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LIVROS DE VIAGENS OU LITERATURA DE VIAGEM[1]

 

Por livros de viagens entendemos “todos os relatos que deram à Europa uma visão do ‘Novo Mundo’ através de uma experiência própria”, informações estas proporcionadas por um deslocamento físico e por um tempo determinado, ou seja, pela viagem (Mindlin, 1991, p. 35). A literatura de viagem, através do olhar estrangeiro do viajante, une exploração, aventura, aprimoramento e objetividade científica, observação, impressões e representações, constituindo-se um tipo único de escrito (Leite, 1996, p. 101). Os livros de viagens são vistos, portanto, como um gênero próprio, produtor de representações sociais, condicionadas a um tipo de experiência específica, a viagem, e não como sendo exclusivamente um documento histórico, literário, ficcional ou científico, mas muitas vezes reunindo todos estes estilos ao mesmo tempo. Concomitante a multiplicidade de sentidos, os relatos de viagem apresentam, de um lado, certa homogeneidade no que se refere à forma estética escolhida para apresentar as informações, e por outro lado, apresentam grande diversidade no que se refere às condições de produção. Pertencem, portanto, a um gênero específico, justificado pelo fato de seus aspectos serem comuns à maior parte deles. Nos relatos que procuram traduzir o “outro”, o “novo”, aparecem vários mecanismos retóricos que são utilizados pelo viajante escritor, como: inversão, comparação, analogia, tradução, nomeação, classificação, o uso do maravilhoso, a descrição, do qual lançaram mão para facilitar seu próprio entendimento da realidade observada e para explicitar melhor, para o leitor, o que foi por ele descrito (Martins, 2001, p. 33). Instrumentalizando todas essas possibilidades na construção do texto, o viajante vê e faz ver, é a testemunha que conta algo, e é esse olhar que detém a autoridade, ele pressupõe o saber que faz os leitores saberem também. A diversidade dos tipos de narrativas é grande. Muitos desses viajantes, iniciaram seus escritos com o intuito de informar sobre negócios políticos e financeiros, sobre as riquezas naturais, a flora e a fauna brasileiras. Mas, baseados em farta documentação e informações, passaram a escrever uma obra que relatava suas experiências e suas impressões sobre o povo, os hábitos e costumes, a religião, a alimentação e a habitação e, também, como alguns fizeram, sobre a educação e a moral, além de deixarem rico material iconográfico. É preciso distinguir os relatos de viagens que foram escritos para serem apresentados a um público específico, ou obras que foram encomendadas por governos e institutos, daquelas que apenas casualmente acabaram sendo impressas e colocadas em circulação, como é o caso dos diários de viagens, das notas e das cartas, que trazem narrativas que revelam o Novo Mundo para a Europa (Augel, 1980, p. 18). A diversidade de temas, que está ligada às diferentes condições históricas e à dimensão subjetiva do viajante, pode aparecer sob diversas formas. As narrativas podem ser do tipo: relatos de viagens propriamente ditos; registros de acontecimentos cronológicos; diários para fins científicos e diários pessoais; correspondências com a família ou com amigos; reunião de notas e impressões; relatórios administrativos ou científicos; registros de viagens com interesses mercantis, em busca de possibilidades de investimentos; havendo os que comportam alternadamente grande parte dessas formas (Leite, 1997 e Augel, 1980, p. 18). Portanto, as diferenças estão: na forma dessas obras, nos objetivos por que foram escritas, na especificidade de seu destinatário e no interesse pessoal do autor.

 



[1] Verbete elaborado por Ana Paula Seco



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