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Liberalismo e capitalismo[1]

 

         A sociedade capitalista foi gestada em meio à dissolução da ordem feudal. Inicialmente as utopias construídas a partir da idéia de abolição da servidão preconizavam uma sociedade organizada sob a égide do interesse coletivo, de cunho socialista. No entanto, as revoltas populares inspiradas nessa idéia foram derrotadas (das guerras camponesas européias à liquidação dos Levellers na Inglaterra) e acabou se implantando um processo diametralmente oposto: a eliminação das terras comunais através dos cercamentos e sua transformação em propriedade.

         Como resultado desse processo, os servos foram libertados dos liames da servidão e da terra de onde tiravam seu sustento. Para eles, liberdade significava vender livremente sua força de trabalho para os detentores dos meios de produção, tornando-se assalariados. Para os donos das terras –à época, o principal meio de produção–, liberdade era dispor de suas propriedades como bem lhes aprouvesse. A nova organização social baseava-se nesse duplo conceito de liberdade: liberdade do trabalho –assalariamento– e livre uso da propriedade dos meios de produção – capital.

         Após a revolução burguesa (Inglaterra, 1640-60) as instituições foram sendo adaptadas à nova organização baseada na propriedade e um conjunto de idéias foi produzido para justificar a nova ordem (Locke, 1690, Smith, 1776), ressaltando sua diferença da anterior (a servidão). Dos pilares constitutivos da ordem capitalista, propriedade e liberdade, foi esse último que deu nome a esse ideário. Liberalismo tornou-se a ideologia da sociedade capitalista, ou burguesa.

         Liberalismo pode ser resumido como o postulado do livre uso, por cada indivíduo ou membro de uma sociedade, de sua propriedade (o fato de uns terem apenas uma propriedade: sua força de trabalho, enquanto outros detêm os meios de produção não é desmentido, apenas omitido). Nesse sentido, todos as homens são iguais, fato consagrado no princípio fundamental da constituição burguesa: todos são iguais perante a lei, base concreta da igualdade formal entre os membros de uma sociedade. Em uma extensão dessa, uma segunda idéia propõe o bem comum (o Commonwealth), segundo a qual a organização social baseada na propriedade e na liberdade serve o bem de todos. (Incidentalmente, não havendo antagonismo entre classes sociais, a ação pode ser orientada pela razão, daí o racionalismo.) Essa é o cerne da proposição ideológica, que visa a dominação consentida dos trabalhadores, através da operação de identificar o interesse da classe dominante (a manutenção da ordem social vigente) com o interesse da sociedade como um todo -- a nação.

         Adam Smith deu uma forma exacerbada ao enaltecimento das liberdades individuais na idéia que as ações individuais, movidas exclusivamente pelo interesse próprio, seriam guiadas infalivelmente por uma 'mão invisível' no sentido da realização do bem comum. Um dos últimos ‘clássicos’ a recapitular a doutrina liberal é von Mises, da escola de Viena, em uma reação à onda de revoluções socialistas do início do século passado (Mises, 1927). Depois disso o liberalismo ficou em segundo plano ofuscado pela social-democracia, para renascer no final do século como neo-liberalismo .

 

Referências

 

Locke, John (1690) Two Treatises of Civil Government 

Smith, Adam (1776) The wealth of nations

 

Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html

 



[1]Maria Isabel Moura Nascimento. GT Campos Gerais-PR-Universidade Estadual de Ponta Grossa-UEPG

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