MEDICALIZAÇÃO[1]
Medicalização é o processo pelo qual o modo de vida dos homens é
apropriado pela medicina e que interfere na construção de conceitos, regras de
higiene, normas de moral e costumes prescritos – sexuais, alimentares, de
habitação – e de comportamentos sociais. Este processo está intimamente
articulado à idéia de que não se pode separar o saber -
produzido cientificamente em uma estrutura social - de suas propostas de
intervenção na sociedade, de suas proposições políticas implícitas. A medicalização
tem, como objetivo, a intervenção política no corpo social. Outro uso freqüente
do termo é “medicalização do social”, expressão que possui um campo semântico
amplo, podendo se referir a uma série diferenciada de fenômenos, o que impõe
especificarmos alguns aspectos que podem ser a ele associados.
Essa expressão pode ser entendida como a forma pela qual a evolução tecnológica
vem modificando a prática da medicina, por meio de inovações dos métodos de
diagnóstico e terapêutico, da indústria farmacêutica e de equipamentos médicos;
por outro lado, pode ser usado numa referência
às conseqüências que acarreta para o jogo de interesses envolvidos na produção
do ato médico. Embora estes e outros sejam fatores reais que propiciam a
reprodução do processo de medicalização, não é diretamente deste conjunto de
fenômenos que iremos tratar. O fenômeno da medicalização social surge e se
desenvolve, historicamente, no contexto das sociedades disciplinares, tal como
foi analisado por Foucault, em vários de seus estudos. Esse fenômeno promoveu a
ampliação do campo de função da medicina, estendo-o ao plano político. Razão
médica e ciência moderna são focos dos estudos de Madel Luz, que continuam se ampliando no Instituto de Medicina
Social da UERJ, no grupo de pesquisa sobre Racionalidades Médicas, produzindo
matriz teórica para muitos trabalhos já publicados e outros em andamento,
dentre eles teses e dissertações.
Cf. LUZ, Madel Therezinha. Natural,
racional, social: razão médica e racionalidade científica moderna. Rio de
Janeiro, Campus, 1988; LUZ, Madel Terezinha. Racionalidades médicas: diagnose e terapêutica: médicos e pacientes no
dia-a-dia institucional. (Relatório técnico final da segunda fase do
projeto Racionalidades Médicas). Rio de Janeiro, Departamento de Planejamento e
Administração em Saúde, Instituto de Medicina Social, UERJ, 1997. Cf. também, a
série de relatórios, seminários e trabalhos produzidos para o Projeto
Racionalidades Médicas, arquivados na biblioteca do IMS/UERJ.