VIAGENS MARAVILHOSAS: A CONQUISTA DO NOVO MUNDO (AS) [1]
As viagens dos séculos XVI e XVII caracterizaram-se por uma exploração
de deslocamento espacial, por serem de conquista, e foram narradas de maneira
cronológica (Raminelli, 2000, p. 27-46). Os conquistadores ultramarinos
iniciaram um processo de desvendamento e exploração de um mundo ainda
fantástico, criando a idéia de um “Novo Mundo”, contrapondo-se ao “Velho
Mundo”, característica da lógica do período do expansionismo europeu. Com as
viagens, que levaram às chamadas “descobertas”, na América e no Pacífico, com
Cristóvão Colombo, Pero Vaz de Caminha, Américo Vespucci e outros, nasceu o
gênero “literatura de viagem”, como conseqüência e fruto dessas viagens de
conquista. Seus discursos de viagem “inauguraram” o continente através de
cartas descritivas, de relatos fantásticos e dos mapas. Embora a travessia do
Atlântico inaugure o que se convencionou chamar de “época moderna”, os
primeiros europeus, que abordaram estas terras a partir do século XVI, descreveram
a América como um mundo de natureza primitiva, um espaço devoluto e atemporal,
ocupado por plantas e seres de uma alteridade inaudita; um mundo não organizado
em sociedades e economias; um mundo cuja única história era aquela prestes a se
iniciar. Seus discursos também retrataram a América em meio a um discurso de
acúmulo, abundância e inocência, instituindo um “mito fundador”, que reforçava
utopias e sonhos, resgatando o imaginário medieval do fantástico, do exótico e
do mitológico. As estórias de canibais passaram a povoar o imaginário europeu,
através de obras divulgadas com sucesso, conhecidas por literatura de
sobrevivência, em geral referentes às navegações, cujos grandes temas eram os
sofrimentos e perigos, de um lado, e as maravilhas exóticas e as curiosidades,
de outro. Nessas, o desconhecido aparece como um mundo de fascinação e perigo.
Neste cenário os portugueses saíram à frente e empreenderam descobertas que aos
poucos iam desmistificando a geografia fantástica das novas terras, o que foi
também modificando, paulatinamente, uma das características mais marcantes dos
relatos desses viajantes do período da Conquista, que é a menção ao
maravilhoso, ao fantástico, ao exótico e ao mitológico.