PEDAGOGIA ESCOLANOVISTA[1]
O
ideário da Escola Nova veio para contrapor o que era considerado “tradicional”.
Os seus defensores lutavam por diferenciar – se das práticas pedagógicas
anteriores. No fim do século XIX, muitas das mudanças que seriam afirmadas como
originais pelo “escolanovismo” da década de 20, já eram levantadas e colocadas
em prática.
... a centralidade
da criança nas relações de aprendizagem, o respeito às normas higiênicas na disciplinarização do
corpo do aluno e de seus gestos, a cientificidade da escolarização de saberes e
fazeres sociais e a exaltação do ato de observar, de intuir, na construção do
conhecimento do aluno. (Vidal, 2003, p. 497)
A grande diferença é que na
década de 1920 a escola renovada pretendia a incorporação de toda a população
infantil. O aluno assumia o centro dos processos de aquisição do conhecimento
escolar. A aquisição da escrita tornou-se imprescindível dentro das capacidades
fundamentais para o indivíduo. Deveria ser uma técnica mais racional, seguindo
os princípios de Ferrier, para não causar uma “fadiga inútil”. Ocorreu uma
modificação nos traços e nas formas de
escrita.
As preocupações com a leitura
também ocuparam espaço nas discussões escolanovistas. A leitura oral, prática
presente em todo o período anterior de nossa história, principalmente devido ao
pequeno número de letrados e de livros, deveria ser substituída pala prática da
leitura silenciosa. “O
domínio da leitura silenciosa possibilitava ao indivíduo o acesso a um número
maior de informações, concorrendo para potencializar a ampliação de sai
experiência individual”. (Vidal, 2003, p. 506)
O ler e o escrever passaram a
ser associados e racionalizados. Por outro lado, o conhecimento era adquirido
através da experiência. Os alunos eram levados a observar fatos e objetos com o
intuito de conhecê-los.
O conhecimento,
em lugar de ser transmitido pelo professor para memorização, emergia da relação
concreta estabelecida entre os alunos e esses objetos ou fatos, devendo a
escola responsabilizar-se por incorporar um amplo conjunto de materiais. (VIDAL,
2003, p. 509)
As preocupações educacionais da
década de 20 culminaram na elaboração do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, assinado pelos principais
expoentes do meio educacional brasileiro. Basearam –se em partes dos ideários
educacionais implantados em outros territórios (como DEWEY e FERRER), mas
adaptaram ao contexto brasileiro. O Manifesto foi liderado por
Fernando de Azevedo, com o apoio de
Anísio Teixeira, Roquette Pinto, Mario Casassanta, Cecília Meirelles e vários
outros. Segundo os responsáveis por este documento, 43 anos após a proclamação
da República, não havia sido criado ainda um sistema de organização escolar à
altura das necessidades modernas e do país. O maior problema nacional era a
educação pois ela era um meio de segregação social. A educação nova deveria
deixar de ser um privilégio determinado pela condição econômica e social do
indivíduo, para assumir um “caráter
biológico”. A educação deveria então reconhecer que todo o indivíduo teria o direito de ser
educado até onde permitia as suas aptidões naturais, independente de razões de
ordem econômica e social. Pregavam ainda que a educação era uma função
essencialmente pública, gratuita e
necessitava da co-educação para tornar mais econômica a organização da
obra escolar.
O documento não fala das diferenças étnicas e sociais pois
trabalha com a perspectiva de que
todos são iguais, diferenciando somente em suas capacidades cognitivas. É a
idéia de implantação de uma democracia educacional. Alia-se a isto as
ansiedades do governo populista de Getúlio Vargas, o qual pregava a necessidade
de aumentar o número de escolas e de alunos matriculados .
Bibliografia:
SAVIANI, Dermeval. O legado
educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, Dermeval ( et. al.). O
legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, SP: Autores
Associados, 2004
VIDAL, Diana Gonçalves. Escola
Nova e processo educativo. In: LOPES, Eliane Marta, FIGUEIREDO, Luciano e
GREIVAS, Cynthia (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 3ª. Ed.,
2003