indivíduos de posses numa população de mais de dez milhões. A Reforma
Bill de 1830 estendeu o sufrágio a 650.000, ainda menos que um em cada quinze
habitantes. O sufrágio universal só foi introduzido cem anos mais tarde, já no
estágio de desenvolvimento intensivo, no início do século XX, com a hegemonia e
as instituições burguesas firmemente implantadas e acompanhado do Estado de
Bem-Estar.
É essa
forma que é considerada 'democracia plena', que por sua vez entra em crise
juntamente com o próprio estágio intensivo, a partir do esgotamento da fase de
expansão permitida pela reconstrução pós-II guerra mundial no final dos anos
1960, levantando a questão da 'governabilidade das democracias' (Crozier et alii,
1973) em vista das proposições da reação neoliberal de desmonte do Estado de
Bem Estar e encolhimento do nível de reprodução da força de trabalho,
enfraquecendo a hegemonia da ideologia liberal.
Reconhecida
a impossibilidade dos membros de uma sociedade exercerem diretamente seus
direitos - o que daria lugar à idéia, sem existência histórica, de democracia
direta, ou democracia participativa -, constrói-se uma organização em que tais
direitos individuais são exercidos pelos indivíduos através de representantes
eleitos, resultando em democracia representativa (ver discussão de Antonio Negri, 1989).
Em casos
de falha da hegemonia burguesa, vale dizer, da ideologia liberal, a sociedade
burguesa lança mão do uso explícito da força para assegurar sua reprodução,
resultando em formas de governo ditatoriais.
Referências
CROZIER, Michel, HUNTINGTON S & WATANUKI J (1975)
The crisis of democracy: Report on the governability
of democracies to the Trilateral Commission UP, New York
NEGRI Antonio (1989)
"Resenha de Bobbio: O futuro da democracia e
Qual socialismo?" Espaço & Debates 29:72-5, 1990
Manifestantes tentam romper barreira policial em ato
antiglobalização perto do centro de conferência
do Forum
Econômico Europeu, em Salzburgo, Áustria (Folha de
S.Paulo, 01.7.012:A11)
[1] Elaborado por Maria Isabel Moura Nascimento. GT
Campos Gerais-PR-Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG