Sustentabilidade /
Entre as
reações ideológicas à crise de acumulação instaurada nas
últimas décadas do século XX, destaca-se a criação de uma multiplicidade
de pseudo-categorias relativas ao processo econômico-social, e a redefinição
liberalizante de outras tantas. Pertencem a esse conjunto, entre outras, a
mudança de sentido de espaço – categoria que também precisa ser tomada como um
dos objetos centrais do trabalho social, base de sua produção e reprodução hoje
transfigurada em meio-ambiente; e a sustentabilidade,
como a forma ambientalmente válida de sua transformação.
O
deslocamento da noção de crise do âmbito do modo de produção para o das trocas
com a natureza – em particular, para as limitações da economia impostas pela finitude dos
estoques de matérias primas – não é inócuo. Em termos mais gerais, ele reconduz
ao centro da reflexão, aquela visão cindida do processo econômico-social que
desde as formulações dos primeiros pensadores burgueses tem servido de respaldo
a seus interesses de classe. Mais especificamente é o referido deslocamento que
tem dificultado que as mazelas ambientais crescentes – porque elas existem de
fato – se projetem negativamente sobre o processo de acumulação; ou que, quando
o reconhecimento do caráter social da economia se torna inevitável, a
industrialização é que seja apontada como o foco da crise, e não a anarquia
produtiva regida pela competição no mercado.
Com
a naturalização da economia, e o conseqüente confinamento do debate sobre a
formação do espaço aos contornos teórico-conceituais dos estudos de impacto ou
às colocações de produtores individuais, Organizações Não-Governamentais (ONGs.) e comunidades locais sobre
práticas ditas sustentáveis, a causa dos problemas ambientais vem sendo gradualmente
dissociada da organização da produção, para ser identificada com o aumento da
produtividade do trabalho.
Essa
naturalização da economia não é nova, pois já Locke se referia à economia como
ao intercâmbio do homem com a Natureza -- relação que ele entendia restrito ao
âmbito privado: campo de ação da sociedade civil. Ao arbítrio do outro
segmento: o corpo político da sociedade, ele confiaria apenas um único aspecto
da referida relação: a defesa da propriedade privada da terra, legitimada pelo trabalho
nela realizado.
Ver em Locke, John (1690)
Segundo tratado sobre o governo. Abril cultural, Coleção Os Pensadores, São
Paulo, 1973.
Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html
Alexander Nisbet Cornucopia
[1] Elaborado por Maria Isabel Moura Nascimento. GT
Campos Gerais-PR-Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG