MÉTODO DE ENSINO INTUITIVO
[1]
O método de ensino
intuitivo generalizou-se, na segunda metade do século XIX, nos países da Europa
e das Américas, como principal elemento de renovação do ensino, juntamente com
a formação de professores. Ficou conhecimento como o método do ensino popular
por ser considerado, entre os educadores, como o mais adequado à educação das
classes populares. As raízes históricas do ensino intuitivo vinculam-se ao
declínio do ensino escolástico e à ascensão dos preceitos da pedagogia moderna,
preconizados por Bacon, Comenius, Rabelais, Locke, Condilac, Rousseau,
Pestalozzi, Basedow, Campe e Froebel, entre outros. Em contraposição ao ensino
livresco, o ensino intuitivo parte da premissa de que toda a educação deve
começar pela educação dos sentidos. O método intuitivo, na definição de Buisson
(1897, p. 9), “[...] é aquele que em todo ensino faz apelo a esta força sui generis, a este olhar do espírito, a
este ímpeto espontâneo da inteligência em direção da verdade. Ele consiste não
na aplicação de um ou outro procedimento, mas na intenção e no hábito geral de
fazer agir, de deixar agir o espírito da criança em conformidade com o que nós
chamávamos a pouco de instintos intelectuais”. Valorizando a intuição como
elemento essencial do conhecimento, o método se divide em três graus,
detalhados por BUISSON (1897): a intuição sensível, a intuição intelectual e a
intuição moral. A intuição sensível é considerada como a primeira etapa do
método, conhecida no ensino primário e nos jardins de infância sob a
denominação de lições de coisas, consiste em ensinar as crianças a observar:
ver, sentir, tocar, distinguir, medir, comparar, nomear, para depois conhecer,
ou seja, educar os sentidos para depois exercê-los. A segunda forma de intuição
– a intelectual – consiste no desenvolvimento da inteligência por meio do
raciocínio, da abstração e reflexão, ultrapassando a intuição sensível. A
intuição moral ocupa o terceiro grau no desenvolvimento do ensino intuitivo e
consiste em educar a criança quanto nos aspectos morais e sociais. Colocado em circulação nas últimas décadas do
século XIX, por meio das exposições internacionais, dos congressos pedagógicos,
dos relatórios oficiais sobre a instrução pública, dos compêndios de pedagogia
e manuais de ensino, esse novo saber pedagógico desembarcou na realidade
brasileira na bagagem de nossos intelectuais ilustrados, trazendo os elementos
de renovação pedagógica de que estavam ávidos. Apesar de não se constituir em
um saber desconhecido entre nós, foi somente a partir da década de 1870 que
começou a figurar na legislação, nos debates educacionais, nos projetos de
reforma da instrução pública, nos relatórios dos professores das cadeiras de
primeiras letras, nas cadeiras da escola normal, nos jardins de infância, na
imprensa periódica e educacional e nas conferências pedagógicas. Ganhando
ênfase no decorrer da década de 1880, o método atingiu seu apogeu com as
reformas republicanas da instrução pública, a partir de 1890, as quais
consolidaram o ensino intuitivo na escola primária graduada, nos jardins de
infância e na escola normal. O método representou, juntamente com a formação de
professores, um dos principais elementos da difusão da escolarização das
classes populares nas últimas décadas do século XIX e nas primeiras do XX, no
Brasil. As principais referências documentais são: BUISSON, Ferdinand (1878,
1897, 1912); HIPPEAU, Celestin (1871, 1885); CARVALHO, Leôncio (1879, 1883);
BARBOSA, Rui (1882) (Ver Referências Documentais).
As principais referências
historiográficas sobre o tema são: HILSDORF, Maria Lúcia (1977), VALDEMARIN,
Vera Teresa (1988, 2004), SOUZA, Rosa Fátima (1998), SILVA, Vânia Beatriz
Monteiro (1999), VILLELA, Heloisa (2002) e SCHELBAUER, Analete Regina (2003,
2006) (Ver Referências Historiográficas).
REFERÊNCIAS HISTORIOGRÁFICAS
BASTOS, Maria Helena Camara. Marie Pape-Carpentier (1815-1878). Porto Alegre, 2003
(mimeo).
JOHNSON, Phil Brian. Rui
Barbosa e a reforma educacional: “as lições de coisas”. Rio de Janeiro:
Ministério da Educação e Cultura; Fundação Casa de Rui Barbosa, 1977.
HILSDORF, Maria Lúcia S.
Barbanti. Escolas americanas de
confissão protestante na província de São Paulo: um estudo de suas origens. Dissertação
(Mestrado em Educação). São Paulo: Faculdade de Educação da USP, 1977.
SCHELBAUER, Analete Regina. A constituição do método de ensino
intuitivo na província de São Paulo (1870-1889). Tese (Doutorado em Educação). São Paulo: Faculdade de Educação da
USP, 2003.
SCHELBAUER, Analete Regina. O
método intuitivo e lições de coisas no Brasil do século XIX. In: STEPHANOU,
Maria e BASTOS, Maria Helena Camara. Histórias
e memórias da educação no Brasil. Vol. II – Século XIX. Petrópolis: Vozes,
2ª. Ed., 2006, p. 132-149.
SILVA, Vânia Beatriz Monteiro
da. Escolarização e trabalho pedagógico:
um olhar sobre a construção da didática.
Tese (Doutorado em Educação). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, 1998.
SOUZA, Rosa Fátima de. Templos de civilização: um estudo sobre a implantação dos grupos
escolares no Estado de São Paulo (1890-1910). São Paulo: Ed. da UNESP,
1999.
VALDEMARIN, Vera Teresa. Método
intuitivo: os sentidos como janelas e portas que se abrem para o mundo
interpretado. In: SOUZA, R. F.; VALDEMARIN, V. T.; ALMEIDA, J. S. O legado educacional do século XIX.
Araraquara: Ed. da UNESP, 1998, p. 63-105.
VALDEMARIN, Vera Teresa. Estudando as lições de coisas: análise dos
fundamentos filosóficos do Método de Ensino Intuitivo. Campinas: Autores Associados, 2004.
VILLELA, Heloisa. Da
palmatória à lanterna mágica: a escola normal da província do Rio de Janeiro
entre o artesanato e a formação profissional (1868-1876). Tese (Doutorado em Educação). São
Paulo: Faculdade de Educação da USP, 2002.
[1] Verbete elaborado por Analete Regina Schelbauer,
professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação e do Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. Integrante e
Pesquisadora do HISTEDBR – GT Maringá.