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Sustentabilidade / Desenvolvimento sustentável [1]

 

         Entre as reações ideológicas à crise de acumulação instaurada nas últimas décadas do século XX, destaca-se a criação de uma multiplicidade de pseudo-categorias relativas ao processo econômico-social, e a redefinição liberalizante de outras tantas. Pertencem a esse conjunto, entre outras, a mudança de sentido de espaço – categoria que também precisa ser tomada como um dos objetos centrais do trabalho social, base de sua produção e reprodução hoje transfigurada em meio-ambiente; e a sustentabilidade, como a forma ambientalmente válida de sua transformação.

         O deslocamento da noção de crise do âmbito do modo de produção para o das trocas com a natureza – em particular, para as limitações da economia impostas pela finitude dos estoques de matérias primas – não é inócuo. Em termos mais gerais, ele reconduz ao centro da reflexão, aquela visão cindida do processo econômico-social que desde as formulações dos primeiros pensadores burgueses tem servido de respaldo a seus interesses de classe. Mais especificamente é o referido deslocamento que tem dificultado que as mazelas ambientais crescentes – porque elas existem de fato – se projetem negativamente sobre o processo de acumulação; ou que, quando o reconhecimento do caráter social da economia se torna inevitável, a industrialização é que seja apontada como o foco da crise, e não a anarquia produtiva regida pela competição no mercado.

         Com a naturalização da economia, e o conseqüente confinamento do debate sobre a formação do espaço aos contornos teórico-conceituais dos estudos de impacto ou às colocações de produtores individuais, Organizações Não-Governamentais (ONGs.) e comunidades locais sobre práticas ditas sustentáveis, a causa dos problemas ambientais vem sendo gradualmente dissociada da organização da produção, para ser identificada com o aumento da produtividade do trabalho.

         Essa naturalização da economia não é nova, pois já Locke se referia à economia como ao intercâmbio do homem com a Natureza -- relação que ele entendia restrito ao âmbito privado: campo de ação da sociedade civil. Ao arbítrio do outro segmento: o corpo político da sociedade, ele confiaria apenas um único aspecto da referida relação: a defesa da propriedade privada da terra, legitimada pelo trabalho nela realizado.

 

Ver em Locke, John (1690) Segundo tratado sobre o governo. Abril cultural, Coleção Os Pensadores, São Paulo, 1973.

 

Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html

 

Alexander Nisbet  Cornucopia




[1] Elaborado por Maria Isabel Moura Nascimento. GT Campos Gerais-PR-Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG

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