UNIVERSIDADE MEDIEVAL[1]
A estrutura universitária surgiu no período medieval
ocidental. O fortalecimento do meio urbano foi propício para o aparecimento
desta nova estrutura. Para que o impulso do mundo urbano existisse, foi
necessário um fortalecimento do comércio, o qual só foi possível com o
movimento das Cruzadas entre o Ocidente e o Oriente.O contato com o mundo
Bizantino e, principalmente, com o mundo muçulmano, foram fundamentais para
transformar e construir este novo mundo do saber.
A palavra universitas significa Corporação e, enquanto tal,
deve-se analisar o primeiro momento das
instituições de saber medieval. As Corporações de Ofício medievais
congregavam pessoas com um mesmo interesse econômico, político ou cultural.
Tais pessoas agrupavam-se, criavam um estatuto para garantir os melhores preços
e impedir a entrada de produtos ou de pessoas em seu meio. Cada membro da corporação deveria respeitar um estatuto próprio.
O termo latino universitas
significa também agrupamento ou universalidade. Tal palavra poderia
caracterizar qualquer corporação de ofício, inclusive a de mestres e/ou alunos.
Com o passar do tempo, passou a caracterizar somente a corporação do saber. No
século XIII já existiam documentos que comprovavam a especificação para o termo.
Não
houve data marcada para o aparecimento das primeiras Universidades. Existem
vestígios de que foi entre o final do século XI e o início do XII. Os documentos,
como as bulas pontificiais e as cartas patentes dos reis, consagram o
que já era fato consumado, ou seja, a constituição da corporação de mestres e
de estudantes. A verdade é que as cidades nascentes necessitavam de novos
habitantes: eclesiásticos para guiar o número crescente de fiéis, juristas para
o número crescente de tribunais, burocratas para os reis e senhores feudais,
funcionários para controlar a contabilidade dos mercadores, etc..
A idéia
de Universalidade também se aplica neste primeiro momento, pois os alunos
vinham de todos s lugares e a comunicação entre eles era feita por uma língua
também universal: o latim.
“Língua das escrituras e da cultura erudita, o latim foi também, como
seria natural, a língua do ensino. Estudar era, antes de mais nada, estudar “as
letras” ( litterae), quer dizer, o latim.” (Verger, 1999, p. 27). O conhecimento prévio da escrita latina era
uma das condições para ingressar nas Universidades, além, é claro, de ser
batizado e dar provas de boa conduta moral.
A universitas
constituía uma simples associação de indivíduos, sem o caráter institucional
das Universidades modernas. Bastava que os alunos estivessem ligados a um
mestre e o seguisse. Essa agregação formava a chamada schola ou
“família”. Os alunos seguiam os mestres por todos os lugares e as aulas
poderiam acontecer em qualquer lugar.
Neste primeiro momento,
indivíduos de todas as classes poderiam ter acesso à Universidade, tanto para
estudar quanto para lecionar. O saber era considerado um “Dom” divino e, como
tal, caberia a qualquer cristão que
fosse agraciado por Deus e tivesse assim o Dom do conhecimento do
latim. Os universitários pagavam as
aulas ministradas pelos mestres. Muitos estudantes eram sustentados por suas
famílias. Aqueles que não tinham como se sustentar no meio acadêmico, recorriam
à população citadina a qual necessitava dos serviços contábeis realizados pelos
alunos ou então faziam doações a título de pagamento de penitências , doando
àqueles que possuíam o dom divino do saber. Existiam ainda aqueles
alunos que trabalhavam como copistas para os livreiros locais ou aqueles que
recebiam bolsas de estudos por parte dos poderes religioso ou político locais.
As
Universidades poderiam surgir de três formas distintas: espontaneamente, por
parte de um poder local ou das escolas catedralícias e por migração de uma
Universidade pré-existente. “(...) a nova instituição pedagógica medieval
formou-se em conseqüência do desenvolvimento das escolas episcopais, dos novos
métodos didáticos, do aumento do saber em virtude das tradições das obras
gregas e árabes, da proteção ao ensino por papas e príncipes, mas o fator
essencial para sua gênese, foi o caráter corporativo que assumiram as escolas
de artes, direito, teologia e medicina.” ( Nunes, 1878, p. 212)
Sabemos
que entre as primeiras Universidades figuram as de Paris, Bolonha na Itália e
Oxford na Inglaterra. Tanto na Universidade de Paris quanto na de Oxford, os
professores eram os “mestres” da corporação e os alunos os “aprendizes”. Em
Bolonha, os alunos é quem geriam a corporação.
A figura
do reitor era fundamental para a
manutenção da Corporação. Ele intermediava as relações entre mestres e
aprendizes, sendo escolhido por ambas as partes ou apenas por uma delas.
A
ingressão dos alunos acontecia entre os 12 e 15 anos iniciando o curso das artes
liberais, com as disciplinas do trivium e o quadrivium. As disciplinas do trivium,
ou ciência da palavra, dividiam-se em gramática latina, retórica e dialética.
Já o quadrivium, ou ciência das coisas, dividia-se em aritmética,
geometria, astronomia e música.
Tentando
controlar a Universidade medieval, a Igreja Católica instituiu a Licentia
Docendi ( permissão para ensinar), a qual só poderia ser concedida pela Igreja. Instituiu também as prebendas,
salários para os mestres, os quais, a partir desse momento, tornavam-se
funcionários eclesiásticos ou principescos. A partir desse momento, a
influência dos meios certos levava então ao cargo, ou seja, os mestres teriam
que possuir bons relacionamentos nas esferas de poder.
Bibliografia:
FRANCO
JR, Hilário. A Idade Média-
Nascimento do Ocidente. São
Paulo: Brasiliense, 1992 .
LE GOFF,
Jacques. Por amor às cidades. São
Paulo: UNESP, 1999
_______________.
Os intelectuais na Idade Média. Lisboa:
Gradiva, 1984.
NUNES,
Ruy Afonso Costa. História da educação na Idade Média. São Paulo: EPU/EDUSP, 1978.
ULLMANN,
Reinholdo. A universidade medieval.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000
VERGER,
Jacques. Homens de saber na Idade Média. São Paulo: EDUSC, 1999.