VIAJANTES[1]
Podemos definir viajantes como sendo estrangeiros, e como tal, sem
maiores ligações com a população local visitada. Como não poderia deixar de
ser, os viajantes que aqui chegaram apresentavam e representavam diferentes
culturas e por isso mesmo, não se identificavam com os sistemas de orientação,
com os hábitos do grupo com que entravam em contato e, sem a intenção de
incorporar os esquemas mentais do povo visitado, conservaram, assim, certa
autonomia diante do espaço ocupado pela população. Também “viajantes” devido às
travessias dos oceanos e por continuarem explorando as grandes dimensões do
território brasileiro, não importando o tempo de permanência no Brasil, às
vezes breve, outras vezes mais extensas, mas sempre limitada. Entra, também, neste
quadro que procura definir o que está sendo entendido por “viajante”, o fato de
o próprio naturalista, comerciante, aventureiro, engenheiro, capelão ou
educador se denominarem como tal (Leite, 1997, p. 161-164). Entre os viajantes
que visitaram o Brasil, deixando testemunhos escritos sobre o que viram,
ouviram, leram e refletiram estão: representantes diplomáticos, cultivando
relações políticas e econômicas; naturalistas, exploradores e cientistas,
deslumbrados com a nossa flora e fauna; homens de negócio, vislumbrando lucros;
artistas, que souberam captar o elemento novo, a situação diversa, os traços e
os passos da brasilidade em formação; religiosos, missionários que se dedicaram
sobretudo à população aborígine; capelães de missões européias; profissionais
liberais; oficiais da marinha; técnicos; geógrafos; aventureiros; governantas;
pintores; artesãos; jornalistas; foragidos; engenheiros, médicos e também
educadores que enfrentaram grandes distâncias tentando transmitir às crianças
brasileiras a educação européia (Augel, 1980). O viajante era um indivíduo que
pertencia a uma determinada classe social, a uma determinada família, com uma
rede de relações e uma religião, o que de uma certa forma direcionava,
orientava o seu olhar sobre o outro.