IMPRENSA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO[1]
Nos últimos anos a imprensa vem
sendo utilizada como uma fonte documental valiosíssima para compreendermos o
período ao qual estamos estudando. Através da imprensa podemos perceber dados
referentes à História da Educação que provavelmente não seriam encontrados em
outra documentação: referências à necessidade de instrução, anúncios de escolas
que estão sendo fundadas, nomes de professores, matérias ensinadas, livros
adotados e até nomes e notas de alunos.
É
difícil encontrar um outro corpus documental que traduza com tanta
riqueza os debates, os anseios, as desilusões e as utopias que têm marcado o
projeto educativo nos últimos dois séculos. Todos os atores estão presentes nos
jornais e revistas: os professores, os alunos, os pais, os políticos, as
comunidades... As suas páginas revelam, quase sempre o “quente”, as questões
essenciais que atravessaram o campo educativo numa determinada época. A escrita
jornalística não foi ainda, muitas vezes, depurada das imperfeições do
cotidiano e permite, por isso mesmo, leituras que outras fontes não
autorizam. Por outro lado, é através
deste meio que emergem “ vozes” que têm dificuldade em se fazerem ouvir noutros
espaços sociais, tal como na academia ou no livro impresso. A imprensa é,
provavelmente, o local que facilita um melhor conhecimento das realidades
educativas, uma vez que aqui se manifesta, de um ou de outro modo, o conjunto
de problemas desta área. É difícil imaginar um meio mais útil para compreender
as relações entre a teoria e a prática, entre os projetos e as realidades,
entre a tradição e a inovação...São as caracteristicas próprias da imprensa ( a
proximidade em relação ao acontecimento, o caráter fugaz e polêmico, a vontade
de intervir na realidade) que lhe conferem este estatuto único e insubstituível
como fonte para o estudo histórico e sociológico da educação e da pedadogia.
(Nóvoa, apud Bastos, 2002, p. 169)
Para Gonçalves Neto
(2002), a imprensa tem a capacidade de
formar uma cultura, padronizar o povo e funciona também como um veículo
educativo. É através dela que se divulgam e se consolidam as principais
representações sociais. O jornal centraliza as opiniões da elite intelectual e
torna-se um elemento para captar as representações de uma época. A palavra
escrita pode ser resgatada no futuro e utilizada como documentação na construção de
interpretações históricas. Mesmo com o direcionamento ideológico dos jornais,
cabe ao historiador utilizá-los como fonte para a recuperação de um determinado
período histórico, aguçando o seu olhar crítico para os fatores que
influenciaram a sua construção.
BASTOS, Maria Helena Camara. Espelho de papel: a imprensa
e a história da educação. In: ARAÚJO, José Carlos e GATTI JR, Décio (orgs.). Novos
temas em história da educação. Instituições escolares e educação na imprensa. Uberlândia:
EDUFU; Campinas: Autores Associados, 2002.
GONÇALVES NETO, Wenceslau. Imprensa, civilização e
educação: Uberabinha ( MG) no início do século XX. In: ARAÙJO, José Carlos de
Souza e GATTI Jr., Décio (orgs.). Novos temas em história da educação no
Brasil. Instituições escolares e educação na imprensa. Uberlândia: EDUFU;
Campinas: Autores Associados, 2002