Produção do espaço[1]
Os conceitos de espaço e de localização (locus) derivam da prática social de produção e reprodução
no contexto da divisão social do trabalho. Toda sociedade precisa de um
território para viver; com a divisão social do trabalho esse território é
estruturado como um espaço. Atividades, isto é, processos de produção e
reprodução, requerem espaços (localizações), e entre essas localizações se
estabelece uma interconexão de acordo com a interação entre as atividades. Tal
interconexão é o próprio estofo, matéria constituinte do espaço e define como
ele está estruturado.
A mais simples – a mais abstrata
– representação do espaço é o espaço matemático. Em matemática o espaço é
definido pelo modo segundo o qual as distâncias entre pontos são medidas: uma
métrica. Em outros termos, espaço é formado por pontos – localizações
adimensionais – relacionados entre si de uma maneira específica, descrita pela
métrica que o define. Localização e espaço são definidas simultaneamente, a
matéria constitutiva do espaço sendo o conjunto de relações entre as
localizações nele contidas, e a especificidade do espaço consistindo na maneira
específica pela qual as localizações são relacionadas entre si.
No mundo concreto em que as
sociedades vivem, tanto as localizações como as relações entre as mesmas – que
constituem o espaço econômico – precisam se materializar, e para tanto,
precisam ser produzidas. As localizações, os ‘pontos’, se transformam em
extensões finitas, delimitadas, de território, cuja expressão elementar é a
forma jurídica de propriedade (ou, anteriormente, direito feudal) – uma porção de terra, uma área construída
(fábrica, habitação, escritório etc) – materializada em uma estrutura assentada
(sobre, abaixo ou acima) na superfície terrestre.[2] Do mesmo modo, as relações que constituem o
espaço econômico são caminhos, estradas, fios, cabos, tubulações, antenas,
satélites etc, pelos quais objetos materiais e pessoas podem ser transportados
de localização a localização. São estruturas físicas – em seu conjunto uma
infraestrutura – e devem ser construídas para existirem. Somente assim a
distância entre duas localizações (em comprimento, em tempo, em custo
monetário), a estrutura do espaço e em última análise, o prório
espaço, se materializa. O espaço econômico é um produto do trabalho.
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Espaço em
matemática - O plano cartesiano é o próprio
modelo do espaço do mercado unificado de uma sociedade capitalista. Um espaço é definido por uma métrica,
que é uma representação de como se desloca entre dois pontos. Para as
métricas ilustradas, os contornos em linha grossa representam pontos equidistantes (‘bolas’) dos respectivos ‘centros’ --
pontos C. Ainda que isso não seja seu objetivo principal, os exemplos
correspondem de fato a estruturas espaciais concretas bastante comuns: a
malha ortogonal quadrada; a mesma exceto que se move mais facilmente
(digamos, mais rápido) em uma das direções; um plano isótropo sobre a qual se
move livremente em todas as direções (como no mar, no ar, ou no deserto); e o
mesmo sobre um plano inclinado segundo o eixo Ox. |
Deák,
Csaba (1985) Rent theory and the price of urban land/
Spatial organization in a capitalist economy PhD Thesis,
Fonte: http://www.usp.br/fau/docentes/depprojeto/c_deak/CD/4verb/ideolog/index.html
[1] Verbete
elaborado por Maria Isabel Moura Nascimento. GT Campos Gerais-PR-Universidade
Estadual de Ponta Grossa-UEPG
[2] Notar
que a forma mais simples de localização, uma porção de terra, já é um produto
social materializado –mesmo se não considerarmos a cerca a seu redor– num
título legal escrito, a concreção do qual os pequenos proprietários (freeholders) da Inglaterra do século 17 sentiram duramente
na pele, após a abolição do direito feudal pela instituição do direito burguês
à terra – a saber, a propriedade privada (Hill,1967:147).