O
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: o encerramento de uma
experiência de formação docente nos anos 30
Olinda Evangelista*
RESUMO
O presente texto tem o
objetivo de expor a recuperação histórica dos motivos que levaram o Interventor
Federal Ademar de Barros, em conluio com a Igreja Católica, a encerrar a
primeira experiência nacional de formação de professor em nível universitário.
Iniciada em 1934, no interior da Universidade de São Paulo, foi violentamente
terminada em 1938, simultaneamente ao encerramento da Universidade do Distrito
Federal. O método de trabalho privilegiou o estudo da documentação relativa ao
acontecimento assim como a revisão da literatura existente sobre o tema. De
posse desse material histórico foi possível reconstruir os argumentos usados
pelo Governo de Aademar de Barros para justificar sua arbitrariedade. Ademais,
foi possível apreender esse episódio como parte das iniciativas do Estado
Getulista de afirmar seu próprio modelo de formação docente, configurado na
Faculdade Nacional de Filosofia, em 1940.
PALAVRAS-CHAVES: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO; FORMAÇÃO DO PROFESSOR;
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
O INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO:
o encerramento de uma
experiência de formação docente nos anos 30
Introdução
A intenção desse texto é reconstruir historicamente a
trajetória acadêmica da primeira experiência brasileira de formação do
professor em nível universitário, iniciada em 1934, no Instituto de Educação da
Universidade de São Paulo - IEUSP. Essa trajetória foi arbitrariamente
encerrada pelo governo interventor de Ademar de Barros, em 1938, com a ajuda
das hostes católicas, contendores importantes de Fernando de Azevedo, diretor
do IEUSP. A pesquisa levou à constituição de um corpus documental consistente que permitiu reconstituir os
argumentos utilizados pelo Estado, supostamente explicativos do episódio, bem
como os utilizados pelos catedráticos, que buscavam reverter a situação em que
foram colocados. A investida dos catedráticos não encontrou acolhida nos
governos estadual e federal, interrompendo-se, assim, um modelo importante de
formação universitarizada do mestre primário e secundário.
O encerramento do IEUSP
A
situação em que Azevedo exprimiu sua desilusão em relação ao encerramento
arbitrário das atividades do Instituto de Educação da USP era grave: “Destes
cinco anos de trabalho ininterrupto que ficou, que me reservaram? Da obra, nada
ficou: foi tudo integralmente destruído. Não ficou pedra sobre pedra. É como se
tivesse passado um furacão. Tomaram-nos de assalto os edifícios e as
instalações, que pertencem ao Instituto e à Universidade, secretaria,
biblioteca, laboratórios, contínuos e entregaram a uma instituição igual às
outras escolas normais e estranha e inincorporável a um sistema universitário”(
Azevedo apud PENNA, 1987, p.122).
Tal gravidade
dava-se não só pelo que significou de agressão à sua pessoa, mas pelo que
conteve de estratégia de contenção de um projeto pedagógico em franca
organização. Em carta a Venâncio Filho afirmou que ofereceria em sacrifício sua
própria vida caso fosse impossível lutar em favor da educação nacional (PENNA,
1987). Parece não haver exagero quanto ao fato de que uma estrutura grandiosa
foi destruída. Muitos foram os motivos alegados pelo Interventor Federal,
Ademar de Barros, para o encerramento do Instituto. Sob o ácido gosto dos
argumentos administrativos, corriam motivações de sabores diferentes.
Recuperar o
processo histórico que resultou na extinção do IEUSP assim como discutir
algumas interpretações correntes sobre o episódio é tarefa necessária para
compreender-se o duro golpe desferido contra a formação superior de professores
no país. De outro lado, importa também para entender-se como Fernando de
Azevedo, seu diretor, registrou o ocorrido, elidindo importantes informações
sobre essa iniciativa pioneira no Brasil.
Os argumentos do Estado e a defesa dos docentes
A decisão do Interventor Federal do Estado de São Paulo foi tomada por
decreto - n°. 9.269 - em junho de 1938. A reação eclodiu em 27 de agosto com a
publicação de entrevista com Ademar de Barros na qual elencava dez razões para
sua decisão, imediatamente contestadas por alguns professores que publicaram
carta no jornal A Noite, do Rio de
Janeiro (ALMEIDA JR., 1966). A primeira contenda deu-se em relação à legalidade
do fato dado que o Interventor entendia que seu procedimento respeitava a
legislação. Entretanto, ferira a legislação federal e os Estatutos da
Universidade de São Paulo ao não respeitar a exigência de participação do
Conselho Universitário, do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Ministério
da Educação e Saúde e da Presidência da República na referida decisão (Decreto
nº.19.851, de 11 de abril de 1931, e Decreto nº.6.283, de 25 de janeiro de
1934). Por essas leis, comprovava-se, segundo os professores, que a atitude do
governo padecia de sustentação legal.
Mas essa não foi a única alegação. Barros entendia que o Instituto
subordinava a si o Jardim de Infância, a Escola Primária e a Escola Secundária,
o que não cabia a uma instituição de ensino superior. Já para os professores,
tal entendimento revelava sua ignorância pois as escolas eram anexas, de
caráter experimental, e apenas o Instituto fazia parte da USP. Essas davam
suporte às práticas pedagógicas e experimentais das diversas Cadeiras e seus
laboratórios. Evidentemente havia ascendência política sobre as escolas anexas
de Azevedo. As bancas de concurso para Catedráticos da Escola Secundária eram
definidas pela Congregação do IEUSP; os professores eram remanejados de um
nível para outro, ignorada a diferença institucional. O corpo docente do
Colégio Universitário era constituído de Catedráticos da Escola Secundária e
Assistentes do IEUSP. É de se reconhecer, pois, que seus tentáculos atingiam
todas as unidades do Instituto que, sendo dividido administrativamente, na
prática operava como um sistema de ensino. Politicamente, portanto, Azevedo
granjeava significativos dividendos.
Argumentava ainda Barros que o Instituto custava uma fortuna por
sustentar tais escolas. Contra-argumentaram os professores que o orçamento das
escolas não fazia parte do orçamento do Instituto, dos mais baratos da
Universidade. De fato, cada escola possuía rubrica própria no orçamento global
do Instituto, um título do orçamento do Estado, exceto a Primária. Tal motivo
poderia vincular-se aos custos da reforma do prédio, embora Azevedo as tenha
financiado relativamente ao mobiliário, acervo de livros, materiais didáticos.
Por outro lado, o Instituto captava recursos pela cobrança de taxas nos cursos
superiores e na Escola Secundária. Desse modo, era difícil atribuir
responsabilidades a um ou outro nível dado que se entrelaçavam de modo bastante
peculiar. Contudo, afirmaram os professores que a separação do Instituto
daquelas escolas não diminuíra o orçamento delas. Faz sentido tal afirmação
pois o orçamento geral do Instituto em 1938 foi de 1.476:650$000; o orçamento
da Escola Normal Modelo, para 1939, foi de 1:092:850$000. Outro dado é
importante aqui. Em 1938 o IEUSP contava 61 funcionários e, em 1939, a Escola
Normal Modelo 58; no caso dos professores, dos 69 existentes em 1938, passou-se
a 42 em 1939. Nos dois casos os valores salariais permaneceram praticamente os
mesmos.
Podemos concluir
que o Instituto custava de fato caro dada sua megaestrutura, aparelhamento e
reformulações pelas quais passou. Contudo tal acusação parece ter servido mais
como meio de convencimento de uma platéia que, não dominando todos os elementos
da contenda, não reunia condições para estabelecer a crítica ao procedimento
discricionário do Estado. Em segundo lugar, as mudanças salariais foram
operadas em relação aos cargos administrativos e professores e funcionários
permaneceram como estavam. Excelente estratégia. Assegurou que os detentores de
informações permanecessem na escola e a administrassem segundo as orientações
do Secretário da Educação e Saúde Pública, Mariano de Oliveira Wendel, do campo
católico, inimigo de Azevedo (TOLEDO, 1995).
Os gastos de
Azevedo com a reforma - de um andar, segundo Barros -do prédio também foram
utilizados. Sem contestar os valores dados como gastos, os professores optaram
por detalhar, em sua defesa, o tipo de reforma que se realizara: “reconstrução
dos dois primeiros pavimentos e de pavimento térreo (porão) da antiga escola
normal, assim como a edificação de um terceiro pavimento sobre toda a área já
construída, e a de um auditório (ainda por concluir-se), além da substituição
integral das instalações de eletricidade, água, esgotos e gabinetes sanitários
em todo o prédio” (ALMEIDA JR., 1966 a).
Tudo aprovado
pelo governo. Mas os governantes já não eram os mesmos. Foi sob a Interventoria
de Armando de Salles Oliveira, que a reforma iniciou, novembro de 1935 (Revista de Educação, dez. 1934; Archivos, 1937b). Em julho de 1936 o
terceiro pavimento estava praticamente concluído, começando a construção do
auditório e dois pavilhões laterais, trazendo ao Instituto a imponência e majestade que, antes, não tinha.
Ademar de Barros finalizou as obras do prédio em proveito de seu projeto
político e reconduziu a Escola Normal ao estatuto de instituição de alto nível.
As participações
governamentais no processo de reconstrução do edifício da Praça da República
foram unificadas, pelos docentes, como favoráveis à reforma. A posição de
Castilho de Lima, primeiro governante envolvido, em 1933, era desfavorável, não
explicitamente; a de Salles Oliveira era favorável por fazer parte de seus
interesses e Melo Neto, reconhecendo a importância da obra, continuou seu
financiamento. Mas o processo deflagrado contra o IEUSP o foi por Ademar de
Barros e pelo Secretário do Estado dos Negócios da Educação e Saúde Pública, Mariano de Oliveira Wendel,
cujas posições políticas eram diferentes das vigentes nos postos de poder do
Instituto e articuladas, no plano nacional, com o Ministro da Educação Gustavo
Capanema.[1]
É possível
imaginar que uma reforma daquele porte não deve ter saído barato aos cofres
públicos. De outro lado, não se pode desconsiderar que as construções
portentosas marcaram o período. Pode ser mais razoável supor que se pretendeu
estancar o crescimento do Instituto e sua ejeção a lugares acadêmicos e
políticos, na cidade, no Estado e nacionalmente, pouco apreciáveis pelas forças
contrárias. Azevedo não tratava apenas de viabilizar a formação do professor em
nível universitário, mas de articular de tal modo os vários graus de ensino que
o Instituto viesse a ser modelo para o funcionamento do sistema educativo.
Várias iniciativas foram tomadas para ampliar seu público. O fato de que
Almeida Jr. fosse Diretor de Ensino e que Azevedo fosse o Diretor do Instituto
conferia maior poder de entrada na rede de ensino e influência junto aos
professores. Funcionando o Instituto como um mini sistema de ensino reuniria
condições de propor à rede um projeto pedagógico de caráter global.
O argumento do
elevado preço das obras era motivo aparente para a intervenção realizada. Em
maio de 1938, pouco antes do episódio, Azevedo informou ao Diretor Geral do
Departamento Nacional, Mario de Brito, que as obras de construção do primeiro,
segundo e terceiro piso estavam encerradas, faltando a parte final do “Auditorium, podendo fazer-se a inspeção
federal permanente na Escola Secundária”. Por mais objeções que houvessem, as
obras haviam chegado a bom termo e boa parte da escola já estava em pleno
funcionamento. Tão bom funcionamento que, ao se extinguir o Instituto, a Escola
Normal Modelo funcionou no mesmo prédio (Diário
de S. Paulo, 11 de abril de 1939), e juntamente a Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras, cujo diretor era o católico Alexandre Corrêa, também inimigo
histórico de Azevedo.[2]
Uma outra
acusação relacionou-se à compra de mobiliário que, segundo o Interventor,
chegara a oitenta contos de réis. No
volume dois do livro Nota de Empenho, encontra-se uma despesa de 200:000$000,
em 10 de junho de 1937, a ser paga para o Liceu de Artes e Ofícios pela
confecção de mobiliário. No mesmo livro, volume 4, em 21 de março de 1938,
consta uma despesa de 285:000$000 para os mesmos fins. Nos orçamentos de 1937 e
1938 vieram verbas de Material Permanente no valor de 200:000$000 e
300:000$000, respectivamente, o que permite supor que esses totais serviriam
para pagar o Liceu. Os docentes informam que o mobiliário do Instituto seria
substituído por outro a ser feito pelo Liceu de Artes e Ofícios cujos custos
não excederiam a oitenta contos de réis.
Pontificava –
entre as motivações construídas - a de que o Instituto prejudicava o combate ao
analfabetismo por tornar difícil a
formação dos professores primários. A resposta dos Catedráticos lançava mão de
dados numéricos indicativos de que o Estado formava 1.600 professores por ano,
sendo 800 as vagas existentes, para as quais se inscreviam cerca de 2.000
candidatos. Com estas evidências em punho, ironizaram: “Se procurar elevar o
nível cultural do magistério primário significa ‘dificultar’ o ensino, deve
também ser fechada a Faculdade de Medicina, que, com seu alto padrão de
estudos, está ‘dificultando’ a cura dos doentes”( ALMEIDA JR., 1966a, p.212).
Talvez a ironia não fosse a melhor saída já que, examinando os dados de
matrículas, foi possível concluir que entre 1934 e 1936 o Instituto perdeu em
torno de 310 alunos com o encerramento do Curso de Formação Profissional,
correspondente ao antigo Curso Normal. Agregou, entre 35 e 38, apenas 53 alunos
para o Curso de Formação de Professores Primários. Ou seja, ocorreu um
estreitamento do atendimento à clientela. A existência de formados excedentes e
desempregados não justificaria a elevação da formação do magistério primário ao
nível superior. Também não a justificaria o argumento contrário.
Com relação a
prejuízos aos docentes, o Interventor afirmou que como os Catedráticos
pertenciam ao IEUSP, não ficariam prejudicados com a transferência para a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Não foi considerado, nesse caso, que
a Escola Secundária possuía “Catedráticos” anteriormente aos do Instituto.
Também na 5ª Seção do Colégio Universitário existiam Catedráticos, o que
revelava desconhecimento ou que esse era mais um argumento de retórica...
Os Catedráticos
da Escola Secundária não foram transferidos, mas as alterações produziram
efeitos prejudiciais aos professores. Não mais partilhavam uma instituição
universitária, além de, na prática, terem perdido a condição de escolas anexas
que de algum modo lhes possibilitava a convivência com a produção do
conhecimento, com professores estrangeiros, com conferencistas internacionais e
com os Catedráticos do Instituto, além de perderem as relações estabelecidas
entre os alunos dos cursos superiores e as escolas secundária, primária e
infantil. Do ponto de vista dos Catedráticos e Assistentes transferidos para a
FFCL ocorreu também grande perda. De unidade universitária, com procedimentos
próprios de decisão política e acadêmica, assento no Conselho Universitário,
relativa autonomia e vasto campo político de atuação, o IEUSP tornou-se Seção
da FFCL, restringindo seu arco de influências, ao mesmo tempo que seus dois
laboratórios mais importantes foram desarticulados, Psicologia e Biologia.[3]
Praticamente tudo o que pertencia ao Instituto ficou na Escola Normal Modelo.
Outros
argumentos vieram à baila: Fernando de Azevedo dirigia pessoalmente as escolas
anexas ou nomeava sua direção. Afirmaram os Catedráticos que ele não as dirigia
nem nomeava seus diretores, prerrogativa do Governo do Estado, exceto no caso
da Escola Primária que após 1936 teve um Auxiliar assumindo as funções de
direção. Os cargos que competiam a Azevedo nomear eram os de Inspetora e de
Auxiliar de Inspetora do Jardim da Infância (Decreto nº.7.067, de 6 de abril de
1935). O Estado jamais utilizou sua prerrogativa para nomeação dos cargos de
direção ou sequer foi contra as indicações de Azevedo, acatadas pela
Congregação, em geral, por unanimidade. Não seguir a indicação de Azevedo
criaria um fato político constrangedor, tanto para o Estado quanto para o
Instituto.
Ademar de Barros
chamou também como razão para o ocorrido a existência de Cadeiras vagas,
indesejáveis em uma instituição universitária. Em resposta afirmou-se que tais
Cadeiras estavam providas interinamente e os editais de concurso estavam
abertos para a solução definitiva do problema. A informação do Interventor
correspondeu a meia-verdade dado que existiam cadeiras vagas, porém não sem
Catedráticos. A Congregação, a partir de setembro de 1935, realizou de inúmeros
concursos para Catedráticos e Docentes-livres, realizando-se nesse ano três. Em
1936 e 1937 os concursos continuaram assim como em 1938 (Atas das sessões da Congregação, 1933-19...).
O quadro docente
do Instituto estava praticamente completo. A primeira cadeira, Biologia
Educacional, a segunda, Psicologia Educacional, a terceira, Sociologia
Educacional, a quarta, Filosofia e História da Educação, a quinta, Estatística
e Educação Comparada, e a oitava, Metodologia do Ensino Primário, estavam
completas, com Catedráticos e Assistentes. Apenas duas encontravam-se em
situação de interinidade, assumidas por Catedráticos de outras cadeiras. Mesmo
que estivessem vagas, o que não ocorria, os outros cargos estavam preenchidos
dentro das disposições legais, permitindo que os cursos funcionassem
normalmente bem como as atividades laboratoriais, embora com dificuldades
relativas a material. Tinham razão os docentes ao afirmarem que “é rara a
escola superior em que esse fato não ocorre. E não se pensa, por isso, em
suprimir a instituição”(ALMEIDA JR., 1966 a, p. 213).
A estrutura
acadêmica do Instituto não se podia comparar com a de outras escolas superiores
cujo corpo docente se constituiu ao longo dos anos, nem tampouco com a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que contratara uma missão estrangeira
para compor seu quadro de magistério. Pelo tempo que possuía de existência,
pelas dificuldades que vinha enfrentando com as obras no edifício e
considerando-se que só em 1935 conseguira implementar o currículo proposto, o
IEUSP estava em estágio bastante avançado de organização. Tais determinações
foram evidentemente ignoradas pelo Interventor, cujas ações não tinham em mente
propiciar melhores condições de existência acadêmica para a instituição nem
tampouco elevar a qualidade da formação do magistério, mas sim o seu extermínio
por razões que progressivamente ficaram explicitadas.
Finalmente, o
governo afirmou que os salários dos professores do Instituto eram os maiores da
USP, superando os da Faculdade de Medicina. Demostrou-se objetivamente que os
professores da Faculdade de Medicina recebiam mais. No IEUSP, um professor
recebia 1:500$000 mensais para dar seis aulas por semana enquanto na maior
parte da universidade este total subia para 2:300$000. No caso da Faculdade de
Direito, para dar seis aulas um professor recebia 3:900$000. Para chegar a
3:000$000 mensais, o professor do Instituto deveria dar quinze aulas semanais.
Na Faculdade de Medicina, o professor recebia 4:000$000 mensais pelo mesmo
número de aulas. Mas se o salário do Instituto era menor que os acima
referidos, era maior que os dos docentes da Faculdade de Farmácia e
Odontologia, que chegava a 1:000$000 por mês (Decreto nº.6.414, de 25 de abril
de 1934). Essa pendenga escondia os salários atribuídos aos professores da
Escola Normal Modelo. Ali os Catedráticos recebiam 18:000$000, ao ano, por 18
aulas semanais, equivalentes aos salários dos Catedráticos do Instituto, com
carga de ensino menor, mas com carga de pesquisa maior (Decreto nº.9.256, de 22
de junho de 1938).
Nem todos os
argumentos de Barros estavam destituídos de objetividade. Contudo sua
objetividade foi construída no terreno político e por isso pôde ser utilizada
para o encerramento do Instituto. De todas as acusações, a única que incorreu
em erro cabal foi a legal - a mais importante inclusive - já que o governador
agiu ao arrepio da legislação em vigor, desconsiderando-a voluntariamente,
porque assessorado pelo próprio Secretário da Educação.
Inconformados
com o ocorrido, os signatários da carta procuraram estabelecer conversações com
o governo do Estado para reverter o acontecido. Em julho de 1938, Azevedo
escreve a Venâncio Filho relatando encontros entre Lima e Silva e o Secretário
da Educação e com Ademar de Barros. Segundo ele, com o Secretário estava a camarilha que aprisionava o Interventor
e que impediu fossem as decisões revistas. A única promessa de Barros fora
encaminhar os decretos, já em vigência, ao Conselho Nacional de Educação para
apreciá-los. Azevedo desabafou-se com Venâncio: “Ora, nada mais extravagante e
grosseiro! Depois de calcada aos pés toda a legislação federal, de
desrespeitados totalmente os Estatutos, de achincalhada a decisão federal que
os aprovou, vão bater às portas do Conselho para pedir a sua
aprovação.”(Azevedo apud PENNA, 1982, p. 124).
Em outubro, o
jornal A Noite publicou o parecer do
Conselho Nacional de Educação aprovando o parecer da Comissão de Legislação,
cujo relator foi Aníbal Freire (ALMEIDA JR., 1966). Este parecer tratava da
representação encaminhada por Fernando de Azevedo, Almeida Jr., Roldão Lopes de
Barros e Milton da Silva Rodrigues contra os Decretos estaduais n°s
9.255 e 9.256, de 22.06.1938 e n°. 9.269, de 25.06.1938. Também respondia ao
ofício do Interventor solicitando a apreciação, pelo CNE, da reforma realizada
na USP. Freire realçou o atentado à pedagogia moderna e o procedimento ilegal
do governo. Os decretos constituíam “flagrante e irretorquível infração dos
dispositivos legais vigentes”, já que o Conselho Universitário deveria ter
deliberado sobre o assunto, com 2/3 dos votos, sendo a decisão apenas
sancionada pelo governo.[4]
Representando o procedimento uma decisão
ilegal, seródia e inválida, propunha o parecer a suspensão da execução do
decreto estadual, devendo as decisões retomar o caminho previsto pela lei. Nada
foi feito.
O desfecho dessa
história deu-se com a aposentadoria compulsória de Fernando de Azevedo e Milton
Rodrigues, em 1938, sob a alegação de desrespeito à Constituição de 1937 e
subversão, ato de curta duração já que negociações entre Teixeira de Freitas e
o General José Pinto, do Conselho de Segurança Nacional, suspenderam-nas
(TOLEDO, 1995).
O Anuário da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP foi predestinado ao obituário:
“Considerando que a preparação do magistério secundário é um dos objetivos da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras” comunica-se que foi extinto o
Instituto de Educação da USP (Anuário da
Faculdade de Filosofia e Letras da USP - 1939/1949, v.I, 1953). Os despojos
- seus catedráticos - foram transferidos para aquela Faculdade. Finalizou o
cortejo fúnebre a criação da Seção de Educação - a quarta - no interior daquela
unidade.[5]
Como se buscou explicar o episódio
As condições
políticas e históricas em que esses acontecimentos se deram favoreceram o
desaparecimento da temática na literatura histórica da área educacional. Duas
obras - de Antunha (1974) e de Nadai (1991) - estudaram-na e construíram uma
explicação para o ocorrido. Para Antunha (1974) a variante paulista de universidade, ao constituir uma unidade para
os estudos desinteressados e outra para a formação pedagógica dos profissionais
da educação, criou para os primeiros a FFCL e para a segunda incorporou o
existente Instituto de Educação. Trouxera, assim, a estrutura híbrida que congregava escolas anexas e superior,
dificultando a apropriação do mesmo estatuto das outras escolas superiores
tradicionais, além do fato de que formar professores secundários não era
socialmente reconhecido à época. Azevedo teria deixado um flanco aberto à
crítica quando, ao elevar a formação do professor ao nível superior, admitiu
uma primeira geração de professores nomeados sem concurso público e sem
formação superior. Isto teria marcado o Instituto no seu nascimento levando a um
“desprestígio inicial dos estudos
educacionais”, agravado por seu caráter técnico.
É possível
argumentar contrariamente. Inicialmente, três Catedráticos foram nomeados sem
concurso, sendo os outros por concurso, com a presença do Conselho
Universitário. Dos três nomeados, um era Azevedo, Bacharel em Ciências Sociais
e Jurídicas, outro era Almeida Jr., médico, e o terceiro, Roldão Lopes de
Barros, normalista, como a maior parte do corpo docente do Instituto.
Entretanto, a geração que assumiu a formação do professor em nível
universitário publicava artigos em periódicos, livros, pesquisas, estudava no
exterior, utilizava literatura estrangeira, especialmente americana e francesa,
se submetia a concursos bastante exigentes e articulava-se às principais organizações
acadêmicas do período. Talvez Antunha tenha incorrido no procedimento de tomar
como critério de avaliação do Instituto o desprestígio da formação para o
magistério no momento de sua pesquisa. No período em estudo - décadas de 20 e
30 - a Escola Normal da Praça era responsável pela formação de alto nível dos
intelectuais da área educacional.
No tocante à
formação técnica, na legislação há ênfase nesse aspecto, mas ele não
correspondia à ausência de pesquisa e produção de conhecimento. Significava que
a unidade formaria profissionais, técnicos. Nos escritos de Azevedo, por
exemplo, a qualificação técnica estava lastreada na idéia de produção do saber,
mesmo não se concedendo ao Instituto a prerrogativa de conferir o título de
Doutor.
Com a
instauração do Estado Novo, em 1937, e a proposição de seu modelo de
universidade, a USP teria sido obrigada a promover adequações, especialmente
com relação à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Respondendo à
obrigação teria confirmado o desprestígio da área educacional, assimilando o
Instituto à FFCL e retirando o “qualificativo educacional” de cadeiras como
Estatística, Psicologia, Biologia e Sociologia.
Nadai atribuiu o
encerramento das atividades do IEUSP à sua incapacidade de impor-se, dado que
suas atribuições eram inversas àquelas presentes na sociedade. Para ela, “lutar
contra gerações dele impregnadas (espírito bacharelesco), representava resistir
à minimização ou mudança de qualquer proposta pedagógica que tivesse a intenção
de modificar aquele status quo”
(NADAI, 1991). Esta seria a explicação real, não aquela que vinculava o
fechamento do Instituto às exigências de adequação da USP ao modelo da
Faculdade Nacional de Filosofia. Proposto por Gustavo Capanema, então Ministro
da Educação e Saúde Pública do governo Getúlio Vargas, tal modelo seria
transformado em lei no ano de 1939, após, portanto, o fechamento do IEUSP, o
que forneceu elementos para a autora afirmar que as razões técnicas apontadas -
adequação ao modelo nacional - não se sustentavam.
Do arrazoado de
Ademar de Barros não se colhem elementos para sustentar as hipóteses de Antunha
e Nadai. Os motivos arrolados para o encerramento eram de natureza
administrativa, embora só o fossem aparentemente. Nadai reconheceu que houve a
interferência do interventor do Estado no sentido de atingir o grupo do jornal O Estado de S. Paulo, responsável pelo
projeto da USP, do qual Azevedo era um dos expoentes. Sua atitude atingia
diretamente a comunhão paulista, o
que demonstraria o peso maior do fator político sobre o técnico, no episódio.
Tanto Nadai
quanto Antunha sugerem a ausência de apoio interno a Azevedo. Conquanto se
possa concordar com a assertiva em termos gerais, há que se perguntar quais
motivos teriam levado a esse “desprestígio”. Cunha e Toledo fornecem pistas
interessantes para a resposta. Cunha viu na criação da “Faculdade de Educação”
e na FFCL a realização de “antigo projeto de Fernando de Azevedo para o ensino
superior”, colocando para a primeira a tarefa de “formar o professor para o
ensino secundário”, ficando com a segunda a dimensão de promoção da “cultura
livre e desinteressada”(CUNHA, 1980, 239).[6]
Esta configuração não impediu, no entanto, que “a força dos interesses dos
professores das escolas profissionais, temerosos de perderem poder com a
transferência de certas matérias para a nova faculdade, fizessem com que esta
se transformasse em mais uma escola profissional, fundindo-se com a Faculdade
de Educação na formação de professores para o ensino secundário” (Idem, p.
240).
Tais idéias colocam-se
do outro lado da questão. Não explica propriamente o encerramento do Instituto,
mas a transformação da FFCL em uma unidade de formação de professores
secundários afastada de sua vocação original. De fato, a Congregação do
Instituto, em dezembro de 1936, recebeu ofício, enviado pelo Secretário Geral
da USP, Murillo Mendes, solicitando que discutissem projeto de reorganização
dos cursos dos Institutos da universidade, tendo em vista a fusão de cadeiras,
em número de 15, comuns à FFCL, pertencentes à Faculdade de Direito, de
Farmácia e Odontologia, de Medicina Veterinária, de Ciências Econômicas e
Comerciais e Escola Politécnica (Ata das
Sessões da Congregação, 1933-19..). A Congregação aprovou unanimemente as
mudanças sugeridas por entender que cumpriam a vocação da FFCL - preparação cultural, livre e desinteressada
ou puramente científica - cabendo aos outros institutos um caráter exclusivamente profissional ou
técnico. Como estas unidades eram minoria no Conselho Universitário, sua
posição contrária às mudanças foi derrotada. Este pode ter sido um fator
agravante já que a concepção da FFCL estava bastante ligada ao nome de Azevedo
que, assumindo como sua a proposta, entendia a reorganização como economia,
concentrando alunos, professores e cursos, otimizando espaços e recursos
humanos e econômicos. As escolas atingidas lutaram contra a FFCL e suas
ramificações no sistema universitário. Tal situação foi descrita como das mais
difíceis em função da “resistência e hostilidade” à Faculdade mais visada pelas
“escolas superiores de formação profissional”.
Toledo concluiu
que o encerramento da experiência do IEUSP indicou a intenção do Estado,
naquele momento, de “esvaziar e submeter os projetos que se diferenciavam da
diretriz política” que vinha dando à educação(TOLEDO, 1995, p. 89). Teria,
então, estrategicamente, utilizado o novo padrão de universidade - a
Universidade do Brasil - para atingir politicamente seus adversários, já que
estavam à frente da “emboscada” o Secretário da Educação e Saúde Pública de São
Paulo, Mariano de Oliveira Wendel, e o diretor da FFCL, Alexandre Corrêa, ambos
católicos e membros do grupo que fazia oposição à comunhão paulista, assumidos por Azevedo como seus inimigos
confessos.
Se as
determinações legais de Capanema não estavam editadas, estavam em curso, e o
encerramento da Universidade do Distrito Federal e do IEUSP fizeram parte do
mesmo processo político. Dois fatos merecem atenção. De um lado, o governo
federal baixou uma portaria ministerial designando uma comissão para propor um
plano para a Universidade do Brasil, datada de julho de 1935. Em setembro, nova
portaria reorganizou a comissão.[7]
O primeiro zoneamento proposto para a cidade universitária previu uma Escola de
Educação e uma Escola de Filosofia, Ciências e Letras, ambas no Centro de
Filosofia, Ciências e Letras e Educação (SOUZA CAMPOS, 1946). Em 1936, do
primeiro projeto de construções continuavam constando a Faculdade de Educação e
a de Filosofia. O próprio Projeto da
Universidade do Brasil previa uma Faculdade Nacional de Educação e uma de
Filosofia, Ciências e Letras (Lei n. 452, de 5 de julho de 1937).
O segundo fato
refere-se à presença de Souza Campos na comissão acima referida, autor de
inúmeras obras sobre ensino superior no Brasil e sobre a USP. Além disso, participou
ativamente dos debates sobre o ensino superior nas décadas de 20 e 30. Tendo
sido importante na criação da USP, foi indicado para escrever sua história,
porém parece estranho que sua obra omita a unidade dedicada à educação naquela
universidade. Em sua História da Universidade de São Paulo, de 1954, o IEUSP não é parte
da história. Constituída em 1935, a comissão para tal contava com Azevedo e
Souza Campos. Mais tarde, foi constituído o Escritório Técnico para construção
da cidade universitária, sendo Souza Campos seu Diretor Geral. Em 1936, a
unidade relativa à educação não constava mais dos planos de construção ((SCHWARTZMAN
E OUTROS, 1984, Nota 40, p.96-97). Souza
Campos também não se refere ao Instituto de
Educação em seu livro Educação
superior no Brasil, de 1940. Ao
discutir a década de 20 apresentou as propostas sobre universidade e Faculdade
de Educação mas, ao chegar nos anos 30, a Faculdade desapareceu. Não há
referências ao IEUSP nem à Escola de Educação do Distrito Federal, criada por
Anísio Teixeira. A obra referida, de 600 páginas, resultou de um discurso que
iria proferir para os licenciandos da FFCL em 1938, isto é, para os egressos do
IEUSP. Isto agrava o fato da omissão do Instituto, já que aqueles formandos só
podiam estar se licenciando porque passaram pela formação pedagógica no IEUSP.[8] A conclusão a que se pode chegar é que
acontecimentos políticos ocorridos entre 1936 e 1938 redefiniram a posição do
governo federal e a estrutura de poder na área educacional, gerando
repercussões no Estado que culminaram com o encerramento do IEUSP.
Ao rol das
aludidas questões “administrativas” liga-se a influência de católicos nos rumos
da política educacional do Estado Novo. Teve grande destaque nesse momento
Alceu de Amoroso Lima, conselheiro do Ministro da Educação, Gustavo Capanema. A
relação de confiança estabelecida entre os dois poderia ter levado ao fim do
Instituto como mecanismo não apenas de retaliação política a Azevedo, mas como
forma de subtrair-lhe o locus de onde
poderia fazer difundir suas idéias de escola pública laica, entre outras.
Azevedo ligava-se às forças contrárias a Barros e articulava um discurso que
dificultava a inserção do ideário católico na formação dos professores. O
fechamento do Instituto e a concomitante transferência de suas atribuições à
FFCL, sob a direção de um católico, poderia garantir a difusão da moral cristã,
como também um mercado que se afigurava fugidio diante da defesa da escola
pública gratuita e laica.
Em 4 de abril de
1939 foi criada a Faculdade Nacional de Filosofia, pelo Decreto-lei n° 1190,
modelo a ser seguido por todas as instituições do país. Para esta faculdade o
Ministro indicou Amoroso Lima, que não aceitou. Mesmo não aceitando o cargo, a
relação entre ambos era forte e pode ser compreendida no trecho que segue,
retirado de uma carta escrita por Capanema a Amoroso Lima: “Tudo que combinei
com você está na minha memória e nada deixará de ser cumprido. Nenhuma nomeação
se fará sem o seu prévio assentimento”( Capanema apud (SCHWARTZMAN E OUTROS,
1984, p. 218). Este era o grau de influência da Igreja sobre o Estado, ou pelo
menos sobre o Ministro da Educação. No entanto, nem sempre pôde o Ministro
realizar as ordens de Amoroso Lima, a despeito de toda a vigilância que exerceu
sobre ele, de tal modo que a Igreja acabou desistindo de dar a direção
ideológica ao Ensino Superior, optando por criar sua própria universidade.
Surge daí a primeira Pontifícia Universidade Católica, no Rio de Janeiro, em
1940.
O desenlace
verificado no caso do IEUSP, assim como no da UDF, em que militantes católicos
assumiram postos-chaves na USP e na direção da educação no Estado, permite
pensarmos que a Igreja Católica desejava exercer sua influência também no
interior do ensino superior público, já que detinha o monopólio do ensino
secundário, embora de modo problemático. Olhava para o ensino superior de modo
atento e nos anos 20 propôs como modelo desejável de universidade, para o
Brasil, o católico (Inquérito..., 1929). Indícios importantes sobre esta possibilidade estão
em uma carta de Fernando de Azevedo a Venâncio Filho, datada de 26 de junho de
1938. Assustado por não ter percebido as maquinações
realizadas durante meses, demonstra toda sua ira contra o fechamento do IEUSP: A portaria, a secretaria, as bibliotecas, contínuos
e serventes, com suas respectivas verbas de pessoal e de material, tudo foi
retirado do Instituto e deixado com a Escola Normal Modelo. Tal procedimento se
devera à camarilha desembestada, seus
desafetos e inimigos rancorosos que acabaram ocupando os postos ligados à
educação no Estado e na USP. Cita Alexandre Corrêa, que assumiu a direção da
FFCL, Alvares Cruz, na direção do Departamento de Educação do Estado, e
Francisco Azzi, na Direção Geral da Secretaria de Educação, todos militantes
católicos, acusados de fascistas por Azevedo (Azevedo apud PENNA, 1987, p.
121).
Almeida Jr.
relata o fato considerando Armando de Salles Oliveira clarividente quando
incorporou o Instituto de Educação à USP. No entanto, “em certo dia de julho de
1938, inesperadamente trazem os jornais a notícia de que o governo estadual
suprimira o Instituto de Educação. Seus professores universitários eram
despachados para a Faculdade de Filosofia, onde iriam constituir a Seção de
educação. O resto, isto é, os cursos de preparação e aplicação, permaneciam
onde estavam, destinados a servir de suporte à futura Escola Caetano de Campos.
[...] aniquilava-se a ambição de instituir-se em São Paulo um grande centro de
investigações biológicas, psicológicas, sociais e estatísticas aplicadas aos
diferentes ramos da Educação. Dava-se um passo para trás” (ALMEIDA JR., 1966,
p. 231-2).
O relato de
AZEVEDO é menos claro. O autor fala em linguagem cifrada, deixando vazar uma
crítica à Igreja Católica de modo pouco explícito. Referindo-se às iniciativas
dos renovadores em São Paulo, concluiu que “depois dessas e outras iniciativas,
pareceu declinar, no Brasil, a campanha de renovação escolar que se vinha
desenvolvendo com uma crescente intensidade havia mais de dez anos e que, como
sabemos, veio à hora, caindo como um fruto maduro da árvore do espírito moderno
e que, a seu turno, não cessou de dar frutos saborosos e amargos e muitas vezes
contraditórios. [...] Nada se havia tentado, no terreno das realizações, para
que esse movimento de conquista do espírito científico se fosse acentuando em
nossa pedagogia, e penetrasse todo o ensino, provocando no ensino superior,
como o mesmo espírito, as reformas que se empreenderam na educação fundamental
e popular, confiada ainda exclusivamente aos Estados. [...] o ensino superior,
de tipo profissional, velho de mais de um século, e o ensino secundário e
humanístico, de tradições trisseculares, opunham pelas suas tradições
intelectuais, uma resistência mais forte às inovações” (AZEVEDO, 1976, p.
184-7).
Sua análise
coloca sobre as forças atrasadas a responsabilidade pelo impedimento da
realização da universidade segundo os moldes científicos em que deveria
vigorar. No entanto, não há referência direta à influência que exerceram sobre
a decisão do governo estadual de extinguir o Instituto, além de não nominar
tais forças. Há apenas uma passagem em que Azevedo refere-se ao assunto: “Essas
duas universidades - a de São Paulo, cuja Faculdade de Educação (sem grifos no
original) foi extinta em 1938 e na qual a Faculdade de Filosofia esteve a ponto
de perecer à mingua de recursos (1938-1940) e a Universidade do Distrito
Federal, absorvida em 1938 pela Universidade do Brasil - tiveram a sua evolução
atropelada de dificuldades, em parte decorrentes da mentalidade utilitária e
profissional, ainda dominante no sistema de ensino superior, e em parte
resultantes do próprio “clima histórico” em que nasceram” (Idem, p. 188).
Finalmente,
explica o declínio do movimento escolanovista - e possivelmente a extinção da
UDF e do IEUSP - como resultado de lutas políticas que o colocavam sob a rubrica de ‘pensamentos perigosos’,
ignorando a necessidade da investigação científica original em nosso país.
Azevedo pareceu não se constranger em produzir uma explicação em que sobre ele
recaísse a responsabilidade fosse pela vitória, fosse pela derrota. Outros
elementos podem ser agregados, à guisa de exemplo, que o retiram do centro da
cena política e compõem as determinações que geraram o episódio. Poder-se-ia
pensar no caso de Lourenço Filho, que paulatinamente foi deixando clara sua
identidade com o estado getulista e com a Igreja Católica. Alguns
acontecimentos podem ser arrolados: seu apoio, em 1931, ao decreto federal que
assegurava o ensino religioso facultativo nas escolas públicas; sua participação
na abertura do Primeiro Congresso Católico de Educação, em São Paulo; sua
presença no escritório do plano da Universidade do Brasil, juntamente com os
católicos Leitão da Cunha e Souza Campos, entre outros fatos – que culminaram
com sua presença na direção do INEP, em 1938.[9]
O raciocínio até aqui
desenvolvido procurou reconstruir as razões que levaram ao aniquilamento, no
Brasil, de uma proposta de formação do magistério que não só a elevava ao nível
universitário como também a ela atribuía as capacidades para a produção do
conhecimento. Aliava-se a tal proposição a defesa inconteste do dever do Estado
para com a educação pública. Interesses que, de um modo ou outro, colidiram
tanto com os da Igreja quanto com os do governo getulista.
Uma terceira questão que me chamou a atenção diz respeito ao procedimento do Interventor Federal Ademar de Barros que não conseguiu elencar, entre seus argumentos para a extinção do Instituto, nenhum que fosse objetivo e expressasse de fato um problema a ser solucionado por essa via. A única razão pedagógica apresentada tinha um caráter pífio, ou seja, o Interventor aludiu ao fato de que o Instituto estava dificultando a formação do professor por tê-la posto no nível universitário. Evidentemente não se tratava de reduzi-la ao nível secundário - como de fato foi feito -, mas de acabar com a possibilidade de constituir o magistério a partir de marcos referenciais científicos e distante da tutela católica.
A
elevação dessa formação ao nível superior tinha um sentido de qualificação
profissional e de formação científica de alto nível. Também o fato de que
professores da rede de ensino podiam matricular-se nos cursos de
Aperfeiçoamento e de Administrador Escolar recebendo, para isso, uma bolsa de
estudos era uma outra solução importante para a formação do magistério, que
depois de anos de prática podia retornar à Universidade para novos estudos.
A
atitude do Interventor Federal revelou sua capacidade de lidar com as questões
educacionais e sua incapacidade cultural de dimensionar o projeto de formação
do professor que então se desenhava. Não se trata de lamentar que a história
tenha sido assim e não de outro modo, mas o que constitui e institucionaliza um
projeto educativo e não outro é a consciência civilizatória que aqueles que
detêm o poder de determiná-los e escolhê-los possuem. Ao que tudo indica o
Interventor Federal e aqueles que o apoiaram em suas atitudes partilharam da
construção de argumentos obscuros, impedindo que as razões para o encerramento
do IEUSP fossem conhecidas.
Este
episódio, violento primeiro contra a formação docente e depois contra a
Universidade, parece ter ocorrido com tranquilidade. É particularmente de
difícil compreensão a posição alheia do jornal O Estado de S.Paulo já que de Júlio Mesquita Filho, Salles Almeida
e Fernando de Azevedo havia partido a iniciativa da redação do decreto que
criou a USP; ademais Azevedo tinha sido o redator dos Estatutos da
Universidade. Em seus escritos Azevedo não faz qualquer referência às posições
defendidas pelo jornal. Considerando que o episódio foi denunciado e publicado
nos jornais do Rio de Janeiro, é possível concluir que envolvimentos políticos
entre a “comunhão paulista” e o Interventor Federal vinham ocorrendo naquele
momento. Quais relações e qual seu peso no encerramento do IEUSP é um problema
a ser verificado.
Em outra parte
dessa história restam pontos a serem discutidos. Entre eles ressalta o modo
pelo qual Azevedo elidiu, em seus escritos, informações concretas sobre a
instituição que fundou e dirigiu e que, por hipótese, poderia auxiliar os
mestres da contemporaneidade a mais bem conhecer sua trajetória acadêmica,
científica, profissional e política.
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VARGAS, G. Diário. São Paulo: Siciliano; Rio de
Janeiro: FGV, 2v. 1995.
* Professora do Departamento de Estudos Especializados em
Educação, Centro de Ciências da Educação, Universidade Federal de Santa
Catarina. Doutora em História e Filosofia da Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Endereço: Travessa Jasmim dos Poetas,
85. 88.630-110 – Praia do Campeche,
Florianópolis – SC. E-mail: olinda@brasilnet.net.
[1] Ademar Pereira de Barros foi Interventor Federal entre 26 de abril de 1938 e 10 de novembro de 1939. Depois de breve interregno, assumiu de 26 de novembro de 1939 a 5 de junho de 1941. VARGAS, 1995.
[2] Quando o Manifesto foi lançado, Corrêa teceu críticas veementes contra ele. Azevedo, em carta a Venâncio Filho, retrucou que “o artigo que o Alexandre Correa, um outro católico, apostólico, romano, de um sectarismo fanático, deixou sobre a mesa d’Estado, é uma peça inepta e grosseira, que se afina, com a de Tristão, pela sua nota de agressividade”. Azevedo apud PENNA, 1987.
[3] No mapa das
faltas e comparecimentos de junho de 1938 havia a seguinte observação: “Todos
os funcionários do Laboratório de Psicologia estiveram freqüentes até o dia 22,
data do Decreto nº.9.255, de 22 de junho de 1938, que transferiu para o
Departamento de Educação o mesmo Laboratório”. Boletim de freqüência. 1938. O referido decreto reorganizou a
Diretoria de Ensino, transformando-a em Departamento de Educação. O Laboratório
de Psicologia ficou, então, subordinado à Diretoria do Serviço de Orientação
Pedagógica, órgão daquele Departamento, inclusive o pessoal, o material e as
verbas consignadas em orçamento.
[4] Aníbal Freire refere-se ao artigo 14 do Decreto federal n°. 24.279, de 22.05.1934, que rezava: “Em qualquer universidade estadual equiparada, as modificações em seus estatutos, que obedecerão à legislação em vigor, só poderão ser efetivadas por proposta do Conselho Universitário e sanção do respectivo Governo, devendo ser ouvido o Conselho Nacional de Educação. E ao inciso V, do artigo 11, do mesmo decreto: Deliberar sobre modificações nos Estatutos da Universidade, a vigência das quais dependerá do voto de dois terços da totalidade dos membros do Conselho e da aprovação dos poderes superiores”.
[5] Alexandre Corrêa foi indicado para a direção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras; Alvares Cruz, para a do Departamento de Educação do Estado de São Paulo; Francisco Azzi, Diretor Geral da Secretaria de Educação (TOLEDO, 1995).
[6]A denominação Faculdade de Educação foi dada pelo autor a partir do uso feito por Azevedo, embora o nome oficial seja Instituto de Educação. Por outro lado, no organograma do IEUSP fica clara sua atribuição de formar professores para todos os graus do ensino, excluído o superior.
[7] Compunham a comissão Raul Leitão da Cunha, Juvenil da Rocha Vaz, Filadelfo de Azevedo, Inácio M. Azevedo do Amaral, Carneiro Felipe, Ernesto de Souza Campos, Coronel Newton Cavalcânti, Lourenço Filho, Antônio de Sá Pereira, José Flexa Ribeiro, Jônatas Serrano, Roquete Pinto, Luís Cantanhede de Carvalho Almeida e Paulo Everard Nunes Pires. Relatório do extinto escritório de plano da universidade do Brasil. 1944.
[8] Atividades do extinto escritório do plano da
universidade do Brasil. Relatório
apresentado ao Ex.mo. Sr. Ministro da Educação e Saúde, dr. Gustavo Capanema,
abrangendo o período de 1935 a 1944. 1946. Foi organizado um primeiro esboço
que contemplou um Centro de Filosofia, Ciências e Letras e de Educação. Nele
estavam a Escola de Filosofia, Ciências e Letras e a Escola de Educação, além
de um Instituto de Psicologia Experimental e um de Fonética (Atividades..., 1946, p.10) . Os estudos
e programas apresentados pelo Escritório da Universidade do Brasil, em 1937,
trouxeram a proposta de construção de um prédio para a Faculdade de Educação e
de um para a Faculdade de Filosofia e suas variantes ( Atividades..., 1946, p.27). Ao que tudo indica, no início do mês de
junho de 1939 ainda estava mantida a constituição das duas faculdades ou
escolas - Educação e Filosofia, Ciências e Letras. Contudo, no decorrer do mês,
ocorreram ajustamentos nos programas propostos pelo Escritório referentes às Escolas de Filosofia, Ciências
e Letras, e de Educação e Ciências Sociais, Políticas e Econômicas, assim como
para a Escola de Educação Física, criada pelo Decreto-lei n° 1.212, de 17 de abril de 1939. (Atividades..., 1946, p.34).
[9] De 17 a 25 de outubro de 1931, o Centro Dom Vital de São Paulo realizou na Cúria Metropolitana o 1º Congresso de Educação. Lourenço Filho, “leal e inteligente”, esteve na sessão inaugural e recebeu uma “Moção de Louvor” pelo decreto do ensino religioso facultativo. (A Ordem, 1931). Em carta dirigida a Frota Pessoa, Fernando de Azevedo refere-se ao Congresso Católico e à moção de aplauso a Lourenço Filho. Azevedo assim se expressou: “Não compreendo. Mas, como o Sr., lamento profundamente essa atitude que trairia aos interesses da educação. A laicidade da escola pública é uma conquista moderna, que consulta os próprios interesses da religião. Não querem, porém, compreendê-lo aqueles que dirigem esse movimento de reivindicações religiosas, reabrindo para questão que, no interesse geral, já estava inteiramente liquidada” (Azevedo apud PENNA, 1982, p.145-6).