EDUCAÇÃO PARA O POVO NOS PRIMÓRDIOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO

 

Manoel Nelito M. Nascimento[1]

FAM / PUC CAMPINAS

 

 

Este texto é resultado de estudos que venho realizando, tendo  como questão central o processo de escolarização e formação de trabalhadores nos primórdios da industrialização na região de Campinas-SP.  Observa-se na bibliografia a respeito da expansão da industrialização em São Paulo e a expansão escolar que este movimento aconteceu com certa similaridade. A questão que brota desta observação, nos induz a essa pesquisa, procurando investigar se ao longo do século XX o desenvolvimento da indústria foi o principal fator que provocou o desenvolvimento da educação escolar.

O tema da industrialização no estado de São Paulo e especificamente na região de Campinas tem sido objeto de importantes estudos[2], assim como, o processo de escolarização que se desenvolveu no período que cobre as três últimas décadas do século XIX e as três primeiras décadas do século XX.

O início da industrialização no estado de São Paulo aconteceu num contexto econômico com predominância da agricultura mercantil, tendo a produção e a exportação cafeeira, baseada na mão-de-obra escrava,  como principal atividade econômica. “Era uma sociedade agrária exportador, baseada na extensa propriedade territorial, na produção voltada para o mercado externo e na exploração da mão-de-obra escrava.” (FRANCO, 1990, p. 14)

O capital cafeeiro acumulado propiciou as condições para o surgimento da indústria, provocando um lento processo de formação de uma sociedade urbano-industrial e de uma burguesia no Brasil.

A dinâmica da economia cafeeira no estado de São Paulo pode ser dividida em quatro períodos distintos: 1º exploração escravista, com técnicas de cultivo e beneficiamento muito atrasadas, sistema de transporte precário e ineficiente que gerava grandes perdas da produção; 2º - no período de 1850/1870, ainda escravista, porém já introduzindo o trabalho livre. Já são utilizadas algumas técnicas mais modernas de cultivo e beneficiamento; 3º - predomínio da mão-de-obra livre, no regime de colonato. São implantadas as ferrovias e há a disseminação das máquinas de beneficiamento como importantes fatores de desenvolvimento econômico; 4º - o complexo cafeeiro capitalista a partir de 1886, tendo como elementos decisivos a expansão ferroviária, a disseminação nas fazendas do Oeste Paulista dos processos mecânicos de beneficiamento e a viabilização da imigração em grande escala.  (SEMEGHINI, 1991)

A abolição da escravatura gerou mudanças nas relações de trabalho e em seguida a na forma de governo com a passagem do regime imperial para o regime republicano. Em paralelo, ao processo de abolição foi incentivada a imigração, principalmente da Europa, já prevendo a necessidade de mão-de-obra substituta aos escravos.

Este período foi marcado pelas divergências de interesses políticos e econômicos entre os grupos ligados ao sistema agro-exportador e os que defendiam mudanças no modelo econômico que propiciassem a ampliação da produção nacional de bens de consumo e incentivassem a efetiva implantação da indústria no Brasil.

 

“... no curso das mudanças promovidas pelo surto da urbanização, ocorrido ainda no final do século XIX e desencadeado pela expansão do capital cafeeiro para o oeste paulista. Ao longo desse processo, o crescimento interno de um mercado capitalista e de formas de produção capitalista, que se irradiaram na economia urbano-comercial para a sua periferia agrária, promoveu a desagregação da economia de base escravista e das relações sociais que lhe eram peculiares.” (MORAES, 1990, 14)

 

As transformações nas relações de produção levam ao surgimento do trabalho judicialmente livre que provoca mudanças de caráter socioeconômico gerando novas demandas de educação. (MORAES, 1990, p. 15)

Foi em meio ao processo de constituição das novas condições políticas, econômicas e jurídicas que surgiu uma política educacional que atribui ao Estado a tarefa de educação dos homens para a vida democrática, capacitando-os também para o desempenho das atividades profissionais, formando-os tanto para a produção agrícola como para a nascente produção industrial.

“... coube a uma facção da classe dominante, ao seu núcleo republicano, identificada com os interesses do capital cafeeiro originário do oeste paulista, ser o portador de um projeto de mudança social, de construção de um novo padrão de sociabilidade condizente com o avanço das relações sociais capitalistas e portanto, de uma “nova escola”. “ (MORAES, 1990, p. 16)

 

A nova realidade econômica-social provocou debates sobre necessidade de dar educação para o povo, bem como houve aumento da procura por educação devido a percepção de que a educação abriria as possibilidades de um futuro melhor.

O processo de industrialização propiciou o crescimento acelerado da demanda social por escola, acompanhado de uma intensa mobilização das elites intelectuais em torno da reforma e da expansão do sistema educacional vigente.

A partir deste movimento articulado dos interesses dos capitalistas que investiam numa emergente industrialização do estado e a demanda por trabalhadores escolarizados, procuramos descrever neste texto o surgimento das primeiras escolas destinadas à escolarização e formação dos filhos dos trabalhadores, como sua realização “concreta”.

Para a elite que detinha o poder a industrialização consistia na atribuição à indústria de valores como progresso, emancipação econômica, independência política, democracia e civilização. Seus adeptos atribuíam à indústria a função de elevar o Brasil ao nível das nações civilizadas, pois ela permitiria ao país possuir os atributos próprios dos países da Europa e dos Estados Unidos. Só a indústria poderia resolver os problemas econômicos que afligiam o Brasil, pois só ela seria capaz de propiciar o desenvolvimento das forças produtivas, estabilizar a economia e levar o progresso a todas as regiões.

O ensino industrial era entendido pelos industrialistas como um poderoso instrumento para a solução da "questão social". Mesmo com a intensificação dos conflitos sociais, os industrialistas brasileiros diziam que o Estado deveria cogitar do ensino obrigatório antes mesmo de instituir leis sociais. Ao lado do esperado efeito moralizador sobre as classes pobres, o ensino industrial era tido como dotado de outras virtualidades corretivas.

A finalidade educacional das escolas de aprendizes artífices era a formação de operários e contramestres, através de ensino prático e conhecimentos técnicos necessários aos menores que pretendessem aprender um ofício em "oficinas de trabalho manual ou mecânico que forem mais convenientes e necessários ao estado em que funcionar a escola, consultadas, quando possível, as especialidades das indústrias locais".

 

“As iniciativas voltadas para o ensino de ofícios, tanto as do Estado quanto as de entidades privadas, eram legitimadas por ideologias que proclamavam ser a generalização desse tipo de ensino para os trabalhadores livres condição de: a) imprimir neles a motivação para o trabalho; b) evitar o desenvolvimentos de idéias contrárias à ordem política, que estava sendo contestada na  Europa; c) propiciar a instalação de fábricas que se beneficiariam da existência de uma oferta de força de trabalho qualificada, motivada e ordeira; e d) favorecer os próprios trabalhadores, que passariam a receber salários mais elevados.” (CUNHA, 2000, p. 4)

 

No estado de São Paulo, as primeiras escolas foram criadas para atender os filhos dos trabalhadores, na década de 1870.

O Seminário da Glória surge em 1871, como sucedâneo do caráter militar das instituições para meninos. 

O Instituto de Educandos Artífices foi criado em 1874, com a finalidade de “facilitar ao menino pobre e desvalido a sua educação industrial, impedindo assim que por falta dela se desviem do amor ao trabalho e se tornem maus e prejudiciais cidadãos.” (MORAES, 19)

Em 1875, a Sociedade Protetora da Infância Desvalida, mantida pelo Instituto Anna Rosa, tinha o objetivo de educar os meninos desvalidos.

O Liceu Salesiano de S. Paulo é criado em 1886,  para a instrução e profissionalização de órfãos e abandonados

Em 1877, é formada uma Colônia  Orfanológica na Fazenda S. Paulo das Cachoeiras (as colônias agrícolas para menores), que sem remuneração acolhiam meninos de 12 a 16 anos, “sendo os seus serviços de verdadeira aprendizagem levados em conta do ensino, alimento e roupa que receberão.”

Durante a década de 1870 a Maçonaria criou diversas aulas e escolas noturnas, em muitas das quais formaram bibliotecas e organizou palestras e debates de cunho político. Em 1874, começam a funcionar as aulas noturnas mantidas pelas lojas maçônicas de Mogi Mirim, Campinas e Araraquara. Estas aulas pretendiam instruir não apenas os homens pobres de condição livre, mas também os escravos. Neste período foram criados outros cursos noturnos gratuitos em Tatuí, Sorocaba, Taubaté e Itu.

O editorial da Gazeta de Campinas de 23/12/1876 produzido pela Maçonaria mostra a importância dada à educação popular:

 

“... Não é somente a esmola que alimenta e cura; a ignorância é também uma doença, e essa doença para o pobre pode levar até a atrofia de todos os sentimentos pelos estragos com que ela invade a consciência sepultando entre as sombras fatais do erro e do vício os raios vividos do entendimento. É preciso levar-lhes o bálsamo da instrução e isso ainda é fazer uma grande esmola. ...A educação é a garantia da família: a família é a base da sociedade. ...Nós, que somos a grande família pela liberdade, buscamos assegurar no coração de todos os homens o convencimento dos seus direitos e dos seus deveres, a fim de eu possam ver na harmonia desses princípios o ideal eterno e absoluto da justiça”.  (FRANCO, 1990, p. 44)

 

Em 1883, foi criado em S. Paulo o Centro Positivista de São Paulo, que abriu um curso noturno gratuito para o proletariado.

A Sociedade Propagadora da instrução Popular foi criada em 1873, por obra de um grupo de representantes da sociedade paulista, para ministrar por meio de cursos noturnos e gratuitos os conhecimentos indispensáveis ao cidadão e ao operário.  Criada pelo “escol da sociedade paulista da época, de constitucional liberalismo” e “conduzida pela nova corrente do positivismo filosófico para a obra regeneradora de cultura e civilização” (FRANCO, 1990, p. 51)

A instrução popular é vista como a vacina civilizadora, o sagrado dever higiênico de que pende diretamente o destino das coletividades humanas.”(O Correio Paulistano, Editorial, “Sociedade Propagadora da instrução Popular”, 15/12/1873  citado em MORAES, 1990, p. 46)

 

A escola da Sociedade Propagadora tinha objetivos de preencher o vácuo da formação de um tipo de profissional cada vez mais requisitado por um mercado de trabalho que, com o desenvolvimento das atividades econômicas, tendia a crescer e a diversificar-se.

 

“..era necessário atender às demandas de trabalhadores mais informados sobre questões de agricultura, com as quais pudessem melhor contribuir para a produtividade agrícola – do café e de outras culturas; de mecânicos capazes de atuar nas oficinas das estradas de ferro, na manutenção das máquinas aqui construídas e especialmente adaptadas para as necessidades da lavoura (beneficiamento e ensacamento do café, enfardamento de algodão – por exemplo) ou daquelas importadas pelas primeiras fábricas têxteis. Além disso, o movimento de reprodução do capital cafeeiro, ao exigir e impulsionar o crescimento de outros setores, tais como a indústria de transportes e, com ele, o processo de urbanização, irá, por sua vez, provocar o desenvolvimento da indústria  de construção e a necessidade de mão-de-obra afeita às atividades ali desenvolvidas. É também possível supor que a fração dominante, numa época em que novas experiências com o trabalho imigrante começavam a se esboçar e seus esforços pela imigração subsidiada ainda não haviam frutificado estava interessada em constituir um mercado interno de trabalhadores, no qual se incluiriam também os nacionais livres e libertos”. 

 

Em 1882, a Escola da Sociedade Propagadora da Instrução Popular  passa a ser “Liceu de Artes e Ofícios de S. Paulo”. A ascensão do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo deu-se em 1896, já no regime republicano e federativo. Isso aconteceu dois anos após a inauguração da Escola Politécnica no estado, quando doações significativas foram feitas pelo governo paulista, na forma de subsídios financeiros e bens imóvel. (CUNHA, 2000)

Em 1900, um amplo prédio foi construído, permitindo a ampliação do número de alunos e a instalação de diversas oficinas. Em 1905, o Liceu compreendia: 6 classes para o ensino de primeiras letras, língua portuguesa, aritmética e noções de álgebra, de geometria e de contabilidade;  classes para o ensino de desenho com aplicações às artes e às indústrias; classe para o ensino de modelagem em barro, gesso, etc; 3 classes para a instrução profissional, abrangendo o corte e a sambladura[3] de madeiras para aplicação na carpintaria, marcenaria e ebanistaria[4], a talha de ornamentação em relevo sobre madeiras, a união e o curvamento de ferro para aplicação na calderaria, na forjaria e na serralheria.

As vagas que se abriam nas atividades especificamente escolares eram preenchidas ao início de cada semestre, mas, nas oficinas, a entrada podia acontecer em qualquer época do ano. O aluno era admitido numa oficina como aprendiz, recebendo as noções gerais sobre a tecnologia correspondente à especialização escolhida antes de sua admissão. O aprendiz era colocado ao lado de um operário adulto a quem começava por auxiliar, na expectativa de se tornar um artífice efetivo como ele. Recebia, de início, um pequeno salário, que ia aumentando até alcançar o de um trabalhador comum. As oficinas foram montadas como verdadeiros estabelecimentos industriais, com a contabilidade organizada à sua imagem. Para que os resultados financeiros não fossem negativos, procurava-se produzir mercadorias vendáveis, assim como se aceitava encomendas remuneradoras.

A articulação entre os professores da Escola Politécnica e os professores e dirigentes do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, que não tem similar em nenhum outro ponto do país, foi da maior importância para o surgimento do SENAI, já nos anos 40.

Uma medida inovadora trazida pelo regulamento de 1926 foi a industrialização das escolas de aprendizes artífices. Essa medida consistia em orientar a produção das oficinas para o mercado, cabendo aos alunos remuneração conforme seu trabalho, não por uma diária, como até então se fazia.

Na prática, a industrialização das escolas de aprendizes artífices consistia na aceitação pelos diretores de encomendas de órgãos públicos ou entidades privadas que forneciam a matéria prima e pagavam a mão de obra e outras despesas. Com os recursos recebidos, as escolas pagavam aos alunos pelo trabalho realizado e, aos contramestres, uma percentagem do resultado pelo trabalho fora das horas regulamentares. Previa-se que as escolas auferissem um lucro de 20% calculado sobre o custo da obra encomendada. Quando o vulto do empreendimento o justificasse, os diretores ficavam autorizados a contratar diaristas, de preferência ex-alunos.

Em Campinas, a exemplo da capital de S. Paulo, as principais iniciativas para a instalação de escolas para a formação de trabalhadores estiveram com as entidades filantrópicas e a Igreja.

A primeira escola profissional criada pelo Estado na cidade foi Instituto Profissional Bento Quirino inaugurado em 24/3/1927. Essa sendo, também, a primeira escola profissional mista no Estado.  A escola funcionava com cursos para os meninos nos ramos de construção civil, desenho, mecânico, pintura, tecelagem, chauffeurs, entre outros. Para as mulheres eram ofertados os cursos nos ramos da indústria têxtil, vestiário e alimentação. Os tipos de cursos ofertados estavam relacionados à própria estrutura diversificada da indústria da Região.

Apesar da importância que se dava à formação profissional, atribuía-se maior prestígio  ao ensino secundário, que às escolas primarias e à escola profissional.

As escolas secundárias do Estado, conhecidas como “Ginásio do Estado”, eram em pequeno número e tinham as características de atender aos estudantes de nível sócio-econômico privilegiado, nos quais tinham uma formação intelectualizada e humanista com vista ao ingresso no Ensino Superior.

Em Campinas, o Colégio “Culto à Ciência” fundado em 1874  pela elite da cidade para a ilustração e o preparo de futuros dirigentes. Em 1891, a sociedade mantenedora do colégio foi dissolvida e o patrimônio foi transferido inicialmente para a municipalidade e posteriormente para o Estado. Pela Lei nº 284, de 14/2/1895 foi criado o Ginásio para o ensino secundário, científico e literário, na cidade de Campinas. Como “Ginásio do Estado” de Campinas, tornou-se uma escola de alto prestígio, pela qualidade do ensino, o rigor e a disciplina. A admissão era realizada por exames concorridos, para os quais existiam escolas particulares que faziam a preparação. Tornou-se uma escola de elites, que formou muitos políticos, profissionais liberais e outros profissionais importantes na sociedade.

A Escola Normal, apesar de ser profissionalizante, tinha grande prestígio, porque habilitava para o exercício de ocupações não-manuais, sem gerar as discriminações características do ensino profissional.

As grandes escolas particulares em Campinas, no inicio do século, destinavam-se à formação das elites e setores da classe média. Colégios como o “Liceu N. S. Auxiliadora e Ginásio Diocesano Santa Maria” no regime de internato atendiam aos filhos dos proprietários rurais. Para o  sexo feminino existia o “Colégio Sagrado Coração de Jesus” e o “Colégio Progresso Campineiro”. Os colégios no regime de externato e semi-externato eram considerados escolas de elites.

Na década de 1870, crianças e adultos, homens pobres livres e até mesmo escravos,  tinham aulas noturnas oferecidas pela Loja Maçônica Independência. Em 1918, a Loja Independência e Ordem mantinha duas escolas noturnas funcionando com curso primário e profissional de desenho e pintura.

Em 1897, foi inaugurado o Liceu de Artes e Ofícios de Campinas sob a responsabilidade da Congregação Salesiana. Concebido inicialmente para atender às crianças pobres e órfãs vitimas da epidemia de febre amarela.

Em 1901, funcionavam no Liceu de Artes e Ofícios de Campinas as oficinas de tipografia, encadernação, alfaiataria, carpintaria e sapataria.

 

“Por volta do ano de 1910 transferiu-se o ensino profissional do Liceu para o Externato São João, da mesma Ordem Salesiana e passou então a denominar-se “Liceu Nossa Senhora Auxiliadora”, funcionando como estabelecimento de ensino e de educação.” (MONOGRAFIA, p. 496)

 

Em 1927, o Liceu N. S. Auxiliadora tinha as mesmas garantias e privilégios da Academia de Comércio do Rio de Janeiro e da Escola Álvaro Penteado de São Paulo, e cumpria o programa integral de ensino secundário estabelecido pelo Governo Federal.

No Liceu funcionava uma escola agrícola (Escola Agrícola Campinas) com maquinário completo e tinha 80  hectares ocupados por diversas culturas intensivas.

O Externato São João dirigido pelos Salesianos tinha o propósito de assistir às crianças pobres, retirando os meninos pobres das ruas, e dando-lhes instrução básica e preparo profissional.

O Colégio São Benedito fundado em 1902, funcionou por 35 anos e oferecia o curso primário, comercial e secundário. O Colégio tinha como principal objetivo oferecer instrução às crianças negras. Essa escola era mantida pela Associação Protetora dos Brasileiros Pretos.

Outras escolas particulares foram criadas no período em estudo, principalmente pequenas escolas particulares semelhantes às escolas isoladas do Estado a cargo de um só professor. (ROSA, 1998)

O crescente número de escolas criadas no início do século XX  indica a grande demanda por educação na cidade de Campinas, decorrente principalmente do processo de industrialização e urbanização que acontecia.

Assim, considero que os acontecimentos articulados da expansão econômica baseada na produção e exportação de café; da abolição da escravatura; do crescente fluxo migratório no final do século XIX; dos anseios por mudanças políticas, que culminaram com o estabelecimento do regime Republicano; do paulatino processo de mudanças na base econômica do país, de um modelo agro-exportador para a industrialização, ainda que inicialmente precária; as transformações no modo de produção e nas relações de trabalho; o grande crescimento da população concentrada nas cidades gerando a transformação do perfil do país de rural para urbano. Estes fatores estão diretamente vinculados às mudanças na educação na virada dos séculos XIX para o XX, pelo processo de escolarização e a abertura dos grupos escolares para os trabalhadores e seus filhos, inicialmente propagado como salvador do controle civil e posteriormente como preparador da mão-de-obra para a indústria que se desenvolvia, embora tardiamente. 


Referências Bibliográficas

 

 

AURELIANO, L. M.  No limiar da industrialização  São Paulo: Brasiliense, 1981

CANO, W.  Raízes da concentração industrial em São Paulo, 2ª ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1981

CUNHA, L.A O ensino de ofícios nos primórdios da industrialização, Editora UNESP, Brasilia, DF: Flacso, 2000

___________ O ensino profissional na irradiação do industrialismo, Editora UNESP, Brasília, DF: Flacso, 2000A

FRANCO, M. S. de C. , Homens livres na ordem escravocrata  3ª ed. São Paulo: Kairos 1983

MONOGRAFIA Histórica de Campinas. Rio de Janeiro: IBGE, 1952

MORAES, C. S. V., A socialização da força de trabalho: instrução popular e qualificação profissional no Estado de São Paulo – 1873 a 1934. . São Paulo:  Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, 1990 

SEMEGHINI, U. C.  Do café à indústria: uma cidade e seu tempo  Campinas, SP: Ed. da Unicamp, 1991

SOUZA, R. F. de, O direito à educação: lutas populares pela escola em Campinas. Campinas: Editora da Unicamp, 1998

________________, A difusão da escola  primária em Campinas. In Memórias da Educação: Campinas (1850-1960) NASCIMENTO, T. A. Q. R.do [et al.] Campinas, SP: Editora da Unicamp, Centro de Memória – Unicamp, 1999

XAVIER, M. E. S. P., Capitalismo e escola no Brasil: a constituição do liberalismo em ideologia educacional e as reformas do ensino (1931-1961). Campinas, SP:  Papirus 1990

 



[1] Professor na Faculdade de Americana. – FAM e Mestre em Educação pela PUC - Campinas

[2] Os estudos consultados são  AURELIANO, 1981; MORAES, 1990; SEMEGHINI, 1991; CANO, 1981; CUNHA, 2000;  SOUZA, 1998, 1999.

[3] Sambladura,  ensambladura = ato ou efeito de reunir (peças de madeira); encaixar, embutir, entalhar

[4] Ebanistaria = trabalho com a madeira do ébano